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terça-feira, 13 de janeiro de 2015

A Convidada Escolhe: O Vento Assobiando nas Gruas

Lídia Jorge é uma escritora portuguesa que muito admiro. A forma como traça o perfil de Milene Leandro, a personagem central de "O Vento assobiando entre as Gruas" é de uma delicadeza e sensibilidade verdadeiramente tocantes.

A narrativa vai-nos sendo apresentada e desvendada ao longo de mais de quinhentas páginas e há um tom de tragédia ao longo de todo o livro pontuado por frases curtas do tipo "Nós só saberíamos depois" que deixam o/a leitor/a preso/a à narrativa desde a primeira página. A narrativa é feita num suspense, num remeter para a frente, para a urgência de desvendar o futuro, os segredos.

Considero que é uma obra extremamente bem elaborada, rigorosa, perfeita.

A história de uma fábrica – Fábrica Conservas Leandro 1908 – intimamente ligada à história da família Leandro é afinal o retrato de uma sociedade ao longo de décadas, o retrato de uma elite que governa os destinos das pessoas de uma região, que se sente no direito de fazer a seu bel prazer, desrespeitando direitos fundamentais e interferindo sempre que a sua "ordem" pré-estabelecida é de algum modo posta em causa. E por isso, não há qualquer pejo em anular e despersonalizar, se tal for condição de sobrevivência e de inatingibilidade da classe dominante. A ganânia, o poder, as classes sociais, o racismo, a fama, o sucesso, a corrupção, o choque de culturas são alguns dos ingredientes de que é feito este excelente romance de Lídia Jorge.

É também uma história de solidão e de amor solitário. Milene recorda constantemente um Verão especial em que ela e mais dois primos viveram um verão inesquecível. Agora que precisa de desabafar e que eles estão longe, faz longos telefonemas para o atendedor de chamadas do primo João Paulo que lá longe, no Massachusetts, nunca atende. É também com a empregada que partilha sentimentos e emoções e com quem estabelece um pacto de silêncio; é o destino dos seres invisíveis.

A numerosa família Mata vinda de Cabo Verde – a 3ª vaga – tem neste romance um papel igualmente relevante. Desde Felícia, mulher-chave em toda a família, forte, lutadora, incentivadora dos sonhos dos filhos, cujos sonhos a atormentam e são o presságio de algo de terrível que há-de acontecer, até à velha matriarca – Ana Mata – que tudo ouve e vê, mas não é ouvida nem compreendida pelos seus, pois o seu mundo continua lá bem longe na África natal. E depois os homens, cada um seguindo o seu destino e em que Antonino, o gruísta, acaba por ter também um papel fundamental na narrativa.

Parabéns Lídia Jorge pelas belas horas de leitura que nos proporciona.

Almerinda Bento

2 comentários:

  1. Muito interessante não conhecia este livro de contos do Franz Kafka certamente um livro para ler.

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  2. Franz Kafka? Não é um romance de Lídia Jorge!
    Almerinda

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