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quarta-feira, 29 de junho de 2016

A Convidada Escolhe: Dora Bruder

"Dora Bruder", Patrick Modiano, 1997
Patrick Modiano é um autor francês que recebeu o prémio Nobel da Literatura em 2014. Neste livro o narrador e o autor aparentemente confundem-se e isso vai-se confirmando pela minúcia na descrição de alguns bairros da cidade de Paris onde decorre a acção e onde o autor nasceu, na data do nascimento de ambos – 1945 – e no facto de o primeiro livro escrito pelo narrador ter o mesmo título do primeiro livro escrito por Patrick Modiano – "La Place de l’Étoile".
É um livro relativamente pequeno, constituído por capítulos muito curtos. Tudo começa a partir de uma pequena notícia num Paris-Soir de Dezembro de 1941 que o narrador descobriu: uma rapariga de 15 anos, Dora Bruder havia desaparecido. O facto de o local onde ela vivia com os pais ser uma zona da cidade de Paris que o narrador conhecia bem e de que tinha recordações da infância aguçaram nele o desejo de tentar indagar o que teria acontecido a Dora Bruder. Tal como ele diz "é preciso tempo e paciência para fazer ressurgir à luz aquilo que foi apagado". Desde logo se percebe que as dificuldades, a burocracia são imensas, mas, sobretudo, que houve/há uma preocupação de quem é poder de apagar aquilo que é incómodo ou que nos envergonha como Humanidade.
O narrador/escritor é um "detective", um "arqueólogo" escavando, pesquisando para tentar responder às muitas perguntas que vai fazendo sobre Dora Bruder, sobre o seu desaparecimento e o seu paradeiro. São muitas as perguntas; são muitas as encruzilhadas; são muitas as dúvidas, mas também as coincidências. São recorrentes as expressões: Será que…? Talvez fosse… Como sabê-lo? Suponho que… Ignoro se… Nunca se virá a saber… Desconheço…
A partir de certa altura em que as pesquisas do narrador e os contactos vão sendo mais concretos, para além das características físicas e dos dados conhecidos através da pequena notícia do jornal, passamos a saber que Dora era uma rapariga judia independente, rebelde e amiga de sair e que em determinado período da sua adolescência os pais a haviam inscrito num colégio interno de onde fugiu em Dezembro de 1941. O/A leitor/a é convidado/a a acompanhar o narrador através de um roteiro que vai fazendo com as descobertas que vão desvendadndo o percurso de Dora e de outros judeus e judias que viveram o período da ocupação de Paris pelos nazis. As detenções arbitrárias porque não exibiam a estrela amarela, as condições aviltantes de encarceramento e de transferência de campo para campo até à viagem final a caminho de Auschwitz. Numa carta que uma das presas de vinte e nove anos escreveu à família, carta essa que foi atirada pela janela do comboio e que um ferroviário apanhou e pôs no correio lia-se : "Vou a caminho de um destino desconhecido, mas o comboio donde vos escrevo dirige-se para Leste: talvez a viagem seja longa…" E depois há outras cartas pungentes dirigidas aos Prefeitos, aos Directores e Chefes de Serviços dos Judeus em que se pedem informações e se pergunta pelo paradeiro de familiares há muito desaparecidos. Mas entretanto, sem mesmo se esperar e de forma inusitada pode-se ser confrontado com uma carta que nunca chegou ao destino, à venda numa das famosas livrarias dos cais do Sena!
Para além dos registos escritos que ainda subsistem e que são fundamentais para que a memória não se apague, há as fotografias das pessoas e dos locais, embora os locais não retenham as memórias de quem lá viveu ou tenham sido destruídos como aconteceu com os bairros que foram arrasados depois da guerra, como que por uma necessidade de impor a amnésia sobre o que ali se passou. "Aniquilara-se tudo para edificar uma espécie de aldeia suíça cuja neutralidade já não era possível pôr em dúvida." Afinal era preciso tornar tudo tão neutro, cinzento e asséptico quanto possível. E é clara a posição do autor de através da paciência e muita persistência trazer à luz e à actualidade aquilo que não pode ser esquecido.
Ao mesmo tempo que se segue uma pista em busca da jovem Dora Bruder que fugiu do internato mas que foi apanhada nas malhas dos ocupantes fascistas, o narrador revela-nos outros nomes de outras raparigas, de outras mulheres, de outros presos. E é exaustivo na sua identificação, como que lendo-nos o seu cartão de identidade: os nomes, as idades, os locais e datas de nascimento, a residência, a situação familiar, a origem. No entanto, mesmo conseguindo fazer-nos viver as aflições vividas por aquelas pessoas em resultado daquilo que foi capaz de investigar e descobrir, o narrador reconhece que foi incapaz de responder a muitas perguntas que formulou sobre Dora e sobre o período em que ela escolheu viver em liberdade desde que fugiu do internato até à altura da detenção pela Gestapo. Esse é o segredo de Dora Bruder, a reserva de intimidade que ninguém conseguiu violar: nem os ocupantes, nem o narrador, nem os/as leitores/as.
Um livro admirável, subtil e muito forte.

