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sábado, 31 de janeiro de 2015

Na minha caixa de correio

  

  



Oferta da Porto Editora o novo livro de Rosa Montero, A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te.
Também oferta, desta feita da Marcador o novo livro de Possidónio Cachapa, Viagem ao Coração dos Pássaros.
O meu obrigada a estas dias editoras!
Os restantes foram comprados com desconto na Wook, quase todos a 50%.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Novidade Porto Editora

Cavalo de Fogo – Gaza
de Florencia Bonelli
Matilde e Eliah voltam a separar-se. No Congo, as esperanças de uma vida em conjunto desvaneceram-se ao ritmo dos ciúmes e das circunstâncias hostis.
Matilde, cirurgiã pediátrica, refugia-se na sua paixão: o trabalho humanitário que leva a cabo para a organização Mãos Que Curam. 
O seu novo destino é a Faixa de Gaza, o território mais densamente povoado do mundo, onde a prioridade diária é a sobrevivência. 
Eliah, por seu lado, obriga-se a esquecer Matilde e a pôr fim à obsessão que o prende a ela.
Estará esta enorme paixão condenada a perecer nas ruínas de um mundo, também ele, em risco? Ou serão o amor, uma força mais poderosa do que todo o mal que os rodeia, e a vontade de ficarem juntos, contra tudo e contra todos, suficientes para unir Eliah e Matilde para sempre?

Novidade TOPSELLER


Novidade Quinta Essência

O Prazer
de Nicole Jordan
Jeremy Dare North, marquês de Wolverton, é um espião e um libertino. Frio e calculista, no passado tinha sido um jovem apaixonado, disposto a fugir e a deixar tudo pela sua amada. Mas a traição desta levou-o a alistar-se no exército e a fechar para sempre o seu coração.
Anos mais tarde, quando a traição ameaça a Coroa, Dare vê-se forçado a recrutar Julienne, o seu primeiro e único amor, para o ajudar a desmascarar um traidor mortífero.
Forçada a trair o único homem que amou, Julienne quer apenas esquecer a terna paixão que ambos conheceram em jovens. Porém, quando Dare anuncia publicamente que a tomará de novo como amante, ela responde ao desafio com um da sua autoria: fazer ajoelhar aquele homem arrogante.
O reencontro do casal desencadeará muitas paixões e um perigoso jogo de sedução. No final, juntos descobrirão o que Dare negou toda a sua vida: que não existe maior prazer que o verdadeiro amor.

Novidade Vogais


Novidade Marcador

Viagem ao Coração dos Pássaros
de Possidónio Cachapa
Um romance que nos remete para o universo único de uma personagem, a um tempo visionária e visceralmente ligada aos outros e à Natureza. 
VIAGEM AO CORAÇÃO DOS PÁSSAROS fala sobre as inclinações do mundo, do amor e do ser humano, que emerge das encostas húmidas e desconhecidas da paisagem madeirense, povoadas de personagens fantasmagóricas. 
Através de um conjunto de histórias imaginativas e poéticas somos confrontados com as principais questões que dominam desde sempre o pensamento humano.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

