Gosta deste blog? Então siga-me...

Também estamos no Facebook e Twitter

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Resultado do Passatempo 3000 Seguidores - Planeta Manuscrito


O vencedor escolhido pela editora foi:
Alexandra Guimarães
de Cascais

Com:

Que conhecemos nós?
Como construímos o saber e a memória?
Será que questionamos o suficiente?
Será que a verdade é, afinal, mentira?
Que factos se escondem por trás da verdade apresentada?
Com o livro “O Inspector da Pide Que Morreu Duas Vezes”
ficamos com uma ferramenta de conhecimento e memória futura.


Nota: Devido ao período de férias, este livro só será enviado a partir de 21 de Agosto.

Resultado do Passatempo 3000 Seguidores - Editorial Presença



O vencedor escolhido pela editora foi:
Sofia Alexandra Pereira do Carmo
de Lisboa

Com:

O vale dos cinco leões 
Fala-nos de traições 
De guerra e amor
Parece promissor

Gostaria de o ler
Gostaria de o "saborear" 
Na pele de espia viver
E por aí viajar 

Desde Paris ao Afeganistão 
Do ocidente ao oriente
Viver com emoção 
Uma história diferente. 

Resultado do Passatempo 3000 Seguidores - Clube do Autor


O vencedor escolhido pela editora foi:
Fátima Figueiredo
de Barcelos

com:

"Depois de ter colhido os grãos do teu desprezo, eu percebi...que a minha água em ti só vai produzir um café amargo."

----------


O vencedor escolhido pela editora foi:
Ana Cristina Gil Vieira
de Santiago do Cacém

Com:

Numa floresta muito escura
Já eu estive a acampar
Agora quero ir conhecer
A mulher do camarote 10
E nessa aventura me embrenhar.

----------



O vencedor escolhido pela editora foi:
Fabíola Valente Calvo
da Marinha Grande

Com:

A ilha das 4 estações,
Só pode criar ilusões!
Todos os sonhos são possíveis
E todos são plausíveis!
Todos procuram um novo rumo,
Ser feliz é o que todos querem em resumo!
Marta Coelho e o Clube do Autor,
Vão certamente prender o leitor!

Resultado do Passatempo 3000 Seguidores - Editora Vogais


O vencedor escolhido pela editora foi:
Alexandra Guimarães
de Cascais

com:

A História faz-se de gentes e de mundos,
acervo para preservar e partilhar e,
para os factos conhecer ou relembrar,
Este Dia na História vou querer ganhar.

sábado, 29 de julho de 2017

Na minha caixa de correio

  

  

  

  

  

 

Ofertas das editoras parceiras:
 - Terra de Espíritos, Bertrand Editora
- As Bruxas, Marcador. 
- História da Minha Mulher, Cavalo de Ferro
- Longevidade à la Carte, Jogos de Lógica e Respire, Arena.
Os restantes foram ganhos nos passatempos do JN. 

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Para os Mais Pequeninos: Senhora Mandona e Senhor Dorminhoco

 

Livros pequeninos com histórias engraçadas cheias de bonequitos patuscos mas cheios de virtudes e defeitos que vão fazer as delícias dos mais pequeninhos! Histórias perfeitas para serem contadas antes de irem dormir. Pequenas, divertidas e didáticas!

Ora vejam:






Para mais informacoes vejam Editorial Presenca aqui!

Cris

terça-feira, 25 de julho de 2017

A convidada escolhe: “Cão Velho entre Flores”