Almerinda Bento

terça-feira, 28 de junho de 2016

Passatempo 6º Aniversário / Suma de Letras

 

Para mais informações sobre o passatempo, clique aqui.

Passatempo 6º Aniversário / Marcador


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Passatempo 6º Aniversário / Bertrand


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Passatempo 6º Aniversário / Saída de Emergência


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Passatempo 6º Aniversário / Clube do Autor

 

 

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Passatempo 6º Aniversário / Guerra e Paz


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Passatempo 6º Aniversário / Porto Editora


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Passatempo 6º Aniversário / TopSeller


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Passatempo 6º Aniversário / Presença


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Passatempo 6º Aniversário / Manuscrito


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Passatempo 6º Aniversário / Planeta

 

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segunda-feira, 27 de junho de 2016

Passatempo - 6º Aniversário "O Tempo Entre os Meus Livros"


E já lá vão seis anos! Como passaram depressa! Dia 28 o blogue é pequenino...

Como não podia deixar de ser, O Tempo Entre os Meus Livros tem alguns livrinhos para vos oferecer. Um obrigado muito especial às editoras que se juntaram ao blogue e que muito gentilmente colaboraram ofertando alguns livros. São elas: Planeta, Manuscrito, Presença, TopSeller, Porto Editora, Guerra e Paz, Clube do Autor, Saída de Emergência, Bertrand e Marcador.

É fácil participar.
Só têm de enviar email para otempoentreosmeuslivros@gmail.com mencionando nome completo, morada e nick do seguidor do blogue. Só o podem fazer uma única vez.
Os diversos passatempos sairão ao longo do dia. O blogue e as editoras não se responsabilizam por qualquer extravio dos CTT aquando do envio dos livros. Só é permitida uma participação por pessoa/morada. Os vencedores serão contactados via e-mail.

Basta enviar um só mail para ficar habilitado a todos os passatempos!

O passatempo começa a 28 Junho e termina a 12 de Julho.

Embora não seja obrigatório, o blogue agradece a partilha no Facebook!

Os livros a que ficam habilitados são:

Planeta
  • A Sombra do Vento de Carlos Ruiz Zafón
  • O Apelo do Anjo de Guillaume Musso
Manuscrito
  • Cruz credo bate na madeira de Andreia Vale - 3 exemplares
Presença
  • Os Frutos do Vento de Tracy Chevalier
TopSeller
  • O Primeiro Marido de Laura Dave
Porto Editora
  • Para lá de Bagdad de Alberto S. Santos
Guerra e Paz
  • Só no escuro podes ver as estrelas de Cristina Boavida
Clube do Autor
  • Ouro Preto de Sérgio Luís de Carvalho
  • No calor da noite de Richard Castle
  • Planisfério pessoal de Gonçalo Cadilhe
  • Quando voltares para mim de Margarida Rebelo Pinto
Saída de Emergência
  • Os filhos de Salazar de António Breda de Carvalho
Bertrand
  • Receitas de vida para Melissa de Teresa Driscoll
Marcador
  • O Senado de Luís Corredoura
Suma de Letras
  • A Vida é fácil, não te preocupes de Agnès Martin-Lugand
  • A Livraria dos finais felizes de Katarina Bivald

Boa sorte e muito obrigada pela vossa presença aqui no blogue!

Cris

"Os Frutos do Vento" de Tracy Chevalier

Que bom é saborear um livro e, ao mesmo tempo, aprender. Mesmo sabendo tratar-se de uma história ficcionada apercebemo-nos que todo o contexto social, histórico e geográfico foi objecto de uma apurada pesquisa por parte da autora, resultando uma trama que nos parece verídica e, consequentemente, nos envolve por completo.

Uma família instala-se numa zona inóspita do Ohio e dedica-se ao cultivo dum pomar de macieiras, entre outras coisas. O solo e o clima não ajudam nesse processo e sofrem com toda uma série de intempéries que lhes atinge e destroi com frequência as plantações e, mais que isso, a vontade de continuar e permanecer em tal lugar. Essa rudeza que é palpável na humidade sentida, na lama que tudo suja, nas doenças que atingem a matar, no intenso calor ou no frio que lhes gela os movimentos, transforma as relações entre os membros da família e notando-se uma frieza nos seus sentimentos e no trato entre eles que fere o leitor, gelando-o também por vezes.

Os filhos são muitos mas a morte está ali constante, sempre presente. De dez, restam apenas cinco. Há um diferente, destaca-se entre eles. E é a história desse menino, que foge dessa terra e da tragédia que aí teve lugar, que vamos seguindo ao longo de páginas e páginas, que lemos com muito prazer. Aprendendo ao mesmo tempo, como referi.

