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quarta-feira, 30 de abril de 2014

"A Casa Negra" de Peter May

Fantástica esta leitura! Recomendo muitíssimo! Confesso que ao olhar para a capa fiquei com a ideia que iria ler algo de muito negro mas, mesmo assim, senti uma atracção irresistível... A capa faz todo o sentido e as descrições são de tal forma reais que visualizamos todos os momentos deste livro. Preparem-se porque sendo bastante descritivo há momentos que são bastante fortes, quase pesados demais.

Mas esta leitura ultrapassou de longe as expectativas que poderia ter do que considero um bom policial! É muito mais do que um policial com "pés e cabeça" e o retrato psicológico das personagens é tão profundo que me maravilhou mesmo até à última frase!

Se considerarmos e admitirmos a hipótese que o ser humano possui, dentro dele, um lado negro que o leva a fazer coisas inimagináveis e horriveis, então estamos preparados para pegar nesta obra.

O personagem principal, polícia de profissão, é um homem profundamente marcado pela dor da perda de um filho. Retorna à sua ilha natal porque se suspeita que dois casos de assassínio estejam ligados visto terem ambos o mesmo modus operandi, embora separados fisicamente por muitas léguas. É um homem que retorna ao passado e a recordações que esperava poder fugir, muito embora o presente também não lhe tivesse trazido nada de bom... As recordações de alguns acontecimentos que marcaram a sua infância e a sua adolescência misturam-se com os acontecimentos do presente, dos amigos que conhece ou julga conhecer e da busca do assassino.

Abrangendo vários problemas relacionados com o isolamento sentido por quem vive numa ilha pequena, o autor mistura lendas e costumes de ilhas escocesas com factos que, não sendo verídicos, poderiam muito bem ter acontecido... como por exemplo, o facto do ser humano conseguir apagar da sua mente acontecimentos que o marcaram profundamente, o oprimiram e o reduziram na sua condição humana.

Para além de ser um bom policial, daqueles que dificilmente conseguimos descortinar o final, esta obra atraiu-me, sobretudo, pelo retrato psicológico, excepcionalmente bem constituído, dos personagens envolvidos.

Passado e presente entrelaçam-se numa história soberba que me deixou, literalmente, pregada às páginas deste livro. Até mesmo à ultima frase. Nota máxima!

Terminado em 28 de Abril de 2014

Estrelas: 6*

Sinopse


A Ilha de Lewis é o local mais desolador e austeramente belo de toda a Escócia. A rigidez da rotina diária apenas é mitigada pelo temor a Deus. Quando um assassinato sangrento cometido na ilha revela marcas semelhantes a um caso de Edimburgo, o detetive da polícia Fin Macleod é enviado para norte, para o investigar. Todos os anos, doze homens da ilha, alguns dos quais amigos de infância de Fin, partem para um remoto e traiçoeiro rochedo chamado An Sgeir, numa perigosa epopeia para caçarem as crias de uma ave marinha local. Este é, acima de tudo, um ritual de passagem que é ferozmente defendido contra todos os pressupostos da moralidade moderna. Mas, para Fin, a caça encerra memórias dolorosas, que podem, mesmo tanto tempo depois, exigir um enorme sacrifício. A Casa Negra
é um thriller com um poder e uma visão raros. É um mistério criminal que explora as sombras das nossas almas, num local onde o passado está sempre perto da superfície e a vida mistura os mitos e a História.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

"Até ao Fim do Mundo" de Maria Semple

Li com um agrado crescendo este livro. Nas primeiras páginas achei que seria uma leitura agradável, embora meio estranha! Mas logo me passou essa sensação... Passo a explicar: o narrador vai sendo constantemente alterado, a forma de nos comunicar a história também muda, o que, à partida pode parecer um pouco confuso. Não é!

Desde e-mails, cartas, relatos de algo que nos apercebemos ser um diário, faxes, relatórios, tudo serve para nos retratar uma família muito peculiar que passa, e ultrapassa, situações bem graves por falta de comunicação entre os seus membros. E, se esta forma de escrita pode confundir o leitor nas primeiras páginas, por ser tão variada e por ter vários narradores, logo deixa de constituir um impedimento pois rapidamente nos vemos dentro da trama e a apreciá-la devidamente.