A Escolha do Jorge: Mal-entendidos em Moscovo

O ano editorial português começou em grande estilo com a recuperação de uma das obras de referência de Simone de Beauvoir (1908-1976) como "O Segundo Sexo", um livro emblemático no contexto do feminismo contemporâneo, que foi publicado em simultâneo com a novela "Mal-entendido em Moscovo" que será o pano de fundo do artigo desta semana.
Com uma mensagem que tem tanto de contemporâneo como de universal, "Mal-entendido em Moscovo" conta-nos a história de André e Nicole casados há já muitos anos e que agora, chegados aos 60 anos, e em situação de aposentação após uma carreira como professores, têm bastante tempo livre para se dedicarem a tarefas que lhes dão um prazer efetivo.
Passado em 1966, o casal francês aceita o convite para visitar a amiga Macha que reside em Moscovo, passando um mês naquela cidade, para assim rever as principais atrações turísticas com que tinham ficado deslumbrados três anos antes aquando da sua primeira visita à capital russa, aproveitando igualmente para conhecer outros recantos da cidade, além de outros pontos fulcrais do país, nomeadamente S. Petersburgo, Novgorod, entre outros locais de interesse.
A viagem que tinha tudo para ser um sucesso, acabou por vir a ter um sabor agridoce na medida em que foram várias as vezes que não conseguiram obter autorização para se deslocarem a determinados locais na sequência de limitações impostas aos turistas atendendo às questões relacionadas com a política de então assente na guerra fria. Por outro lado, o fascínio patente naquelas primeiras impressões que tiveram lugar na primeira viagem à cidade não se reflectiram três anos depois, na segunda visita ao país, não se verificando, pois, o factor novidade. Esta ausência de novidades e a distância do filho Philippe, prestes a casar, provoca o sentimento de saudade em Nicole que gere com alguma relutância o facto a decisão de o filho casar e sair de casa.
O casamento de Philippe que agora se avizinha provoca alguma instabilidade e nervosismo em Nicole que interpreta o facto de alguma forma como um sentimento de perda, tornando-se mais introspectiva no que respeita à relação que mantém com o seu marido André. Passados tantos anos de relação, Nicole é levada à conclusão de que o seu casamento não a satisfaz, não fazendo sentido manter o casamento só para não ficar sozinha. Por outro lado, Nicole também não sente a coragem suficiente de abandonar o barco na medida em que aquilo que sente por André, afinal, é sempre a garantia para não ter de o fazer.
As mentiras e omissões em que apanhou André nos últimos meses vão culminar numa situação de cansaço durante a viagem a Moscovo que esteve na iminência de ser prolongada, gerando um mal-entendido entre o casal que a dada altura é posto o próprio relacionamento em causa.
Assim como a viagem a um destino já conhecido deverá passar pela descoberta de novos pontos em concreto, também a relação de André e Nicole teve de passar por uma fase de reaproximação, balanço e redescoberta de modo a ser mantido o equilíbrio de ambas as partes com vista à felicidade conjunta sem danos de maior monta.
É precisamente nos momentos em que Nicole decide ficar sozinha, prescindindo de alguns passeios pela capital russa que a introspeção se torna nos melhores momentos desta novela na medida em que são pesados os prós e os contras da relação de André e Nicole cujo balanço realizado passa pelo facto de sermos falíveis enquanto seres humanos e que por vezes, nós próprios, temos tantas falhas e/ou limitações quanto a outra metade que não poucas vezes é criticada.
Em "Mal-entendido em Moscovo", Simone de Beauvoir traz em jeito de discussão algumas das suas principais linhas de força do seu pensamento colocando a mulher no centro da narrativa.
Há mal-entendidos que são verdadeiros luxos literários!

Excertos:
"Por um instante pensou: isto é um sonho, vou acordar, recuperar o meu corpo, tenho vinte anos. Não. Um adulto, uma pessoa de idade, quase um velho. Olhou para eles com uma certa inveja: porque já não sou um deles? Como é que isto pôde acontecer?" (p. 59)

"Quando somos jovens e temos pela frente uma ilusória eternidade, pulamos de um salto para o outro lado da estrada; mais tarde, deixamos de ter força para fazer face aos ditos custos imprevistos da História e consideramo-los muitíssimo elevados. Tinha confiado na História para justificar a sua vida: agora já não confiava." (pp. 67-68)

"Demasiado mimada pela mãe, ignorada pelo pai, guardava aquela ferida, a de ser mulher. A ideia de um dia ter de deitar-se por baixo de um homem revoltava-a. Graças à delicadeza de André, à sua ternura, reconciliara-se com o seu sexo. Aceitara alegremente o prazer. E, passados alguns anos, tinha mesmo desejado um filho, e sentiu-se realizada com a maternidade. Sim, era dele, e não de qualquer outro, que ela precisava. E ele, porque se apaixonara por ela quando, regra geral, devido à sua agressividade, ninguém gostava dela? Talvez o rigor e a severidade maternais que tanto o afetaram fossem simultaneamente necessários para ele e conseguira encontrá-los em Nicole. Tinha-o ajudado a tornar-se, bem ou mal, um adulto. Em todo o caso, sempre tivera a impressão de que nenhuma mulher lhe conviria tanto como ela. Estaria enganada? Pelo seu lado, ter-se-ia sentido mais realizada ao lado de outro? Questões inúteis. O único problema era saber o que restava deles hoje. Não fazia ideia." (p. 87)

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

"O Segredo do Meu Marido" de Liane Moriarty

Um livro que quando se lê as primeiras páginas já não se larga mais! E assim, num fim de semana, lá se foram as 450 páginas...