Creio que o final é de somenos importância. O que gostei mais, muito mais, foi todo o desenrolar da história, todo seu desenvolvimento e sua caracteirzação espaço-temporal. Senti-me na história e nesse mundo tão distante que foi o desbravar de um território que hoje conhecemos como EUA. Foi isso que retive desta história e que vai ficar por muito tempo na minha memória.

Recomendo!

Terminado em 23 de Junho de 2016

Estrelas: 5*


Sinopse

Em 1838, a família Goodenough instala-se em Black Swamp, uma zona inóspita e remota do Ohio, onde cultiva um vasto pomar de maçãs para ter direito à terra. A vida naquele local é extremamente dura. James e Sadie Goodenough encontram formas distintas de enfrentar as adversidades: James limita-se a esperar que as suas diletas macieiras cresçam e deem frutos, enquanto Sadie passa os dias embriagada.
Nisto, uma discussão entre o casal tem uma consequência terrível no destino dos filhos. Em 1853, Robert, o filho mais novo, encontra-se a vaguear pela Califórnia em plena Febre do Ouro, incerto de que rumo dar à vida. Deve continuar a fugir do passado ou constituir família? A vida dos colonos americanos retratada num romance intenso onde a família é causa de sofrimento e alegria.

Para consultar mais informações sobre este livro, consulte o site da Presença, aqui.

sábado, 25 de junho de 2016

Na minha caixa de correio

   

  

  

Ofertas:
Dieta, Um Modo De Vida da Arena.
Entre os Céu e a Terra da Jacarandá.
Da Topseller, Um rapaz Muito Especial.
 Da Planeta, A Viúva.

Comprados:
Loja Cahs Converters: Os Pilares da Terra, vol. 1 (um dos primeiros livros de Follett que li e que adorei!) Primavera Adiada, A Imperatriz da Rússia e A Dançarina do Templo
Continente: Nem Acredito Que é Saudável e Super Alimentos.




sexta-feira, 24 de junho de 2016

Novidade Porto Editora

Victor e Macha
de Alona Kimhi
Victor, dúvida e duplicidade, e Macha, provocação e maldade, têm apenas 16 e 17 anos, mas há muito que conhecem as vicissitudes da vida. Emigrantes em Israel, regressados da Diáspora na antiga União Soviética nos anos setenta, a morte dos pais lançá-los-á numa roda-viva entre kibutz e internatos. Como corda esticada ao máximo, prestes a quebrar, irmão e irmã desenvolvem uma cumplicidade que, de tão intensa e ambivalente, pode ter consequências devastadoras.
Esta tensão familiar, que se completa com a avó, Catherine, nada fica a dever àquela que permeia a sociedade e cultura israelitas, onde os novos-imigrantes e aqueles nascidos no Estado de Israel encetam um débil equilíbrio. A tolerância mascara o ressentimento e a generosidade esconde o desprezo, num retrato cru de uma sociedade cada vez mais heterogénea mas que busca sem cessar um sentido de unidade.

Novidade Presença

GELADOS CASEIROS
de Linda Lomelino
Gelados Caseiros é um autêntico guia para tudo o que é doce, cremoso, frio, saboroso e caseiro. Os gelados de Linda Lomelino são tão atrativos e deliciosos que quase os sentimos a derreter na língua enquanto lemos cada receita. Aprenda a fazer gelados cremosos, sorvetes refrescantes e sobremesas geladas que são autênticas surpresas. Isto para não falar dos bolos gelados, dos floats, dos molhos, dos suspiros e das coberturas que coroam todas as outras iguarias.

Para obter mais informações sobre este livro, consulte o site da Editorial Presença aqui.

Novidades TopSeller

Um rapaz muito especial
de Monica Wood
Durante anos, o guitarrista Quinn Porter tem vivido em digressões, concerto atrás de concerto, ausente da vida da ex-mulher Belle e do filho de ambos, que vive obcecado pelos recordes do Guiness. Um acontecimento trágico na vida de Quinn vai levá-lo ao encontro de Ona, uma viúva de 104 anos que o filho costuma visitar.
Durante sete sábados, Quinn cuida do jardim de Ona. Entre outros segredos, descobre que o filho tentou convencer Ona a candidatar-se ao recorde de condutora mais velha do mundo. Na tentativa de compreender melhor o filho, Quinn forja uma amizade com Ona e descobre um rapaz afetuoso que nunca conheceu, aprendendo assim a olhar para toda a sua vida de uma outra forma.