Romance com uma escrita divertida e variada, que nos faz pensar como, por vezes, conhecemos mal quem está ao nosso lado! Com mistério q.b., humor e drama misturados, esta é uma leitura que se faz com muito prazer.

Terminado em 24 de Abril de 2014

Estrelas: 5*

Sinopse
A fama de Bernadette Fox precede-a.

No círculo restrito e elitista do design mundial, ela é uma arquiteta revolucionária.
Para o marido, um guru da Microsoft, ela é a prodigiosa e atormentada paixão da sua vida.
Segundo os vizinhos e conhecidos, ela representa uma afronta e uma ameaça.
Mas aos olhos da filha, Bee, ela é, simplesmente, a Mãe.
E um dia Bernadette desaparece. Quando todos parecem reagir à sua ausência com diversos graus de alívio, Bee é a única disposta a tudo para a encontrar. Mas a instável e agorafóbica Bernadette não quer ser encontrada e tem meios e inteligência suficientes para se manter incógnita… mesmo que para tal tenha de encetar uma impossível viagem ao fim do mundo.
Neste retrato de uma mulher pouco convencional, a autora explora a fragilidade e a inadequação das mentes criativas face à voracidade uniformizadora do mundo moderno. A incómoda Bernadette e a sua família disfuncional são paradigmas das relações humanas do século XXI.




domingo, 27 de abril de 2014

Ao Domingo com... Pedro Eiras

7 breves leituras de A Cura, desfocadas e com muito grão

  1. Ninguém se cura de uma cura. De uma doença, sim. De uma cura, não.
  2. Dois homens lutam (psicanalista e psicanalisado): cerimónia, concentração, ritual. Lutam, mas não se trata de ganhar ao outro. Trata-se de saber ser digno dos ataques do outro. A luta – é com cada qual. Por dentro.
  3. Também se escreve por dentro. 1% de trama, personagens à flor da pele. 99%, escondido. 
  4. Esquemas, apontamentos, intuições. Um pouco de maldade, porventura. Depois, capítulos: um após outro, a grande máquina, peça a peça, todas as forças para o mesmo fim. Se corre bem, tudo acontece sem a minha intervenção: dedos no teclado, duas, três, quatro horas de inexistência, de repente acordar e ver o texto, ali, no ecrã. Isto – fui eu? Se corre bem, o texto é dado pelos deuses. Depois, limar, limar, até à náusea. Fica o mínimo. E depois, só depois, descobrir: estas personagens sabem mais do que eu. Algumas chegam a ser proféticas, descobrem o futuro. De que eu sou apenas leitor. Eu, o menos de tudo isto.
  5. Angústia e riso. E o riso da angústia, e a angústia do riso.
  6. Não se trata de comunicar nada, tese, fundo, propaganda. Se uma personagem afirma, logo outra nega. Escreve-se para perder.
  7. Saber perder bem. Sair do livro com menos. Livros que roubam. Assalto: a bolsa ou a vida? A vida.

Pedro Eiras

sábado, 26 de abril de 2014

Na minha caixa de correio

  

  

 

Oferta do autor, As Linhas Invisíveis! Obrigada João!
Da Planeta, um romance histórico, A Amante do Papa!
Da promoção da Presença Online 50%, os três livros seguintes. Os outros três vieram dos passatempos do JN.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Novidade Vogais

Pensar como Steve Jobs
27 Lições do Fundador e CEO da Apple para Inovar, Decidir e Acertar
de Daniel Smith
Edição anotada por Pedro Aniceto

Steve Jobs, um dos maiores inovadores dos tempos modernos, em poucas décadas transformou por completo as indústrias da informática, da música e dos telemóveis, criando algumas das tecnologias mais utilizadas em todo o mundo.
O fundador e CEO da Apple liderou a empresa desde as suas origens humildes, na garagem dos seus pais, até ao império global que é hoje em dia, revolucionando a forma como vivemos e trabalhamos. Mas como foi que o fez? O que o levou a tomar as decisões incomuns que fizeram da Apple uma empresa de êxito global?
Pensar como Steve Jobs apresenta as mais importantes técnicas de gestão e liderança deste génio da inovação e da gestão. São 27 lições, comentadas por Pedro Aniceto, o reputado especialista em produtos Apple e evangelizador da marca em Portugal, e exemplificadas com os maiores êxitos e fracassos pessoais e profissionais do percurso de Steve Jobs.
Este livro é um convite para que veja o seu mundo através dos olhos de um génio visionário, e consiga inovar,  decidir e acertar como Steve Jobs. 