      A recente morte de Baptista-Bastos no passado mês de Maio levou-me a ler este seu livro ainda não lido, numa edição do Círculo de Leitores de 1993. Conhecia muitos dos seus escritos enquanto jornalista e a sua escrita que muito apreciava era frequente em manuais escolares de Língua Portuguesa, mas este livro continuava à espera do seu dia, na minha estante.
      Esta edição do Círculo de Leitores começa com uma carta para um Círculo de Amigos. Nela dá conta que começou a escrevê-lo em Agosto de 1968 numa tarde quente em Montes da Senhora, uma aldeia beirã, “despovoada de gente nova que emigrara e onde os velhos, estáticos e extáticos, pareciam incrustrados num retábulo…”. Como BB diz, as dez páginas iniciais demoraram perto de seis meses e foram escritas e reescritas por oito vezes. Só em 1972, em Sesimbra, deu o romance por concluído, tendo sido editado em Fevereiro de 1974 e esgotando duas edições até Abril do mesmo ano. Como a certa altura confessa “É um dos meus livros que mais amo.”
      O romance começa com o anúncio da guerra pelo avô do narrador. Que guerra? Desde logo se percebe que o narrador – o Manel – tem no avô materno a figura de referência e aquele momento do avô, sentado sobre as raízes expostas do grande carvalho junto ao palácio real, uma imagem recorrente da sua infância que irá recordar ao longo da vida. As diversas pessoas que constituem a sua família irão sendo apresentadas tendo em conta a valoração e apreciação que os olhos dum menino em crescimento fazem, sem esquecer o papel que têm os mais influentes e próximos naquilo que designamos por educação. O avô tinha o valor da dignidade como valor fundamental nos humanos o que o levava a gostar mais do genro do que do filho. Daí que, quando o avô faleceu o Manel comentou com o primo Mudo: “O nosso avô, lembras-te? O nosso avô era um cão velho entre flores. As flores é a valentia. Um homem deixa de ser um homem quando perde a valentia”.
      Todo o texto é sobre a solidão. Pela perda da mãe, pelo afastamento da família, pelo abandono e desinteresse do pai, pelas mentiras, pelos passeios prometidos e não feitos ao Jardim Colonial, pelos silêncios, pelas bebedeiras, pelas prostitutas. Essa solidão, essa tristeza percorre todas as personagens. E no final, quando a família se “reencontra” na casa dos tios e do Mudo para resolver um assunto de família – a intenção de pôr a velha avó no asilo – e a tia anuncia “Amanhã vai para o asilo e a gente, volta e meia, vai lá vê-la” ao contrário da cólera que se pressentia na reacção da avó, esta ergueu-se da cama e docemente apenas disse “Amanhã, já?”

Junho 2017
Almerinda Bento

segunda-feira, 24 de julho de 2017

"A Musa" de Jessie Burton

Não li o livro anterior desta autora (O Miniaturista) mas ouvi falar bem e, por isso, foi com muita curiosidade que peguei nesta obra. Gostei muito. De escrita fluída e fácil, este livro consegue fazer-nos sentir muito próximos dos personagens mesmo que os nossos "mundos" não sejam parecidos com os retratados. Acho que conseguir isso é obra de quem trata as palavras por "tu", com simplicidade mas com mestria. Gostava sinceramente de ter esse dom. 

Foi assim que visitei duas épocas distintas e dois espaços físicos também diferentes. As passagens entre eles dão-se suavemente mas deixando o leitor com vontade de regressar pois uma pitada de mistério faz surgir o efeito desejado: queremos conhecer rapidamente o que se passou, tanto no passado (1936 numa longinqua Espanha, nesse ano conturbado da História da Guerra Civil Espanhola) como no tempo em que é contada esta história (1967, em Londres). Como pano de ligação entre estes dois momentos temporais, um quadro alegadamente atribuido a um pintor. 

É um livro sobre duas mulheres que viveram em épocas temporais diferentes mas que foram ambas discriminadas pela sua condição. Olive sabe que ninguém a levaria a sério, não teria possibilidades de progressão nem tão pouco lhe seria atribuida a justa fama pela sua arte precisamente por ser mulher. Já em 1967, Odelle sofre alguma discriminação porque o tom da sua pele não é igual aos que a rodeiam.

Mistério, acção e romance q.b. Gostei especialmente do final. Sem o chamado "final feliz" e, talvez por isso mesmo, realista, consistente. Recomendo esta leitura. Livro para devorar.

Terminado a 18 de Julho de 2017

Estrelas: 5*

Sinopse
Londres, anos sessenta do século vinte: uma imigrante proveniente das Caraíbas trabalha numa galeria de arte onde surge um quadro perdido durante a Guerra Civil espanhola e envolto em segredos inexplicáveis. Quem terá pintado este quadro admirável que surgiu de parte nenhuma? A verdade acerca desta pintura remonta a 1936 e a uma grande casa rural em Espanha, onde Olive Schloss, filha de um abastado negociante de arte, acalenta ambições que os pais desconhecem. Por este frágil paraíso, na Andaluzia, passam o artista revolucionário Isaac Robles e a sua meia-irmã, Teresa. Ambos se insinuam no seio da família Schloss, com consequências inimagináveis e desastrosas... 

Para saber mais sobre este livro, consulte o site da Editorial Presença aqui.