Um ano para ser feliz
de Lori Nelson Spielman
A vida de Brett parece um sonho: tem um namorado irresistivelmente bonito, um loft espaçoso, um trabalho muito bem pago, e um grupo de amigas divertidas. Até que a sua mãe morre e deixa no testamento uma condição: para receber a sua parte da herança, Brett deve completar, em apenas um ano, uma lista de desejos e tarefas que escrevera quando era uma ingénua menina de catorze anos.
• Ter um filho, talvez dois 
• Arranjar um cão 
• Ir a Paris 
• Ser amiga da Carrie para sempre! 
• Ajudar os pobres 
• Comprar um cavalo 
• Apaixonar-me 
• Atuar ao vivo num palco supergrande 
• Ter uma boa relação com o meu pai 
• Ser uma grande professora!...

Brett, contudo, já tem 34 anos. Com relutância, ela embarca numa jornada emocionante para cumprir os seus sonhos de menina, acabando por repensar a sua vida e descobrir a felicidade.


Resultado do passatempo : O Livro dos Baltimore



E chegou a hora de conhecer o sortudo vencedor do livro que foi oferecido gentilmente pela Alfaguara: O Livro dos Baltimore!

Com 324 participações foi selecionado o n* 79 pertencente a:


- João Carlos Nunes de Leiria


Parabéns João! Espero que gostes do livro e que ele te proporcione bons momentos de leitura!

quarta-feira, 22 de junho de 2016

A Convidada Escolhe: Razões Para Viver

Este é um testemunho importante que resulta da coragem de um homem em partilhar a sua experiência com uma doença como a depressão e explorando soluções que devem ser adequadas a cada um como razões para viver.
Ler este livro foi opção quando a doença me tocou muito perto com um familiar chegado. Sabia bastante sobre o assunto porque infelizmente muitas são as pessoas com quem me cruzei ao longo dos tempos que sofriam deste flagelo. Algumas sabem-no e lutam bravamente contra, outras supõem que estão apenas infelizes afetadas por problemas banais, e outras ainda recusam encarar essa possibilidade por não serem malucos e não falam abertamente sobre o assunto mas apresentam sinais exteriores de risco.
Contudo este livro é mais abrangente porque nos faz encarar a vida e procurar tirar proveito dela realçando os aspectos positivos em que nos devemos focar, apreciar, sem ignorar o mundo em que vivemos e do qual fazemos parte em conjunto. Altos e baixos de quem sofre desta doença, como de qualquer existência.
Descobri que a leitura é um excelente terapia porque "cada livro é fruto de uma mente humana num determinado estado" e "alguém que procura alguma coisa" como o leitor procura dentro de si com provisões de esperança e confiança. Apesar da escrita desarmada e fluída não consegui ler este pequeno livro todo de uma só vez e retomei-o sempre que precisava de acomodar e reter a informação que me transmitia. Gratificante, sem duvida, mas realista e como tal inquietante com o muito que desvenda, e simultaneamente redentor e positivo, mesmo que sem falsas esperanças de curas milagrosas.