Aprenda a:

  • Quebrar as regras e desafiar o status quo.
  • Aperfeiçoar a sua mensagem e manter-se à frente da concorrência.
  • Divulgar com eficácia a sua empresa, os seus produtos e as suas ideias.
  • Estar sempre atento às melhores oportunidades.
  • Alcançar as metas pretendidas.

Convite Casa das Letras


A Escolha do Jorge: O Anão

Publicado inicialmente em 1944, O Anão é a obra mais significativa e mais traduzida do sueco nobelizado Pär Lagerkvist (1891-1974) que conheceu uma edição portuguesa em 1955 e que foi recentemente recuperado pela Antígona.

O Anão é passado numa corte italiana renascentista, embora a noção de tempo não seja significativa em virtude de algumas das referências marcantes aludirem especificamente ao século XIV, nomeadamente a fome, a peste e a guerra comummente denominadas por trilogia negra.

Piccolino é o anão que após ter sido rejeitado pela sua mãe foi vendido por esta ao príncipe para servir como bobo da corte. Porém, Piccolino é muito mais do que o bobo da corte, é a personificação de todo o mal atendendo ao facto de que aquilo que mais odeia é o ser humano não esquecendo todos os seres da sua estirpe que odeia com todas as suas forças.

Quer por iniciativa própria, quer por indicação do príncipe, Piccolino age deliberada e conscientemente cometendo todo o tipo de atrocidades com vista à extinção humana de quem sente o mais profundo desprezo.

Nesta obra, o mal é dissecado sob as suas múltiplas facetas sendo que Piccolino assume-se como a personificação de Satanás sentindo uma exaltação imensa, um puro delírio na prática do mal como se tratasse da sua religião. É perfeito na consecução da maldade! Aliada à rejeição que sente por parte dos homens, Piccolino sente igualmente o temor que os homens sentem quando se cruzam consigo quase sentindo de forma espelhada e num ser com aquelas características todos os receios, medos e aterrorizando-os verdadeiramente “o anão que se esconde neles” (p. 24).
Mesmo na condição de prisioneiro a dada altura da narrativa, Piccolino tem a nítida consciência e convicção de que o seu senhor “não poderá passar muito tempo sem o seu anão” (p. 178).

Ler O Anão pode tornar-se desconfortável na medida em que a maldade que corre no sangue envenenado de Piccolino torna-o um ser mesquinho, miserável e desprezível, sendo, pois, um reflexo de até onde pode ir a natureza humana que é imune ao espaço e ao tempo.

São inúmeras as leituras cruzadas que se podem fazer a partir deste livro, nomeadamente através de extensões a Antígona de Sófocles, O Elogio da Loucura de Erasmo de Roterdão, O Discurso da Dignidade do Homem de Pico della Mirandola, não esquecendo também O Príncipe de Maquiavel, além de outros exemplos que aqui poderiam ser referidos.

Pär Lagerkvist criou sem dúvida uma obra incontornável da literatura contemporânea e com uma mensagem de caráter universal valendo-lhe, em 1951, a atribuição do Prémio Nobel de Literatura.

Texto da autoria de Jorge Navarro

Novidade Porto Editora

A Mulher de Verde

de Arnaldur Indriđason
Há segredos que não podem ficar enterrados para sempre… 
Numa encosta perto de Reiquejavique, algumas crianças brincam junto aos alicerces de uma nova casa em construção quando, de forma inesperada, encontram uma costela humana. 
A mórbida descoberta leva de imediato o inspetor Erlendur e a sua equipa da polícia científica a instalarem-se no terreno, unindo esforços para desenterrar o resto do corpo secretamente sepultado e ao mesmo tempo investigar aquele estranho caso feito de contornos brutais, escondido debaixo da terra desde o período da II Guerra Mundial. 
À medida que cada osso vai sendo desvendado, também a história de violência doméstica e corrupção no seio de uma família vem ao de cima, oferecendo àquele mistério sinais cada vez mais tenebrosos de que o terror pode ser coisa de gente comum. 
O caso exige toda a coragem que o inspetor Erlendur possa encontrar em si, ele que, assistindo à morte lenta da própria filha toxicodependente, que depois de abortar entra num coma profundo, não pode evitar confrontar-se com as responsabilidades de ter levado, também ele, a sua família a uma degradação quase completa.