Cris

domingo, 23 de julho de 2017

Ao Domingo com... Inês Pinheiro

Gosto de palavras, do encontro fortuito entre elas. Gosto de sonhar acordada, de inventar vidas diferentes. Gosto de viajar e de contar as histórias que encontro pelo caminho. Encontro sempre um certo fascínio no quotidiano dos outros, nas rotinas que são diferentes, nas coisas simples embelezadas pela singularidade de serem desiguais.

Quando, ainda na adolescência, acabei de ler Os Maias, disse para os meus botões: isto de escrever livros tem de ser uma coisa mágica, um dia tento escrever um. Como sou teimosa de nascença, tentei e escrevi.

A Última Viagem, o meu primogénito, é o culminar de uma caminhada longa, de um processo que me fez ver os valores essenciais virados do avesso. Fala de coisas reais, que aconteceram lá longe, comigo e com as crianças que são daqui, deste mundo, mas que não são dignas dos direitos de tantas outras.


O que vivi ficou a marinhar, cá dentro, durante muito tempo. Saiu em forma de romance, meio real, meio sonhado.

O retrato das pessoas do Bangladesh é feito por Maria Eduarda, que vai ver todos os seus valores postos em causa, quando lhe é feita a mais inesperada das propostas, depois de perder Pedro, o seu marido e parceiro num projeto de voluntariado único.

É um registo dramático, e não poderia ser de outra forma. Mas é também um registo de esperança, de amizade, e de muito amor.

Se tocar na alma de quem o lê, nem que seja por breves instantes, então já valeu a pena todo este caminho.

Inês Pinheiro

sábado, 22 de julho de 2017

Na minha caixa de correio

  

  

Pensa num Número foi comprado em 2a mão. 
Oferta de um amigo, Vinte e Zinco e Histórias Falsas.
Oferta da Coolbooks, A Última Viagem.
Os Desafios da Europa, um livro de contos. A minha amiga Márcia Balsas, do blogue Palneta Márcia, tem um conto publicado aqui! 

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Para os Mais Pequeninos: O Ladrão Misterioso


Com uma capa verdadeiramente enternecedora, creio que os mais pequenitos vão ficar embevecidos com este livrinho! A história é engraçada, com muita imaginação onde vão poder aprender alguns dados sobre a vida de coelhos traquinas e trapalhões!

Mas as imagens são realmente as minhas preferidas! Desenhos cheios de cor, bonecos repletos de expressão enchem estas páginas e vão fazer as delícias dos mais pequeninos... quer dizer, de todos, pois eu deliciei-me com os coelhitos e com as histórias que se podem inventar para além da história que nos é contada.

Vejam por vocês próprios:



 




Cris

quinta-feira, 20 de julho de 2017

A Escolha do Jorge: "O Leviatã"


Escrito no exílio francês, “O Leviatã” é uma das novelas mais significativas de Joseph Roth (1894-1939) que reflecte o espírito da cultura judaica enraizado naquele que foi o Império Austro-Húngaro. Herdeiro dessa mesma cultura e natural da Galícia Oriental, o próprio Joseph Roth é um dos autores que mais contribuiu para a transmissão de todo um universo cultural de referência da Europa Central e de Leste e que foi aniquilado com a ascensão do nazismo e consequente 2ª Guerra Mundial que vitimou mais de seis milhões de judeus na Europa.
A ideia de destino está presente nas obras de Joseph Roth à semelhança de todos os autores de origem judaica como se de certa forma se tratasse de uma garantia de cumprimento desse mesmo destino pela via do sofrimento e da dor. A doce melancolia que atravessa “O Leviatã” funciona como o prenúncio de uma tragédia anunciada, ainda que a título particular, mas que, em sentido lato, tem eco na conjuntura que se vivia na Europa, em 1934, quando a novela foi escrita. A vida comezinha de um judeu comerciante de corais é abalada de modo vertiginoso à semelhança da Europa que vê a sua paz comprometida com a subida de Hitler ao
poder.