Vera Sopa

terça-feira, 21 de junho de 2016

A Convidada Escolhe: A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te

"A Ridícula Ideia de não voltar a ver-te", Rosa Montero, 2013
Um dos livros que comprei nesta Feira do Livro e o terceiro que leio desta autora madrilena nascida no mesmo ano em que nasci e por quem tenho muita empatia. A leitura de "A Ridícula Ideia de não voltar a ver-te" que é um livro fascinante e comovente reforçou essa proximidade afectiva e ideológica com Rosa Montero. Um daqueles livros que nos ajudam a reforçar a convicção da indispensabilidade da luta feminista qundo se anseia por um mundo mais justo e melhor para todos.
Logo no início, ela alerta que "este não é um livro sobre a morte". Em minha opinião é um livro sobre a forma de enfrentar o luto por uma morte de alguém muito querido, um exercício de superação das limitações da vida que só a arte e a literatura têm a capacidade de fazer. Ela cita Fernando Pessoa "A literatura, como a arte em geral, é a demonstração de que a vida não basta."
A vida literária e não só, está cheia de coincidências, um dos vários hashtags para que Rosa Montero nos remete ao longo do livro; foi no processo da doença de Pablo, marido de Rosa Montero, que lhe chegou às mãos o diário que Marie Curie escreveu ao longo do ano que se seguiu ao falecimento repentino de Pierre Curie. Assim, o centro desta obra de Rosa Montero é a personalidade extraordinária de Marie Curie (1867-1934). Rosa chama-a de "Mutante". Ela foi uma pioneira absoluta: a única mulher que recebeu dois prémios Nobel em áreas diferentes (Física e Química), a única mulher no Panteão dos Homens Ilustres em Paris, a primeira mulher a licenciar-se em Ciências na Sorbonne, a primeira mulher a doutorar-se em Ciências em França, a primeira mulher a leccionar na Sorbonne… uma polaca que lutou de forma ímpar contra inúmeras adversidades – dificuldades económicas, inveja da comunidade científica, estranheza da sociedade pelo seu pioneirismo, conciliação da intensa vida profissional e familiar, problemas de saúde, verdadeiro linchamento público pelo seu relacionamento com Paul Langevin – nunca aceitando assumir o papel de vítima, antes rompendo e fazendo um caminho impressionante numa "época em que às mulheres quase nada era permitido". Talvez por temperamento, certamente pela personalidade tenaz e pela sua postura face à vida e à sociedade, há em Marie Curie um desdenhar da sua feminilidade, pelo que nunca quis dar parte de fraca nem mesmo quando passava mal durante os períodos de gravidez, nunca fez referência aos problemas que teve de enfrentar por ser uma pioneira e única num mundo de homens nomeadamente quando foi candidata e quando recebeu o prémio Nobel, nem nunca associou os seus problemas de saúde e do marido aos trabalhos de investigação e de produção de rádio e de polónio. Quando o talento das mulheres tinha de ser escondido atrás de nomes masculinos ou elas tinham de se travestir de homens, sendo dados vários exemplos e até o caso da papisa Joana, e quando até ao século XX as mulheres não tinham saídas profissionais para além de operárias ou damas de companhia, como aceitar a ambição de uma mulher a querer ascender ao conhecimento e ter uma carreira? Daí ter sido alvo de campanhas sujas e ferozes contra ela, por inveja, por preconceito, porque se a ambição é natural num homem é impensável que possa ser assumida por mulheres! A culpa sim, ou o apagamento! Mas ambição não; não é coisa de mulheres!
Rosa Montero aproveita para nomear algumas cientistas e investigadoras que foram pioneiras, que abriram caminhos para grandes descobertas contemporâneas – Lise Meitner, Rosalind Franklin, Henrietta Swan Leavitt ou Jocelyn Bell - que mais tarde foram alvo de reconhecimento através da entrega dos "Nobel" a homens que, ou usurparam o trabalho delas ou nem sequer as nomearam quando receberam os galardões. O contrário do que aconteceu aquando da atribuição do primeiro Prémio Nobel da Física para Pierre Curie e Henri Becquerel pela descoberta do polónio e do rádio, que Pierre se recusou a receber caso o nome de Marie não fosse incluído. Um caso muito bicudo para a época que acabou com a inclusão do nome de Marie, mas com a atribuição do valor em dinheiro apenas aos dois homens, como se Marie não contasse! Coube a Pierre subir ao palco e fazer o discurso de agradecimento, tendo aproveitado para atribuir a Marie Curie todo o mérito pela descoberta. O palco para ele; o apagamento dela, sentada no meio da audiência. Talvez por isso a relação de laureados com o Nobel até 2011 seja de 786 homens para 44 mulheres. Quantas terão sido preteridas, esquecidas, apagadas?
Por fim, este belo livro, fruto de um profundo trabalho de investigação e consulta de documentos sobre a vida e obra de Marie Curie, é valorizado com diversas fotografias de Marie Curie, do marido Pierre Curie, das filhas Irène e Ève e também de outras personagens e lugares que Rosa Montero convoca ao longo da obra. Encerra com o diário de Marie Curie, um sentido e sofrido testemunho da ainda jovem cientista entre Abril de 1906 a Abril de 1907, de onde é retirada a frase escolhida por Rosa Montero para título deste livro.

Almerinda Bento

segunda-feira, 20 de junho de 2016

"As Raparigas Esquecidas" de Sara Blædel

Receber este exemplar de avanço foi uma surpresa tão boa que, estando prestes a partir para umas mini férias na Escócia, levei-o comigo juntamente com outro livro. Sim, porque não levar livros quando vou de férias é coisa que não me passa pela cabeça. Confesso que ainda não estou perdida de amores pelos e-readers, embora tenha um, cheio até mais não de obras que quero ler... Se tivesse de ir para fora por um largo tempo talvez optasse por levar comigo esse dispositivo. Para já, prefiro o livro em formato papel. Mas, como estava a contar, este exemplar foi passear um pouco por Glasgow, Edimburgo, Largs e Stirling.

É uma leitura que se faz rápida, sendo a personagem principal uma mulher polícia, Louise Riks, que investiga a morte de uma mulher desconhecida cujo cadáver apareceu numa floresta. A empatia que se cria logo nas primeiras páginas com a investigadora é grande, talvez porque percebamos de imediato que é uma mulher com um passado complexo, com fragilidades não resolvidas, tornando-a muito credível porque humana.

Acompanhamos lado a lado a sua investigação o que aumenta a empatia com essa personagem, a sua família e seus amigos. A trama evolui num crescendo que, embora espectável, é lido com muito prazer e suspence. Há sempre um pormenor que falta, uma ponta por desvendar. O final fica um pouco em aberto, no que concerne à história pessoal de Louise, ficando a curiosidade "ligada" para um próximo livro, o que achei inteligente.