Com três personagens aparentemente banais, sem nada a uní-las e um segredo de peso que vai transformar suas vidas, a autora consegue, mesmo depois desse segredo ter sido revelado, continuar com uma trama envolvente. Um livro que nos fala sobre as complexas relações humanas, as escolhas e decisões que se tem de tomar, os erros que se cometem e suas repercussões, até onde se deve ir para proteger quem se ama...

Gostei particularmente do final. "E se...?" Uma obra que se continua a ler mesmo depois da última página terminar porque o epílogo vem precisamente alterar algumas questões da trama e foi precisamente isso que achei espetacular. Afinal, nem tudo é o que parece, pois não?

Estrelas: 5*

Terminado a 17 de Janeiro de 2015

Sinopse

A carta do marido dizia: "Para ler apenas após a minha morte."Mas ele estava vivo. E escondia um segredo aterrador.Cecilia encontrou a carta acidentalmente. Na penumbra do sótão, soube de imediato que não devia lê-la. Que devia devolvê-la ao seu esconderijo, fingir nunca a ter encontrado e respeitar a vontade do marido. Afinal amava John-Paul. Juntos, tinham três filhos e uma vida sem sobressaltos. Argumentos que de pouco serviram perante a sua curiosidade crescente. E quando começou a ler, o tempo parou. A confissão de John-Paul fulminou-a como um raio, dividindo a sua vida em dois: o antes e o depois da carta. Cecilia vai ficar agora perante uma escolha impossível.
Se o segredo do seu marido for revelado, tudo o que construíram será destruído. Mas o silêncio terá um efeito igualmente devastador. Porque há segredos com os quais não se pode viver…

sábado, 24 de janeiro de 2015

Na minha caixa de correio

  

  

Comprado no Continente com 50% de desconto, Maximum City, um livro que me atraiu pela sinopse e capa.
Oferta da Planeta, o último de David Safier, 28 Dias.
Comprado com um vale fanc, As Instruções da Pitonisa, o último desta teilogia.
Por 2 € cada, numa loja Cash Converters: O Último Patriarca, Naziran e O Inferno de Alice.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Convite Porto Editora

Novidade Estação Imaginária

A Segunda Vinda de Cristo à Terra 
de João Cerqueira 
Recorrendo ao humor, à ironia e ao sarcasmo, João Cerqueira apresenta um estilo único cuja qualidade lhe valeu a conquista de três prémios de literatura nos Estados Unidos e a tradução para inglês, italiano e espanhol."A Segunda Vinda de Cristo à Terra" aborda fenómenos de conflitualidade social e política que ocorrem no nosso país. De forma crua e inteligente, o autor conduz o leitor por uma história fascinante onde… no fim... é Portugal que acaba na cruz. 

Novidades Porto Editora

A ridícula ideia de não voltar a ver-te
de Rosa Montero
Quando Rosa Montero leu o diário que Marie Curie começou a escrever depois da morte do marido, sentiu que a história dessa mulher fascinante era também, de certo modo, a sua própria história.
Assim nasceu A ridícula ideia de não voltar a ver-te: uma narrativa a meio caminho entre a memória pessoal da autora e as memórias coletivas, ao mesmo tempo análise da nossa época e evocação de um percurso íntimo doloroso. São páginas que falam da superação da dor, das relações entre homens e mulheres, do esplendor do sexo, da morte e da vida, da ciência e da ignorância, da força salvadora da literatura e da sabedoria  dos que aprendem a gozar a existência em plenitude.

Um livro libérrimo e original, que nos devolve, inteira, a Rosa Montero de A Louca da Casa – talvez o mais famoso dos seus livros.

Dora Bruder
de Patrick Modiano
Anos atrás, o narrador depara-se com um anúncio publicado no Paris-Soir de 31 de dezembro de 1974: «Procura-se uma rapariga, Dora Bruder, de 15 anos...» 
Quem era Dora Bruder? Desde esse dia, o destino da jovem judia enredada nas malhas da ocupação nazi nunca mais o largou, obcecado que estava em reconstruir a sua história até aos momentos finais no campo de Auschwitz.

