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quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A Escolha do Jorge: A Imensa Boca dessa Angústia e outras Histórias

"A Imensa Boca Dessa Angústia e outras histórias" foi o último livro publicado por Urbano Tavares Rodrigues (1923-2013) antes do seu falecimento.
Dividido em duas partes, uma primeira com alguns contos na verdadeira aceção da palavra e uma segunda parte composta por pequenas histórias relativamente curtas, chegando a ocupar em várias situações menos de uma página ou mesmo algumas linhas.
Em todo o caso, o tema central destas histórias é a angústia, algo que de algum modo é algo presente na sociedade ocidental anos ante a indefinição do futuro fruto de profundas transformações económicas verificadas nos últimos anos. Nalgumas histórias, a angústia tem claramente um fundamento objetivo, noutras situações é quase como um "modus vivendi" e que é condição de vida de cada um.
A maior parte dos contos ou das histórias ainda mais curtas não têm uma geografia própria à exceção de pelo menos dois contos em oposição à indefinição de espaço, podendo ser qualquer local de Portugal ou mesmo da Europa.
A insatisfação perante algo objetivo ou não é algo que marca profundamente estas histórias que com uma pitada de humor, Urbano Tavares Rodrigues não deixa de mexer na ferida de alguns dos problemas do mundo contemporâneo, criticando, desse modo, a forma de organização política, social e económica atual tentando, para o efeito, elevar o homem no que diz respeito à sua humanidade que tantas vezes é esquecida.
Assim, o autor se por um lado tece críticas à sociedade contemporânea, por outro amacia também a humanidade com pinceladas de esperança na tentativa de uma possível redenção que se poderá traduzir na obtenção da paz consigo mesma.
"A Imensa Boca Dessa Angústia" é um livro terno que nos adoça o espírito tornando um dia de trabalho mais feliz.
Excertos:
PEZINHOS DE LÃ
"Pezinhos de Lã era um menino muito louro e rosado, aparentemente doce mas que na verdade partia toda a louça da casa por espírito de destruição.
Uma menina sua vizinha, de grandes olhos verde-mar, é que se deu conta da sua malvadez e resolveu brindá-lo com uma chuva de pedra tão rude que o amansasse de vez.
Pezinhos de Lã aguentou, ficou ferido sem gravidade e percebeu que destruir era um caminho sem sentido.
Vou fazer o contrário: construir.
E assim Pezinhos de Lã, no seu modo quase silencioso de andar, construiu a cidade dos sonhos, onde todos comiam, bebiam e folgavam e se pareciam uns com os outros, irmãos da luz e da alegria." (p. 163)

OS COMANDANTES DO LUAR
"Surgiram apenas, como os vampiros, em noites de lua cheia, mas era bem diferente a sua atividade. Os comandantes do luar misturavam-se com os mais pobres dos pobres, levando-lhes sacos de pão mole, queijos e chouriços e garrafas de coca-cola. Abraçados a eles, secavam-lhes as lágrimas, faziam-nos por duas horas mágicos e príncipes da ilusão. Desistiram de lhes arranjar trabalho. Estavam já muito alquebrados e alheios à vida da utilidade. Então criaram com eles um coro que andava pelas ruas da amargura pregando a subversão total dos não-valores instituídos pelos grão-mestres do dinheiro, ou, mais explicitamente, dos malditos mercados, bancos, tiranos e companhia e a negregada hegemonia do euro.
Pum! Estoirou tudo." (p. 175)

Texto elaborado por Jorge Navarro

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