Possuindo uma escrita fluida, a autora alia uma pitada de romance entre as personagens com a descrição de pormenores macabros, muito gráficos e até mórbidos ligados à investigação, conseguindo assim que leitores com diferentes gostos possam sentir interesse por esta leitura.
Um policial nórdico que vale a pena ler! Experimentem. Sai hoje dia 20!





Terminado em 18 de Junho de 2016

Estrelas: 4*+

Sinopse

Através de uma narrativa envolvente, vertiginosa e de forte impacto emocional, Sara Blædel não deixa o leitor descansar enquanto não chegar ao fim do livro.
Numa floresta da Dinamarca, um guarda-florestal encontra o corpo de uma mulher. Marcada por uma cicatriz no rosto, a sua identificação deveria ser fácil, mas ninguém comunicou o seu desaparecimento e não existem registos acerca desta mulher.
Passaram-se quatro dias e a agente da polícia Louise Rick, chefe do Departamento de Pessoas Desaparecidas, continua sem qualquer pista. É então que decide publicar uma fotografia da misteriosa mulher. Os resultados não tardam. Agnete Eskildsen telefona para Louise afirmando reconhecer a mulher da fotografia, identificando-a como sendo Lisemette, uma das «raparigas esquecidas» de Eliselund, antiga instituição estatal para doentes mentais onde trabalhara anos antes.
Mas, quando Louise consulta os arquivos de Eliselund, descobre segredos terríveis, e a investigação ganha contornos perturbadores à medida que novos crimes são cometidos na mesma floresta.

sábado, 18 de junho de 2016

Na minha caixa de correio

  
  



Oferta da Editorial Presença, Os Frutos do Vento.
A Memória da Chuva foi oferta da autora, Sandra freitas.
A Rapariga Que Sabia Demais, oferta da editora Nuvem de Tinta.
Ganhos do Clube dos Passatempos vieram Conheces Sancho?, Milagres do Céu e Violetas no Coração.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

A Escolha do Jorge: O Doutor Glas

Hjalmar Söderberg (1869–1941) chocou a Suécia com a publicação do romance "O Doutor Glas", em 1905, abordando temas que, de um modo geral, nunca tinham sido apresentados de uma forma tão explícita na literatura como se se tratassem dos temas mais corriqueiros do dia-a-dia.
"O Doutor Glas" chegou aos trinta anos e nunca teve qualquer relacionamento físico com uma mulher, em parte, devido a uma desilusão de amor em virtude de a sua amada ter morrido muito jovem e de forma inesperada. O amor que sentia por essa mulher impediu-o de experimentar novos relacionamentos e de vir a expor a sua nudez perante uma mulher que era algo que ansiava, mas que não conseguia concretizar porque não conseguia entregar-se completamente.
Profundamente citadino, "O Doutor Glas" era um apaixonado de Estocolmo que descreve não haver outro local na Suécia de então que o estimulasse tanto como a capital onde poderia passear, trabalhar, viver, ter momentos de lazer, nomeadamente a oferta a nível cultural, não esquecendo que era a cidade que mais beneficiava de comodidades a vários níveis.
Não tendo investido na sua carreira para além de médico de clínica geral, "O Doutor Glas" não deixava de assinar as revistas da especialidade mantendo-se actualizado cientificamente, preparando-se para novos desafios, assim como prestar os cuidados necessários perante os seus pacientes.
Sendo um solitário, "O Doutor Glas" tinha muito tempo para dedicar à introspecção, o que é visível em toda a obra que é um diário em que são registados não só os principais acontecimentos ao longo de um ano, assim como os seus pensamentos sobre os mais diversos assuntos.
A história começa quando "O Doutor Glas" recebe a visita inesperada da esposa do pastor que lhe solicita ajuda em virtude de ter um amante e de não conseguir relacionar-se sexualmente com o marido.
A partir daqui, "O Doutor Glas" embarca numa viagem alucinante passando a desenvolver afectos, também ele, pela esposa do pastor sem que seja correspondido ao longo do processo.
"O Doutor Glas" é uma obra que para além de questões relacionadas com adultério, amores não correspondidos, homicídio e emancipação feminina, também levanta questões ético-morais a outros níveis, nomeadamente o aborto e a eutanásia.
"O Doutor Glas" independentemente de ser a favor do aborto e da eutanásia, optou conscientemente por nunca praticar qualquer um destes actos, justificando-se que seria sempre preferível seguir os costumes, obedecendo à lei, ainda que naturalmente, tanto num caso como no outro, invariavelmente viriam a ser legislados por imposição da vontade humana, não havendo necessidade de vir a ser um mártir à conta das suas ideias, cumprindo-se sempre a lei vigente. Sobre estas questões, são várias as páginas em que se assiste a uma constante luta entre o querer e o dever prevalecendo o dever (a lei) por uma questão de consciência.
Esta obra de Hjalmar Söderberg publicada há mais de um século continua a questionar temas da sociedade contemporânea relativamente aos quais ainda não há preparação educacional e cultural em muitos países de modo a poder legislar-se sobre os assuntos em apreço.
Excertos:
"- Ganhei uma repulsa terrível pelo meu marido. (…) Não pela pessoa dele. (…) Foi sempre dedicado e bondoso comigo, e nunca me disse uma palavra desagradável. Mas causa-me uma repugnância medonha…
Não sei como exprimir-me. Aquilo que pensava pedir-lhe é muito fora do comum. E talvez não se adeque à sua ideia de justiça. Não sei o que pensa deste género de coisas. Mas há em si qualquer coisa que me inspira confiança, e não conheço ninguém mais que possa ajudar-me e a quem eu possa falar do assunto. O que lhe pergunto é se não poderia falar com o meu marido, doutor. Não poderia dizer-lhe que tenho uma doença, uma infecção no útero, e que ele terá, por isso, de se abster dos seus direitos, pelo menos por algum tempo?
Direitos. Passei a mão pela testa. Fico cego de furor, sempre que ouço a palavra usada nesse sentido. Deus do céu, que terá levado os cérebros humanos a terem a ideia de direitos e deveres a semelhante propósito?" (pp. 25-26)