Convite Esfera dos Livros


quarta-feira, 23 de abril de 2014

"Uma Família Feliz" de David Safier

Quem leu Maldito Karma sabe que o humor de David Safier é demasiado gostoso para que possamos deixar passar, sem ler, este livro...

Mas, no decorrer desta leitura, perguntei-me várias vezes como é que este autor conseguia prender a minha atenção com as aventuras desta família por vezes tão irreais, quase disparatadas!!! Mas, com este escritor temos de ler nas entrelinhas e, mesmo sem querer, fazemos uma introspeção em relação aos nossos valores, naquilo em que acreditamos ser o mais importante, no rumo que devemos dar ao nosso "amanhã"...

Agora, fazë-lo de uma forma divertida, com umas boas gargalhadas e sorrisos à mistura é simplesmente genial. Diverti-me muito ao desfolhar estas páginas! Porém, continuo incrédula: como é que esta história me conseguiu prender? Tem tudo aquilo que me deixa indiferente: dráculas, lobisomens, múmias e todo o género de monstros e monstrinhos!

O livro começa por nos caracterizar uma família dita normal, constituida pela mãe, Emma, que desistiu da sua carreira e tem uma biblioteca com pouco sucesso financeiro; pelo pai, Frank, possuidor de um cansaço mortal pois trabalha sem parar; pela filha adolescente, Ada, que não sabe o que pretende da vida a não ser que deseja desesperadamente ser amada e pelo filho, Max, um pré-adolescente tímido, super inteligente mas que sofre de bulling por parte de uma colega mais velha. A estes personagens juntam-se mais dois muito caricatos: uma amiga já entradota na idade, hippie, e a colega de Max, uma menina durona que ataca antes de fazer alguma pergunta... E estão lançados os dados para uma boa trama se a ela juntarmos uma bruxa disposta a enfeitiçá-los para o resto da sua vida, curta vida, já que lhes dá somente três dias...

Eu sei que o enredo é bastante improvável mas a imaginação e o humor de David Safier valem a pena ser lidos. Se quiserem passar alguns momentos divertidos, já sabem! Confesso que o seu primeiro livro me apanhou desprevenida e, talvez por essa razão, a surpresa tivesse sido maior... Desta vez já estava à espera de uns bons sorrisos!

Terminado em 19 de Abril de 2014

Estrelas: 4*+

Sinopse

Que ideia hilariante teve David Safier desta vez? No primeiro livro Maldito Karma, uma mulher reencarnava em formiga, após ter sido atingida por uma sanita de uma estação espacial. No livro seguinte, Jesus Ama-me não hesitou em fazer voltar à Terra um Jesus completamente desorientado, dois mil anos depois para salvar a humanidade da sua destruição. Desta vez, a ideia não é menos hilariante, pois uma bruxa transforma uma família nos monstros em que iam mascarados a uma festa.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Um Livro Numa Frase




"E vou contar-vos um segredinho sobre a vida. Acham que é uma seca agora? Bem, vai ser cada vez mais uma seca. Quanto mais cedo aprenderem que são vocês que têm de tornar a vida interessante, tanto melhor para vocês."

In "Até ao Fim do Mundo" de Maria Semple, pág. 54

segunda-feira, 21 de abril de 2014

"O Livreiro" de Mark Pryor

Quando vi na capa a frase "Um sobrevivente do Holocausto", entre outras, fiz logo o "meu filme" e soube que tinha de ler este livro. E, se por um lado, estava à espera que a trama estivesse mais relacionada com a Segunda Guerra, por outro, fiquei surpresa por não sentir falta disso mesmo.