“(…) Nissen Piczenik, o comerciante de corais, era um judeu ruivo, cuja barba de bode acobreada lembrava uma espécie de sargaço avermelhado e dava ao homem um aspecto surpreendente de um deus do mar. Era como se ele próprio criasse ou plantasse e colhesse os corais que comercializava. E tão forte era a relação da sua mercadoria com o seu aspecto que, na pequena cidade de Progrody, ninguém o chamava pelo seu nome, que com o tempo até foi esquecido, sendo conhecido simplesmente pela sua profissão. Dizia-se, por exemplo: vem aí o comerciante de corais – como se em todo o mundo, para além dele, não houvesse mais nenhum.” (pp. 26-27)

Parece-me ser a doçura destas palavras que caracterizam de certa forma a literatura judaica, a capacidade de fascinar os leitores que se identificam e maravilham com a literatura e também com este universo muito próprio capaz de inebriar a alma como se tratasse de um alimento cultural. O misticismo ou o carácter mágico impregnado nas palavras de Joseph Roth não deixa o leitor indiferente. A literatura, a boa literatura não só conduz à formação do leitor atento, mas deve também permitir a sua distracção, o gozar bons momentos que o permite sonhar e viajar no rio do tempo e dos sonhos e, neste caso em concreto, graças a uma cultura e um modo de vida muito específicos que perdeu o seu lugar na Europa.
Quem fica indiferente a excertos tão belos e que também nos transportam para a aventura?

“Todos os habitantes de Progrody e das redondezas estavam convictos que os corais eram animais vivos, cujo crescimento e comportamento debaixo dos mares eram vigiados pelo peixe primitivo Leviatã. Não se podia duvidar do facto, já que fora o próprio Nissen Piczenik que o contara.” (p. 29)

Mas a vida pacata de Nissen Piczenik está prestes a levar uma reviravolta. A chegada do húngaro Jenö Lakatos à região vai trazer consequências irreversíveis na medida em que vai introduzir corais falsos neste comércio. Seduzido pela riqueza fácil e rápida, Nissen Piczenik vai passar a alimentar-se de uma mentira que destruirá em pouco tempo o seu negócio e, no fundo, a si próprio.
É também este jogo da palavra fácil, da sedução, dos mitos e histórias que se criam em torno de pequenas e grandes mentiras que também tem o seu paralelismo com o eco fácil do nazismo que conduziu à ascensão de Hitler ao poder que teve como consequência, entre tantas, o extermínio dos judeus (holocausto) e a sua cultura como referência na Europa.
Quanto a Nissen Piczenik “que descanse lá em paz, junto do Leviatã, até ao advento do Messias.” (p. 75)

Texto da autoria de Jorge Navarro

quarta-feira, 19 de julho de 2017

"Tudo pela Minha Mãe" de Celina Lopes

      É pelas palavras de um menino de oito anos que nos é dada a conhecer esta história. São palavras infantis, mescladas com algumas que dificilmente se poderia incluir no vocabulário de uma criança com essa idade, que contêm uma sabedoria de vida que o sofrimento traz consigo. 
      Uma fuga, um caminho percorrido onde encontra amigos que lhe dão alento para o problema que o consome (e que nós julgamos conhecer) e o encontro, também, com desconhecidos que passam a ser amigos. Uma fuga, dizia, e um caminhar pela vida saboreando alegrias mas, sobretudo, aprendendo que a vida pode ser difícil mesmo para as crianças. Saber ultrapassar, saber viver com a perda. 
      Gostei do volte-face que a história dá. Do que pensamos conhecer mas que, de repente, se transforma em algo completamente diferente. Houve algumas expressões que, julgo, dificilmente poderiam sair da boca de uma criança mas que, no cômputo geral do discurso se desvaneceram para dar lugar a outras, essas sim, mais próprias de uma mente infantil. 
      Recomendo. Um livro que parece simples e que nos conta como o sofrimento pode ser ultrapassado com amor.

Terminado dia 14 de Julho de 2017

Estrelas: 4*

Sinopse
Pedro, um menino de oito anos, salta pela janela do quarto e fica na rua. Foge de quê? Nesta viagem sem destino, caminha pela aldeia e descobre o mundo inteiro. Não sabe grande coisa de coisa nenhuma, mas acaba por encontrar o sentido da vida. Encontra-o na história a preto e branco da Bruxa, na falta de dentes do louco Daniel que declama poemas de Alberto Caeiro, na carapaça partida de um caracol, no abraço apertado da Mariana que sabe ler os corações, no seu amigo Ricardo que quer ser agricultor, nas mãos sujas do Sr. Luís que não quer ir para o Lar, na Dona Madalena que se veste toda de preto e no Sr. Carlos que tem a alma em cinzas. 

O Pedro (que quando for grande quer ser o Super-Homem) foge de casa apenas com o seu relógio e um saco de biscoitos porque já não suporta a dor e a doença. A sua cabeça rapada desperta atenção e pena. Espera que a morte o esqueça. Sonha com o regresso aos braços da mãe. Terá tempo?

