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domingo, 6 de maio de 2012

Ao Domingo com... Carla Soares



"Quantas pessoas serão capazes de falar de si próprias sem embaraço nenhum? Eu não. Não faço, infelizmente, parte desse grupo afortunado que não se enrola nas palavras à procura do que dizer. Não aprendi a fazê-lo, em quarenta anos de vida e e dezasseis de exposição permanente – sou professora, costumo dizer que trabalho “no palco".

Falemos então da escrita, que começou muito antes, muito muito antes, na leitura.

Numa caixa cheia de fotografias antigas há algumas de uma menina pequena, de livro debaixo do braço. Outras, ainda mais antigas, da mesma menina com um livro bem aberto à frente e a boca ainda mais aberta, a aprender nomes de animais. Vaaa-ca! Cããã-o! São assim antigos os livros na minha vida. Com o b-a-ba aprendido, passei a ler tudo, literatura infantil, clássicos, BDs velhas, sem critério senão o do meu desejo de palavras. Tanto desejo de palavras que brinquei com elas durante a adolescência, escrevendo coisas sem consequência. Tanto desejo que me formei nelas, em Literatura, e estudei os clássicos, Shakespeare e Byron, Walt Whitman e Melville, Camões e Pessoa... Agora, lendo por prazer, tenho muitos guilty pleasures. Acrescentei a imagem, outra forma de contar histórias, à minha formação, e estou a trilhar um caminho longo, porque trabalho, num doutoramento em História da Arte.

Escrever qualquer coisa que se pudesse ler, só depois de fazer-me professora, ter filhos, aprender o que era o mundo fora da minha bolha. A certo momento tive uma ideia, coisa vaga, quis saber se era capaz. Desse esforço saiu o meu primeiro livro de fantasia, que adoro mas continua na gaveta. Depois disso, nunca mais parei. Os mais que fui escrevendo continua na gaveta, à espera de tempo para uma revisão séria. Tudo precisa de revisão, nunca nada está pronto para mim, nunca está inteiramente bem. Noutro momento, com sorte, pode ser que algum ainda veja a luz do dia. Ou não. Alma Rebelde foi o meu primeiro romance de época. É uma história sobre uma jovem inconformada com a sua sorte, que acaba por ser surpreendida por ela. Sobre espectativas, sobre o desejo de liberdade e, claro, também sobre a possibilidade do amor. Sobre o que era esperado da mulher, socialmente, nessa época.

A editora anuncia uma escrita “suave e fluida”... espero que sim. Não acredito que, para ser boa, a escrita tenha que ser complexa e inacessível. A linguagem serve, afinal, a comunicação. Gosto que as palavras fluam, que sejam naturais. Tento que a minha escrita seja limpa, contida mas expressiva, e poética quando deve ser, que sirva as histórias e as personagens. As personagens são quase seres independentes, adoro ouvi-las falar, escrevo os diálogos com especial prazer. E gosto de vê-las crescer, tomar conta da história, levar-me por caminhos que nem sempre são os que, de início, previa para elas. Também Joana e Santiago me levaram por caminhos inesperados no Alma Rebelde.

Espero ter ainda muitas personagens e muitas histórias para passar para o papel – ou para o computador, que anda sempre comigo, não vá eu ter uns momentos livres. E gostaria que a leitura de pelo menos algumas dessas histórias desse, um dia, tanto prazer a alguém como eu tenho a escrevê-las! Fingers crossed!

Muito obrigada, Tempo Entre Os Meus Livros, e muito boas leituras!"

Carla M. Soares




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