É uma história emocionante, um policial com bastante suspense que não nos deixa adivinhar o final. Hugo Marston, chefe da segurança da embaixada americana em Paris, vê-se directamente envolvido no rapto de um amigo, alfarrabista de profissão, não conseguindo impedir que Max desaparecesse perante os seus olhos!

Entre livros raros, raptos, tiros, um romance apimentado e um sobrevivente do holocausto que após a guerra se tornou num caçador de nazis, a disputas de gangues de drogas, tudo promete para que passem as páginas sem quase piscarem os olhos!

O personagem principal é muito verosímil e não é de todo um super herói com super poderes, o que me agradou bastante. Humano, com um raciocínio rápido mas sujeito a erros como um simples mortal que é, Hugo pede ajuda a um amigo, Tom, antigo agente da CIA. Juntos tentam encontrar Max e descobrir qual o segredo que está por detrás do seu desaparecimento.

Com suspense e romance q.b., esta obra vai de encontro áqueles que adoram um bom mistério! Fez-me bem variar no género, pois há algum tempinho que não lia um policial "à maneira"!

Terminado em 17 de Abril de 2014

Estrelas: 4*+

Sinopse


Neste romance de ritmo acelerado e empolgante (que prenderá os leitores da primeira à última página), encontramos a história de um terrível segredo escondido durante décadas nas páginas de um livro há muito desaparecido.

Hugo Marston decide comprar um livro raro ao seu amigo Max, o idoso proprietário de uma banca de obras antigas. Poucos minutos depois, Max é raptado. Vivamente surpreendido com o ato, Marston, chefe de segurança da embaixada americana em Paris, nada consegue fazer para impedir o raptor. Marston inicia então uma investigação destinada a encontrar o livreiro, recrutando a ajuda do seu amigo Tom, um agente da CIA.

A busca de Hugo revela que Max é, afinal, um sobrevivente do Holocausto que mais tarde se converteu num caçador de nazis. Estará o rapto ligado ao sombrio passado de Max ou aos misteriosos livros raros que vendia?

domingo, 20 de abril de 2014

Ao Domingo com... Pedro Almeida Maia

Nascer nos Açores é fascinante, mas viver na condição de ilhéu traz ainda mais regalo. Era o dia de São Pedro do ano de 1979, a cidade era a de Ponta Delgada, a ilha micaelense e o mundo não estava preparado. Eu não estava. Cresci normal, para a norma das normalidades, desde puto ligado às artes: música, letras e banalidades. Uma guitarra encantou-me na adolescência, e eu não lhe tenho resistido. Faço dela a minha musa, um encanto resiliente.

Mas não só em sons e paisagens encontro inspiração, ela chega-me sem aviso e quase sempre acompanhada: vem de braço dado com o trabalho. Foi ao fim de três décadas que decidi mostrar o meu labor, ocultado pela timidez. Deixei voar um primeiro policial, a que chamei Bom Tempo no Canal – A Conspiração da Energia. Fui feliz outra vez, porque somei à árvore plantada e à paternidade a coisa que faltava ao homem para ter a vida feita. Mas o mundo não acabou, estava apenas a começar. O livro laureou-se com o Prémio Letras em Movimento, e eu sorri mais uma vez. Vieram outras experiências, digressões e um sentimento de plenitude. Sim, porque o fogo não está nas coisas que ardem, está no ar que
as rodeia. O mistério dos atlantes bateu-me à porta e trouxe os ingredientes para o romance número dois: Capítulo 41 – A Redescoberta da Atlântida. Mostrei mais um lado destas ilhas, um possível passado. Depois, a Mostra LabJovem desafiou-me, apaixonei-me outra vez e escrevi a novela Nove Estações.

Não se pode resumir uma vida, mas pode-se sumariar um percurso. Parece que a minha existência se divide em duas: uma desencontrada e outra recém-chegada. Este caminho também trouxe um regresso, a aposta num futuro académico. Alistei-me na Psicologia e percorro agora os trilhos da mente humana. Convidaram-me a participar numa aventura infantil, regressei a ser criança, e saiu-nos um golfinho: o Necas. Ensina as crianças a lidar com as emoções.

Como a vontade de escrever não morre, e nem tão cedo quero padecer, continuo a debitar pensamentos, em forma de crónicas e poesias banais. A vontade de mostrar, essa está viva e recomendada. Sim, quero seguir por este rumo.

