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terça-feira, 4 de agosto de 2015

A Convidada Escolhe: Portugal Pelo Mundo Disperso

«Portugal Pelo Mundo Disperso», obra constituída por 32 ensaios, coordenada por Teresa Cid, Teresa
F. A. Alves, Irene M. F. Blayer e Francisco C. Fagundes, não foi uma leitura corrida para mim, ao contrário fui lendo e apreciando. Embora o tema transversal seja o mesmo, a emigração portuguesa, o exílio ou na generalidade a diáspora, a diversidade das abordagens interessou-me bastante.
A paixão dos portugueses por conhecer novas gentes e novos destinos manifestou-se sempre e mais notoriamente a partir da expansão. A aventura, o procurar uma vida economicamente melhor, perseguições políticas ou religiosas e mais recentemente a procura de mais saber junto de instituições estrangeiras a fim de poderem ser alcançados objetivos que em Portugal não seria possível alcançar, são alguns dos motivos que levaram e levam os portugueses a sair da sua pátria.
Neste livro são estudadas várias levas migratórias, para vários destinos e em várias épocas, bem como os diversos modos como foram melhor ou pior conseguidas as adaptações, as influências levadas e adquiridas, os filmes que foram realizados e que se debruçaram sobre este tema, as festas dos emigrantes nas terras de destino e ainda as que lhes são proporcionadas em Portugal aquando das suas visitas. As esculturas existentes em Portugal dedicadas aos emigrantes são também alvo de estudo, bem como testemunhos artísticos, populares e jornalísticos dos portugueses dispersos. Saliento o estudo feito tendo como base o correio da Venezuela nomeadamente, nas «Cartas do Leitor» e «Histórias de Vida» onde se encontram registos de vivências de vida dos emigrantes naquele país.
O tema da emigração esteve sempre presente na literatura portuguesa. Interessaram-me muito, porque gosto de literatura, as abordagens e análises feitas por alguns ensaístas aos autores emigrados ou exilados, a análise da sua vivência, dos seus motivos e da sua obra e as semelhanças e as diferenças como aceitaram estar longe do seu país. José Rodrigues Miguéis, Jorge de Sena, Miguel Torga, Mário Henrique Leiria, Onésimo Teotónio Almeida e outros. A obra de João de Melo «Gente Feliz com Lágrimas» é revisitada na sua versão escrita e fílmica de Zeca Medeiros, porque "existem imagens de diáspora na obra", bem como «A Quinta Essência» (a crise de identidade de um macaense dividido entre duas culturas) de Agustina Bessa-Luís no ensaio Memórias de Macau.
Vários outros ensaios se dedicam a obras literárias, consideradas contributos para os estudos da diáspora portuguesa, independentemente do autor ser ou não português e da língua em que se exprime.
Um dos ensaios debruça-se e analisa quatro romances portugueses do último meio século, nos quais é dada voz a emigrantes portugueses em França, com personagens bilingues, que misturam as duas línguas e usam estrangeirismos no seu dia-a-dia. É muito interessante.
No ensaio que tem como alvo o romance «Lisbonne, Paris, Tôkyo: Jaime Baltasar Barbosa», de Brigitte Paulino-Neto, francesa, filha de pais há muito radicados em França, que a autora analisa com pormenor, a minha atenção foi chamada para a bifurcação cultural e tradição migratória portuguesa, próxima ou longínqua, para um povo sempre dividido entre os que ficam e os que partem, um presente com a memória do passado, confronto da atualidade com o histórico.
A literatura de Macau, por intermédio do livro em chinês, «As Alucinações de AO Ge» de Liao Zixin, que nascida no Camboja, fixou sua residência em Macau onde ainda reside, deu lugar a um ensaio, sendo a autora, segundo o ensaísta, fruto de uma certa diáspora. A narrativa em apreço foi publicada alguns meses antes da transição administrativa do território de Macau para a China, sendo as suas personagens chamadas de «macaenses-portugueses».
Dos descendentes dos primeiros emigrantes libaneses no Brasil nasceu uma literatura de ficção em língua portuguesa na qual se conjugam várias tradições e onde se nota também uma mistura de línguas, espelho da vivência real nas várias comunidades. Este tema foi abordado num dos ensaios.
O êxodo açoriano, recurso para vencer a miséria, cativou poetas, cronistas e ficcionistas. Dos seus autores se ocupa o ensaio "Emigrar os sonhos como se os tivesse".
A finalizar escritores e artistas que em diversos registos, dão testemunho da criatividade portuguesa pelo Portugal disperso.
Desta obra muito interessante ficou-me o que foi afirmado algures: a literatura de expressão ou inspiração portuguesas, indicia, muitas vezes, que não pertencemos a um único sítio mas sim a muitos lugares.

Textos de: Helder Macedo | Jorge Fazenda Lourenço | Maria Luísa Leal | Gilberta Pavão Nunes Rocha | Eduardo Ferreira | Maria Zina Gonçalves de Abreu | Mário T. Cabral | Maria Isabel João | Daniel Ribas | Tiago José Lemos Monteiro | Maria Beatriz Rocha-Trindade | Lélia Pereira da Silva Nunes | Maria Teresa Nascimento | Anabela Branco de Oliveira | Onésimo Teotónio Almeida | Ana Aguilar Franco | Paula Mendes Coelho | Isabel Maria Fernandes Alves | María Noguera Tajadura | Tania Martuscelli | Mónica Simas | Francisco Cota Fagundes | Isabelle Simões Marques | Jaime Baltasar Barbosa | Lourdes Câncio Martins | Gustavo Infante | Rosa Maria Sequeira | Álamo Oliveira | Ana Mafalda Leite | Brigitte Paulino-Neto | Eduardo Bettencourt Pinto | Fernanda Dias | Pedro Paixão

Maria Fernanda Pinto

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