Tudo Pela Minha Mãe é uma comovente história de um filho que não se quer perder da mãe. Uma viagem real que quase parece uma fábula. O triunfo do amor contra a morte.

Cris

segunda-feira, 17 de julho de 2017

A Convidada escolhe: Cartas Vermelhas

      É um romance impressionante, baseado na história verdadeira de Carolina Loff da Fonseca, uma militante comunista com um percurso de vida cheio de aventuras, desafios e escolhas, algumas bem difíceis. Mais uma vez, Ana Cristina Silva surpreende pela extraordinária capacidade de retratar as suas personagens, de pôr quem a lê na pele dessas personagens, pela profundidade, verdade e sinceridade com que transmite os seus sentimentos.
      Desta feita, Carol uma mulher jovem e bonita que desde sempre soube olhar para as discriminações sociais como algo contra as quais era preciso lutar, para lhes pôr fim. As circunstâncias da vida levaram-na a abraçar os ideais da igualdade e da justiça e a ingressar no partido comunista. Mas a generosidade incondicional da sua militância que se prolongou por bastante tempo e que a levou ao maior sacrifício da sua vida – abandonar a filha em Moscovo com apenas quatro anos – foi esbarrando, no terreno e no contacto com os círculos do poder das elites comunistas, com a dura realidade. A descrição da imagem da militante forte e segura que esconde o seu drama pessoal, num ambiente em que a afirmação de sentimentos de receio ou de dúvida é sinal de fraqueza e por isso precisa ser reprimida; o sentido de responsabilidade e a força de um ideal de justiça para a humanidade que apaga o remorso e as necessidades individuais, os ideais que se sobrepõem à realidade e que não deixam ver com objectividade, tudo isto surge neste romance de Ana Cristina Silva.
      O afastamento entre Carol e a pequena Helena que se previa ser por um curto período acabou afinal por se prolongar por duas décadas. Ao longo desse período e por circunstâncias diversas que as foram afastando cada vez mais, se muitas vezes Carol sentia remorso por ter deixado a filha longe, outras tantas vezes o empenhamento e as responsabilidades apagavam esse remorso pelo abandono da filha numa escola em Moscovo. O reencontro entre as duas, marcado pela frieza e desconfiança de Helena, não mais criança mas já mulher, levará Carol a decidir tentar redimir-se aos olhos da filha, através da escrita romanceada da sua vida e actividade como militante. E é este o tema deste romance psicológico, muito rico.           Considero que é o drama do abandono de uma criança por uma mãe por apego a um ideal, embora dilacerada por contradições íntimas muito fortes, o centro deste romance. Ao invés, discordo da nota da editora na capa do livro – “A história de uma militante comunista que se apaixona por um inspector da PIDE” – por considerá-la redutora e apenas realçar um aspecto da vida desta militante que a fez cair em desgraça dentro do partido.
      No relato de “Cartas Vermelhas”, acompanhamos a vida de Carol que tem de alterar a sua identidade e assumir personalidades diversas adaptadas aos papéis que lhe são conferidos nas diferentes missões que lhe são atribuídas, o que faz com grande mestria. O mundo está em mudança e as qualidades que demonstrara na prisão onde teve a filha, levaram o partido comunista a dar-lhe a missão de tradutora em Moscovo onde o clima de suspeições e denúncias passa a ser normal; o Brasil sucumbe a uma ditadura militar e a derrota do PC do Brasil liderado por Carlos Luís Prestes é um duro golpe para o movimento comunista internacional; em Espanha é-lhe dada a missão de jornalista no período da Guerra Civil onde a luta entre as facções se mistura com a desumanização e a crueza da guerra. Carol vai depois para Portugal dominado pelo medo da delação exercida pela PVDE. Em Portugal, após um período de regresso à actividade partidária e à prisão, a sua ligação a um inspector da polícia política salazarista levou à sua expulsão do partido comunista. Entretanto, a guerra que abala toda a Europa torna cada vez mais difícil um reencontro entre mãe e filha!
      Este livro provoca muitas interrogações para as quais certamente há diferentes respostas. O que faz que seja possível deixar uma criança abandonada numa instituição para responder a um ideal maior de justiça para a humanidade? Como é possível que uma mulher com uma vivência tão rica, diversificada e extrema e com ideais tão fortes sucumba à sedução de um inimigo desses ideais? Será que nos dias de hoje tal seria possível?
      Creio que não. Mas este livro dá muito que pensar.

Julho 2017
Almerinda Bento