Este livro (como aliás, toda a obra do autor) é assim um combate contra o esquecimento, uma afirmação portentosa dos caminhos redentores da memória – contra tudo aquilo que nos macula e destrói. 
Com ele, Modiano escreveu porventura a sua melhor obra – e uma das mais notáveis da moderna literatura francesa.



Cavalo de Fogo – Gaza
de Florencia Bonelli
Matilde e Eliah voltam a separar-se. No Congo, as esperanças de uma vida em conjunto desvaneceram-se ao ritmo dos ciúmes e das circunstâncias hostis.
Matilde, cirurgiã pediátrica, refugia-se na sua paixão: o trabalho humanitário que leva a cabo para a organização Mãos Que Curam. 
O seu novo destino é a Faixa de Gaza, o território mais densamente povoado do mundo, onde a prioridade diária é a sobrevivência. 
Eliah, por seu lado, obriga-se a esquecer Matilde e a pôr fim à obsessão que o prende a ela.
Estará esta enorme paixão condenada a perecer nas ruínas de um mundo, também ele, em risco? Ou serão o amor, uma força mais poderosa do que todo o mal que os rodeia, e a vontade de ficarem juntos, contra tudo e contra todos, suficientes para unir Eliah e Matilde para sempre?

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A Escolha do Jorge: A Minha Luta

