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domingo, 25 de setembro de 2011

Ao Domingo com... Pedro Guilherme-Moreira

"O senhor Menezes é um tipógrafo em Espinho que
trabalha para a empresa da família há muitos anos. Quando o filho do
patrão lhe pediu para ser ele a fazer os primeiros cartões para o seu
tirocínio como advogado deu, como modelo, uns em que um tal José Pedro
unia o Aguiar ao Branco com um hífen. Ora, o José Pedro também os tem
separado no Bilhete de Identidade, mas como José Branco nada lhe dizia
e o pai e o irmão mais velho há muito usavam o Aguiar com o Branco,
mandou unir com cordel de hífen. O José Pedro foi a ministro, melhor
ainda, o José Pedro foi aos "Gato Fedorento esmiúçam os sufrágios",
que não dá pensão mas dá prestígio social. Ora, o bom do Pedro não
pediu ao tipógrafo para atar o Guilherme ao Moreira, mas o bom senhor
copiou pelo modelo e encaminhou meia grosa de cartões para a praia
onde morava o nosso herói. Quando viu, Pedro indignou-se. Quando olhou
sorriu. Depois gostou. Como Pedro Moreira é coisa que nunca lhe soara,
pois todos os primogénitos da família, há umas boas gerações, se
chamaram qualquercoisa Guilherme ou Guilherme qualquercoisa ficou
assim, Guilherme tracinho Moreira. Pois o Pedro Guilherme-Moreira já
usou Pedro Pedrosa. Tem um nome comprido no Bilhete de Identidade, que
em 2011 ainda não é do Cidadão nem do Cartão. Seis vocábulos. Um dia,
um professor de português a quem chamavam poeta maluco mas era Luís
Carlos e lhe deu nega por escrever bem, mandou os meninos levantar-se
e chapar o seu nome completo numa folha. Quando chegou a vez do Pedro,
e como a primeira linha tinha acabado e o próximo nome era Pedrosa,
começou a escrever este mesmo na segunda linha. Ora, Pedrosa começa
por Pedro e termina com mais um esse e um á. Quando o poeta maluco viu
um Pedro alinhado com outro Pedro, que ainda por cima era a mesma
pessoa, desferiu um tabefe sobre as faces rosadas dos dois que eram só
um. Pumba. Agora o Pedro Guilherme-Moreira, que já não usa Pedrosa,
gostava de reencontrar esse professor para medirem as mãos. E outras
coisas. O Pedro nasceu no final da década de sessenta no Porto. Viveu
nas Antas, aprendeu a andar de bicicleta dentro do pavilhão do Fê Cê
Pê e andou de colo para colo daquela equipa de futebol do Porto com o
Fonseca, Simões, Freitas, Murça, Gomes, etc, etc. O pai foi
internacional de voleibol pelo mesmo clube e contagiou a família toda.
O Pedro também foi voleibolista federado durante muitos anos, era um
ano mais velho que o Maia e do tamanho do Brenha, que é algo a rondar
dois metros, o que é bom para concertos ao vivo. Vejam o seu
desempenho brilhante nos anos oitenta, jogando pelo Colégio dos
Carvalhos, onde estudou, e tributário do Serafim Saudade, que ainda
estava por nascer (é o oito):

 É bisneto de escultor, neto de comerciantes,
filho de pintora e engenheiro.

Ora, o tracinho, como veio a ser carinhosamente
apelidado pelos seus colegas advogados, seguiu vida no trólei três,
como se sabe, como Torga, com quem nunca falou, mesmo habitando na
zona dos Olivais, perto do Dr Adolfo Rocha, ou Miguel. Formou-se em
Direito em Coimbra e exerce apaixonadamente há mais de quinze anos,
sendo que a paixão esmoreceu à custa de muita tibieza. Já vinha
escrevendo desde que oferecera aquela fábula à professora Laura, aos
sete anos, e nunca mais parou: poesia sempre, mas a prosa ainda não
estava bem. Nem aos vinte, nem aos trinta. E eis que um acidente grave
da prima Susana o fez obrigar-se, ao espelho, a terminar o livro sobre
a guerra civil estradal que levava sete páginas escritas em cinco
anos. Começou por volta dos trinta e cinco anos e nunca mais parou.
Até hoje. Hoje também não parou. Escreveu mais de mil páginas de
enfiada e experimentou todos os estilos, e tudo o que lia era bom para
rasgar a página, voar a página, mastigar, deglutir, cheirar. A prosa
passou a ser-lhe compulsiva, mas a poesia volta cada vez que termina
um livro, e enquanto não começa outro. Ser pai tem sido também um
projecto visceral e arrebatador, mas durante três anos nenhum poema se
veio colar ao seu bebé. Aos três anos, contudo, veio o


FILHO

A mão dele ainda cabe aberta

Na minha mão fechada.

No dia em que não couber,

vou em busca do abraço

que encerre em mim uma volta.

O olhos dele ainda brilham

nas frestas do olhar do pai.

No dia em que não brilharem,

buscarei em mim o véu

que lhe devolva o horizonte.

E os seus ouvidos vibram,

desaguando os meus passos.

No dia em que não vibrarem,

vou em busca do silêncio

que me deixe ouvir os seus.

Enfim, um dia, o meu filho,

não vai querer um beijo meu

à porta da sua escola.

Nesse dia, a ternura

que docemente traduz

a violência pura

do amor,

vai sentar-se na mão,

a mesma mão

que em si fechava a sua,

e descansar

sobre o seu ombro,

calada.

Se ao menos nesse dia ele deixasse

fechar sobre si o abraço...

Pedro Guilherme-Moreira

2003-07-30

E é homem de todas as mulheres mas de uma só, e não é
a mãe, é aquela com quem namora há vinte e cinco anos e que ama ao
Domingo.


Ao Domingo,
amo-te do outro lado da casa,
fico à escuta de joelhos
sob a manta escocesa


Ao Domingo,
amo-te por seres uma certeza

E podia contar mais, mas chega a manhã do
Mundo.

Aproximou-se assim:


Chegou assim:


E finalmente, em homenagem às mulheres, contou uma
parte da história assim:

Quando no dia 11 de Setembro o professor Marcelo
escolheu o livro do tracinho, o Pedro Guilherme-Moreira recolheu-se,
humilde, perante a certeza de que perto de dois milhões de pessoa
estavam a vê-lo naquele momento.

Então o Pedro Guilherme-Moreira soube que aquilo que
tinha decidido, nunca mais parar, era para levar avante, não por si,
mas pelos abnegados leitores que lhe têm enchido a alma.

Muito mais poderia dizer - ainda é, por exemplo,
investigador do Escultor Alves de Sousa -, mas deixa-vos com as duas
ligações que o definem no momento.
O blogue pessoal, "Ignorância", onde está toda a
poesia e muitos mais:

O blogue do livro "A manhã do mundo" - se encontrarem
um blogue de livro ainda mais completo do que este, avisem, que ele
pago a diferença:

E diz que foi uma honra escrever no blogue da
Cristina, e agora toca a sair e comprar livros:).

E manda abraços para eles e beijinhos para elas, o
Pedro Guilherme-More
ira"

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