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segunda-feira, 7 de março de 2016

"Chorei de Véspera" de Isabel Néry

Hå livros que nos tocam por variadíssimos motivos. São um conjunto de factores que fazem dele uma experiência positiva para quem lê mas, acredito, possa ser dolorosa para quem escreve. São linhas sofridas porque a escrita torna-se uma recordação dos momentos de dor, mas também, reconheço, uma catarse para o escritor.

Mexeu muito comigo o facto deste livro ser uma experiência pessoal da autora, que ninguém quer de todo experienciar, mas que queremos conhecer e que vivenciamos através da sua escrita. Uma ida às urgências, um diagnóstico mal feito, o voltar para casa, as dores continuadas e intensas, uma nova ida ao hospital, a morte ali tão perto. Os exames invasivos. Agulhas e agulhas. Que sentir? O que esperar? Como conviver de perto com um futuro que não sabemos futuro? Como recomeçar?

Uma experiência de vida depois de estar próxima da morte. Quase. Considerações sobre o que se sente, como se sente alguém que fica suspenso da vida cá de fora esperando diagnósticos e tratamentos.

Como subtítulo lemos "Ensaio sobre a morte, por amor à vida". Se é um ensaio, lê-se como um romance, se é um romance, vive-se como nosso. De rápida leitura, faz-nos pensar. Muito.

No final, quase a terminar, a explicação do título. Com todo o sentido lá bem colocado. Muito bom!

Não posso deixar de dar os parabéns à editora pela qualidade gráfica deste livro. Capa dura, papel amarelo, letra de bom tamanho.

Recomendo!

Terminado em 28 de Fevereiro de 2016

Estrelas: 5*

«Esta é a minha história. Nasci no dia 20 de abril de 1971, às 17 horas e dez minutos, e devia ter morrido no dia 10 de abril de 2009, às doze e trinta. Mas não morri. E preciso de vos contar porquê.» Começa assim o livro que nos conta a experiência de morte de alguém que esteve lá e voltou para contar, depois de um derrame cerebral. O azar trouxe-lhe uma médica negligente, com risco de vida multiplicado, e dor desnecessária. A sorte trouxe-lhe o regresso à vida. Mas, o que podemos fazer da vida quando um dia nos morremos e no outro voltamos? Tornar-nos mais sábios - e felizes - é talvez a única resposta possível. E sabedoria é coisa que vem com abundância à aproximação da morte.
Misto de ensaio e reportagem, escrito em ritmo de romance, este é um livro insurgente. Sem medo de fronteiras estilísticas, todas as formas lhe assentam, porque todas obedecem ao registo intimista, sem com isso esquecer os que melhor pensaram e descreveram a experiência de morte ao longo dos séculos. Tolstói, Sartre, Montaigne, Dostoiévski, Séneca, Foucault, Santo Agostinho, Miguel Real ou José Cardoso Pires são alguns dos que contribuíram para a reflexão que aqui se publica.
Com isso, passaram também a fazer parte de uma história real que nos obriga a refletir sobre o sistema de saúde, sobre a morte, mas mais ainda sobre a vida. Afinal, somos todos vivos provisórios. Mas a morte assim, tão juntinha a nós, também pode tornar-se a melhor amiga da vida.

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