"No que eu mais pensava, nessa altura, era na doença. Uma doença prolongada, incurável, repugnante. Eu que vi tanto já… Cancro, lúpus, cegueira, paralisia… São muitos os infelizes que vi aos quais teria administrado, sem o mínimo remorso, uma destas pílulas, não fora em mim, como noutras pessoas decentes, o interesse próprio e o respeito pela lei terem falado mais alto do que a compaixão. E, em contrapartida, não falta também o material humano inútil e desesperadamente estropiado que contribui para manter exercendo o meu ofício, sem corar sequer de cobrar os meus serviços.
Mas o costume é assim. É sempre prudente seguir o costume, e sobre questões que pessoalmente não nos afectem muito fundo, talvez o melhor seja segui-lo. Porque haveria eu de me tornar mártir em defesa de uma opinião que, mais tarde ou mais cedo, será a de toda a humanidade civilizada, mas que hoje é tida por criminosa?
Terá de chegar, e chegará, o dia em que o direito a morrer seja considerado muito mais importante e inalienável do que o direito a introduzir um boletim numa urna eleitoral. E quando os tempos estiverem maduros para esse dia, todo o doente incurável – e igualmente todo o «criminoso» – terá direito à assistência do médico, caso este aceite a libertação." (p. 71)
"Queremos ser amados; à falta de amor, queremos ser admirados; à falta de admiração, ser temidos; à falta de sermos temidos, odiados, desprezados. Queremos suscitar nos outros esta ou aquela espécie de sentimento. A alma tem horror ao vazio, e quer a todo o custo manter os seus contactos." (p. 73)

Texto da autoria de Jorge Navarro

quarta-feira, 15 de junho de 2016

"Um Homem Chamado Ove" de Fredrick Backman

Uma leitura muito simpática, que se faz com a medida certa de humor e seriedade. Ove não tem por que viver. Ē por isso uma pessoa intratável e intragável se o compararmos com algum alimento duro e difícil de digerir. A sua relação com a vizinhança que o cerca é difícil e nada harmoniosa. Quer que o deixem em paz mas as suas atitudes perante as regras que impõe aos outros é de uma intransigência a toda a prova.

Há uma razão para esse comportamento anti-social. E aos poucos vamos percebendo e até desculpando o seu feitio mal humorado. E é também aos poucos que Ove começa a criar laços que não deseja e já sorrimos quando, uma e outra vez, é impedido de atingir o seu objetivo: Ove não quer mais viver. Esse desejo de morrer "por fora" é uma constante no seu pensamento, já que deixou de viver "por dentro" há muito tempo. Esse suicídio cuidadosamente planeado é consecutivamente abortado pela intromissão dos seus vizinhos abelhudos... Momentos de muito humor contados de uma forma séria e que retratam assuntos actuais. 
 Foi o meu companheiro de
leitura na viagem das
mini férias que
tive nestes dias...

Um livro que nos fala da importãncia dos laços que devemos ter com aqueles que nos rodeiam, com os nossos vizinhos e com os nossos amigos, pois, muitas vezes, são eles que nos amparam nos momentos mais difíceis e complicados que a vida nos traz.