A atenção em torno da recente publicação de "A Minha Luta: A Morte do Pai" do norueguês Karl Ove Knausgård (n. 1968) tem transformado o livro no centro das atenções dos media e de muitos leitores atentos que aguardavam com expetativa a edição em língua portuguesa há cerca de pelo menos um ano.
O considerado "livro do momento" apelidado ou mesmo apresentado por muitos como "the next big thing" da literatura em geral (e não necessariamente nórdica) levantou inúmeras questões sobretudo no que respeita aos limites da literatura no tocante à sua dimensão ético-moral, fazendo-nos refletir sobre a relação entre o que é contado e o modo como é escrito.
Se partirmos do princípio que num livro cabem todo o género de histórias, isso não traz grandes questões na medida em que a literatura também tem e deve ter o entretenimento como uma das suas funções independentemente de as suas histórias serem mais ou menos verosímeis. Mas quando o livro que temos entre mãos retrata todo um conjunto de histórias de cariz autobiográfico, a atitude do leitor muda um pouco face à obra e ao autor face à exposição deste perante os seus leitores em variadíssimos pontos, situações, acontecimentos da sua vida. O caráter tendencialmente intimista que este género de obras adquire envolve o leitor, mais ou menos, face ao conteúdo dessa mesma exposição, como também em relação à forma como é concretizada essa mesma exposição.
Em situações recorrentes no tocante a obras de cariz autobiográfico, regra geral, o autor salvaguarda certos acontecimentos, pensamentos ou outras situações de modo a não se sentir comprometido perante o leitor, salvaguardando igualmente todos aqueles, familiares entre outros, pelas mesmas razões.
É precisamente este último ponto a questão nevrálgica do primeiro volume de seis de Karl Ove Knausgård que a Relógio d’Água começou a publicar no final de 2014. O autor norueguês decidiu pôr a nu toda a sua vida, bem como a dos seus familiares sem qualquer pudor, granjeando vários dissabores por parte de familiares envolvendo questões judiciais na tentativa de esta obra megalómana com mais de 3500 páginas (os seis volumes) não ser publicada.
"A força do tema e do estilo deve ser destruída para que a literatura possa existir. É a essa destruição que se chama ‘escrever’. Escrever relaciona-se mais com destruir do que com criar." (p. 171) Talvez seja este o lema ou o porta-estandarte do autor que nos apresenta uma obra que de algum modo funciona como uma espécie de terapia sem sofá ainda que se perceba claramente uma escavação sistemática nos calabouços da memória, trazendo à luz uma obra que é fruto da sua vida, das suas dificuldades e desafios perante a vida, no fundo "a minha luta" referindo-se à vida e parafraseando a senhora que tinha dificuldade em pronunciar os dês "viver é lixato!" (expressão utilizada frequentemente ao longo do livro).
Resta saber se o constante emprego da palavra destruição (ou da mesma família) se relaciona com a necessidade de o autor sentir necessidade de "destruir" todo e qualquer sentimento de repulsa, por vezes raiva que chegou a sentir em relação ao seu pai que tanto o expôs ao ridículo, humilhando-o com frequência desde tenra idade e durante a adolescência, dado que quando o seu pai morreu, foi levado a compreender que as lágrimas frequentes perante a perda constituíam ainda o elo afetivo ao seu pai quando tudo à sua volta seguia em linha com um certo alívio após a morte.
A morte do pai do autor associada ao elevado consumo de álcool leva Karl Ove Knausgård a refletir sobre o seu gosto também pela bebida, não em situações de extremo, de coma alcoólico, mas pelo gosto de sentir que perde o controlo das situações à sua volta, derrubando, de certa forma, os vários conceitos de tempo, agarrando-se continuamente ao momento presente. "Além disso, o meu estado piorava pelo mesmo motivo: porque a embriaguez não me causava problemas de sono ou de coordenação, continuava simplesmente a beber até chegar aos limites do vazio e do primitivo. Adorava aquilo, adorava aquela sensação, era a minha sensação favorita, mas que nunca levava a
nada de bom, e no dia seguinte, ou nos dias seguintes, associava-se tanto ao excesso como à
estupidez, algo que odiava profundamente. Porém, quando me encontrava naquele estado, o futuro não existia, nem o passado, apenas aquele momento, e era por isso que queria tanto estar nele, já que o meu mundo, em toda a sua insuportável banalidade, brilhava." (p. 342).
A narrativa torna-se tanto mais rica quando adquire o tom intimista e reflexivo patente no excerto anterior envolvendo o leitor num misto de excitação e melancolia dado que é precisamente nestes momentos em que o leitor é recordado uma vez mais de que este livro é sobre estas pessoas de carne e osso.
Regressando à questão dos limites da literatura ou à dimensão ético-moral da literatura, "A Minha Luta: A Morte do Pai" remete-nos para a pertinência das questões e/ou assuntos abordados, do mesmo modo que poderíamos questionar se numa obra que não tivesse este cariz autobiográfico, faria sentido o questionar esta mesma dimensão ético-moral.
Assim, a dado momento da narrativa, quando o autor Karl Ove e o seu irmão Yngve estão a preparar o funeral do seu pai durante a visita à sua avó, tomaram conhecimento que a avó, à semelhança do seu falecido pai, se encontrava completamente dependente do álcool; que tinha mantido uma relação
com o irmão do seu marido antes de se ter casado; que tendo sido uma das primeiras mulheres com
carta de condução nos anos 30 em Oslo tinha sido motorista particular de uma senhora com posses de quem se tinha aproveitado de dinheiro que que encontrava à mão de semear na casa onde vivia; que durante a guerra os avós tinham estabelecido algumas amizades entre os militares alemães chegando a visitá-los na Alemanha após a guerra; que agora, sendo mais idosa, tinha maus hábitos de higiene não conseguindo reter a urina, passando o odor para a roupa, entre outras histórias em particular.
Estas são algumas das questões com que o leitor é confrontado sem que deixe de questionar o sentido ou a razão de ser, a pertinência face ao exposto sem, contudo, deixar de refletir sobre o sentido ético-moral da literatura.
Moralismos à parte, estamos perante uma obra que suscita curiosidade sem ser propriamente pela via do simples vouyeirismo e não se tratando de uma obra exemplar, estamos perante um feito que prendeu a atenção dos media catapultando o autor norueguês para os palcos da ribalta do mundo dos livros, um pouco por todo o mundo.
De qualquer modo, trata-se de uma obra que em termos gerais tem mais para oferecer em matéria de reflexão do que uma parte considerável das obras publicadas ao longo do ano. A meu ver, não se tratando da "next big thing" da literatura atual atendendo à forma como a obra tem sido apresentada e empolada junto dos leitores tendo, pois, uma boa campanha de marketing, devo reconhecer que se trata de uma obra com inúmeros atributos que não defrauda no fim os leitores.

Excerto:
"Porque os seres humanos são apenas uma forma entre muitas outras formas, que o mundo expressa uma e outra vez, não apenas do que vive mas também do que não vive, desenhado em areia, pedra e água. E a morte, que sempre tinha considerado a mais importante dimensão da vida, obscura, atraente, não era mais do que um cano que rebenta, um ramo que o vento quebra, um casaco que escorrega do cabide e cai ao chão." (p. 377)

Texto da autoria de Jorge Navarro

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

"O Meu Irmão" de Afonso Reis Cabral

Fiquei em estado de choque com esta leitura! Aliás, ainda estou... Confesso que já tinha conversado com algumas amigas da Roda dos Livros que, sem desvendarem a trama, me fizeram esperar qualquer coisa de "esquisito", mas nada me preparou para o final escolhido pelo autor. Terrível e inesperado! Talvez um pouco sem esperança num mundo melhor, acho! O que não impede que este livro esteja escrito irrepreensivelmente!

A história é-nos contada na primeira pessoa, por um homem com cerca de 40 anos. Fala-nos da sua vida, alternando entre um passado e um presente que sentimos/adivinhamos diferente e conflituoso. A sua personalidade roça a esquizofrenia, e vai alternando entre um amor (que nos parece fingido ou pelo menos com um carácter doentio, obsessivo) sentido pelo irmão mais novo, portador de Síndrome de Down, e um sentimento misto de raiva/ ciúme por esse mesmo irmão, por tudo o que ele acha que lhe é dado gratuitamente, sem qualquer esforço só porque é "mongolóide"! Sim, é um pequenino spoiler para vos mostrar como a escrita de Afonso Reis Cabral chega a ser dura quando pretende retirar-nos da nossa passividade!

Fiquei, por isso, espantada com a escrita do escritor: sóbria, cuidada mas, por vezes, agressiva, que "mexe" connosco e nos inquieta. Gostei especialmente da diferente abordagem de um tema que habitualmente é tratado de uma forma um pouco lamechas e que leva o leitor a sentir empatia muito grande com todos aqueles que rodeiam alguém com Síndrome de Down e pelos próprios, claro! Aqui, não se sente esse tipo de empatia pelo personagem principal, mas não se consegue deixar de ficar agarrado ao livro, sempre à espera de perceber que sentimento rege esse irmão mais velho e porque quer ele tomar conta de alguém de quem esteve afastado mais de vinte anos...

Uma primeira obra que me cativou. Espero mais ainda de uma segunda! Vamos ver o que tem este autor na gaveta.

Terminado em 14 de Janeiro de 2015

Estrelas: 5*

Sinopse

Vencedor do Prémio LeYa 2014 A relação entre dois irmãos, um deles deficiente mental, que têm de aprender a viver juntos Com a morte dos pais, é preciso decidir com quem fica Miguel, o filho de 40 anos que nasceu com síndrome de Down. É então que o irmão – um professor universitário divorciado e misantropo – surpreende (e até certo ponto alivia) a família, chamando a si a grande responsabilidade. Tem apenas mais um ano do que Miguel, e a recordação do afecto e da cumplicidade que ambos partilharam na infância leva-o a acreditar que a nova situação acabará por resgatá-lo da aridez em que se transformou a sua vida e redimi-lo da culpa por tantos anos de afastamento. Porém, a chegada de Miguel traz problemas inesperados – e o maior de todos chama-se Luciana. Numa casa de família, situada numa aldeia isolada do interior de Portugal, o leitor assistirá à rememoração da vida em comum destes dois irmãos, incluindo o estranho episódio que ameaçou de forma dramática o seu relacionamento. "O Meu Irmão", vencedor do Prémio LeYa 2014 por unanimidade, é um romance notável e de grande maturidade literária que, tratando o tema sensível da deficiência, nunca cede ao sentimentalismo, oferecendo-nos um retrato social objectivo e muitas vezes até impiedoso.



terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Passatempo: O Bicho da Seda

Temos hoje, para oferecer aos seguidores do blogue, mais um passatempo patrocinado pela Editorial Presença. Desta feita, temos uma novidade que muitos leitores vão adorar: O Bicho da Seda, o novo livro de Robert Galbraith. Para obter mais informações sobre este livro, clique aqui.
O passatempo decorre até ao dia 30 deste mês.
Boa sorte!