A escrita de Backman é objetiva mas divertida ao mesmo tempo. A descrição do feitio de Ove, com as suas "certezas" inquestionáveis, o seu feitio "torrão", leva o leitor a sorrir e a sentir uma grande empatia por um personagem que à primeira vista nada tem de simpático. Ove conquista-nos. Pelo seu carácter recto e até pela sua intransigência em relação aos outros. E isso é mérito da escrita do autor, estou certa disso.

Gostei e recomendo.


Terminado em12 de Junho de 2016

Estrelas: 4*+

Sinopse

À primeira vista, Ove é o homem mais rabugento do mundo. Sempre foi assim, mas piorou desde a morte da mulher, que ele adorava. Agora que foi despedido, Ove decide suicidar-se. Mal sabe ele as peripécias em que se vai meter. Um jovem casal recém-chegado destrói-lhe a caixa de correio, o seu amigo mais antigo está prestes a ser internado a contragosto num lar, e um gato vadio dá-se a conhecer.
Ove vê-se obrigado a adiar o fim para ajudar a resolver, muito contrariado, uma série de pequenas e grandes crises. Este livro simultaneamente hilariante e encantador fala-nos de amizades inesperadas e do impacto profundo que podemos ter na vida dos outros.

terça-feira, 14 de junho de 2016

A Convidada Escolhe: O Remorso de Baltazar Serapião

"o remorso de baltazar serapião", valter hugo mãe 2006
José Saramago começou por chamar "tsunami" a este livro e depois "uma revolução" no prefácio que corresponde às palavras que proferiu aquando da entrega do Prémio Literário José Saramago que foi atribuído em 2007 a "o remorso de baltazar serapião" .
Perturbador, sufocante, uma maldição foram as palavras que me ocorreram ao longo da leitura deste livro. É o terceiro que leio deste autor e é impossível ficar indiferente, se não mesmo chocada com a brutalidade que o perpassa, sendo que a violência sobre as mulheres é de tal forma, que quem o lê, pelo menos assim me aconteceu, oscila entre a vontade de acabar com a leitura ou chegar ao fim para ver se há mesmo remorso e se há uma esperança de que o ciclo absurdo de violência tenha um fim.
Não apenas a escolha de uma linguagem muito própria e da ausência de maiúsculas ou de sinais de pontuação para além do ponto e da vírgula nos lembram a escrita de Saramago, mas também a própria história aflitiva das mulheres deste livro me recordaram a maldição das personagens de "O Ensaio sobre a Cegueira", mas ao contrário deste em que há uma réstea de esperança, em "o remorso de baltazar serapião" não há sequer uma luz de esperança para as mulheres. E foi essa ausência de esperança que me levou a questionar e a tentar compreender a intenção do autor ao escrever este livro cruel sobre a condição das mulheres.
A história dos Sargas, a história de Ermesinda, de Brunilde, da Teresa Diaba, da mulher queimada, da mãe de Baltazar passa-se na longínqua (?) Idade Média, na chamada Idade das Trevas. Logo num dos primeiros capítulos, as mulheres são definidas como estando abaixo do nível dos animais, são burras, as suas vozes são perigosas, devem por isso estar caladas e ser seres de pouca fala, servindo apenas como parideiras e para responder às necessidades dos homens. "O amor era uma maldade dos homens, assim como um plano esperto para fazer com que as mulheres se abeirassem deles e se mantivessem ali sem outra lógica senão ficar." Há um fatalismo, uma naturalização do ódio às mulheres, um desenrolar sufocante da espiral de violência. E nos dias de hoje, em todo o mundo "civilizado" em que a ciência, o pensamento e os direitos evoluíram tanto, como podemos compreender que a bestialidade machista subsista e continue ainda a ser considerada aceitável e justificável a violência de género, o femicídio, muitas vezes com a "desculpa" do ciúme, do sentimento de posse ou do "desvio" por parte da mulher a comportamentos que a sociedade patriarcal em que vivemos considera desejáveis?
Não estando na posse da intenção do autor quando se lançou na criação deste livro, entendo-o como uma denúncia do machismo na sua forma mais tenebrosa como uma marca persistente da sociedade patriarcal, na Idade Média e nos dias de hoje. Apenas uma personagem masculina – o Teodolindo, amigo de Baltazar – por diversas vezes sai do padrão generalizado de violência e total desrespeito pela identidade das mulheres, dando conselhos a Baltazar sobre a forma de lidar com a mulher – Ermesinda – opondo-se aos maus tratos que lhe dava e que a iam desfigurando. Mas Baltazar não faz mais do que reproduzir com Ermesinda o mesmo que viu ao seu pai fazer com a mãe: estropiar, deixá-las sem voz.
Muito mais haveria a dizer sobre este livro perturbador, mas fico-me por esta nota. Recentemente, numa entrevista, Lídia Jorge disse que "a literatura serve para inquietar e despertar as pessoas para a realidade". Penso firmemente que foi essa a intenção de Valter Hugo Mãe com este livro terrível.
Almerinda Bento