A Convidada Escolhe: A Rainha Ginga

A Rainha Ginga de José Eduardo Agualusa pode dizer-se que é um romance de ficção onde a história se intrometeu bastante o que se verifica pelos muitos factos históricos que conduzem a narrativa. A história é contada por um narrador fictício, um padre pernambucano, com raízes africanas e portuguesas, em crise de fé e de identidade que se encontra ao serviço de Ginga ou seja D. Ana de Sousa que viveu ente os séculos XVI e XVII. A Rainha Ginga cujo título real "Ngola" estará na origem do nome "Angola", teve na realidade secretários, quase todos padres, pois era de uma classe culta. Foi uma mulher extraordinária e lutadora, que sucedeu a seu irmão, hábil diplomata e líder carismática fez uma aliança com o povo Jaga casando com o seu chefe, combateu vários reinos, alargou o seu próprio território e fez frente aos portugueses, sempre que estes não cumpriam os acordos, relativamente aos chamados presídios ou à recolha de homens com destino ao Brasil ou ainda quanto aos tributos exigidos aos sobas. São as sangrentas lutas entre os naturais e portugueses, com seus avanços e recuos e em ambiente muito próprio que nos vão sendo contadas pelo padre pernambucano que a certa altura já não podia ser padre pois a sua efígie ardera na fogueira em Portugal por ordem dos jesuítas. Era um período em que a afirmação dos portugueses naquela região se procurava consolidar e crescia rapidamente, mas o problema do florescente comércio de escravos, que desbastava as fileiras dos exércitos indígenas, é um dos motivos de indignação da fantástica Rainha, que se veste de homem para melhor se impor e exige dos homens com quem se deita que se vistam de mulher para melhor reforçar a sua pseudo masculinidade. Exige também que seja chamada de Rei e não de Rainha e é nessa condição que lidera as suas tropas e luta à frente dos seus homens. Várias diligências para conseguir a paz nunca deram resultados duradoiros pelo que os combates ferozes com grandes perdas humanas se repetiam.
A dada altura da história a Rainha Ginga, já então com aliados poderosos em reinos vizinhos, para atingir os seus objetivos que era expulsar os portugueses, aliou-se aos holandeses que à época ocupavam boa parte da Região Nordeste do Brasil. Com o seu auxílio, os holandeses conseguiram ocupar Luanda, onde permaneceram alguns anos.
Após anos de lutas e com o fim da dinastia filipina e já no reinado de D. João IV o acordo de Portugal com os Países Baixos deu uma reviravolta nos acontecimentos, os holandeses foram expulsos de Angola, Ginga faz um tratado com os portugueses e quando morre com idade muito avançada, sem nunca ter sido capturada, já era na altura amiga dos portugueses e da Santa Madre Igreja.
Um livro muito cativante que nos dá a conhecer factos e pormenores interessantíssimos da história da época da expansão, dos usos e costumes, de então, naquelas regiões e de seus povos e que é enriquecido pela fértil e bem contextualizada imaginação do autor.
Maria Fernanda Pinto

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O meu TOP 2014


Estes foram os livros que em 2014 dei 6*. As opiniões são isso mesmo e valem o que valem...

"Materna Doçura" de Possidónio Cachapa 
"Stoner" de John Williams 

"A Casa Azul" de Cláudia Clemente 
 

"Na Montanha de Hitler" de Irmgard A Hunt

"Deixem Falar as Pedras" de David Machado 

"Terra de Milagres" de João Felgar 
 

"Sou o Último Judeu" de Chil Rajchman
 

"As Estrelas Brilham na Cidade" de Laura Moriarty 
 

"Os Aquários de Pyongyang" de Kang Chol-Hwan
 

"A Cor do Coração" de Barbara Mutch

"Os Aromas do Amor" de Dorothy Koomson

"Holocausto Brasileiro" de Daniela Arbex

"A Casa Negra" de Peter May

"A Rapariga de Auschwitz" de Eva Schloss

"O Olhar de Sophie" de Jojo Moyes

"O Jardim das Torres Invisíveis" de Qais Akber Omar

"O Filho Perdido de Philomena Lee" de Martin Sixsmith


"Fome" de Knut Hamsun"

"A Onda" de Sonali Deraniyagala