Pedro Almeida Maia

sábado, 19 de abril de 2014

Na minha caixa de correio

 

Falaram-me tão bem do livro do Carlos Campaniço que não resisti e pedi emprestado a um amigo.
O Jardim das Memórias foi oferta da Topseller.
Obrigada a ambos!

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Novidade Casa das Letras

Comer Bem sem Sacrifícios
de Andreia Santos e Hélio Loureiro
A nutricionista Andreia Santos e o conceituado chef Hélio Loureiro pretendem partilhar os conhecimentos adquiridos ao longo das suas vidas profissionais, mas também transmitir a luz, a força, a energia e a vontade de atingir um objectivo – Comer Bem Sem Sacrifícios – com os sabores da Cozinha Portuguesa e da alimentação mediterrânica.
Numa perspectiva essencialmente prática, sem perder o sabor íntimo da tradição portuguesa, demonstram como conjugar saúde, alimentação e o prazer de estar à mesa. Identificando os principais problemas de saúde derivados de uma alimentação com excessos e aprendendo a preveni-los.
Com estes conselhos e deliciosas receitas culinárias, vai sentir-se melhor física e psicologicamente e vai acreditar que é possível fazer algo bom por si.Conheça os conselhos práticos que pode seguir para comer de forma saudável e emagrecer, em apenas 29 tópicos.

Novidade Planeta

A Amante do Papa
de Jeanne Kalegridis
Filha do duque de Milão e mulher do conivente conde Girolamo Riario, Catarina Sforza foi a guerreira mais corajosa do Renascimento italiano. 
Governou os seus territórios, travou as suas lutas e teve sempre os amantes que lhe apeteceu, sem consequências até ter um caso com Rodrigo Bórgia. 
A sua história notável é contada pela dama de companhia, Dea, uma mulher conhecida por ler as cartas de sorte, as antecessoras do tarô dos nossos dias.
Enquanto Dea tenta descobrir a verdade sobre o assassínio do marido, Catarina, sozinha, rechaça os invasores que tentarão roubar-lhe o título e as terras. 
No entanto, Dea lê as cartas e estas revelam que Catarina não pode fazer frente a um terceiro e último invasor: nada mais, nada menos do que César Bórgia, filho do corrupto papa Alexandre VI, que tem umas velhas contas a ajustar com Catarina. 
Encurralada na fortaleza de Ravaldino enquanto os canhões de Bórgia atingem as muralhas, Dea passa em revista o passado escandaloso e os combates de Catarina para compreender o destino de ambas, e Catarina tenta corajosamente aniquilar o exército inexpugnável de Bórgia.

Novidade Clube do Autor

O Atentado
de David Baldacci
Robie é encarregado de matar uma «companheira de armas», depois de surgirem provas que apontam para que Jessica Reel, assassina de profissão como ele, terá mudado de campo. A missão de Robie consiste em apanhar Jessica Reel, morta ou viva. No entanto, Robie não tarda a dar-se conta de que a situação vai além da mera traição. Com efeito, por detrás do ataque de Reel esconde-se uma ameaça muito maior, e que poderá provocar ondas de choque suscetíveis de atingir o mundo inteiro. 

quinta-feira, 17 de abril de 2014

A Escolha Do Jorge: "Sempre o Diabo"

“Sempre o Diabo” é o primeiro romance do norte-americano Donald RayPollock (n. 1954) publicado em 2011 e que conheceu recentemente a sua publicação em Portugal.

Passado entre o Ohio e a Virgínia entre finais da 2ª Guerra Mundial e os anos 60, “Sempre o Diabo” apresenta-se como um misto de William Faulkner, Flannery O’Connor e Shirley Jackson (entre outros) no tocante à descrição do ambiente rural, rude, opressivo e até inóspito nalgumas situações e que serve de palco à disseminação de inúmeros cultos religiosos cristãos de tendência protestante capaz de gerar fanatismos.

Se por um lado, o ambiente acima descrito gera uma crença inigualável numa parte significativa da população, encarando Jesus como uma referência nas suas vidas ao ponto de o mais pálido desvio das normas de conduta conduzam o crente ao Inferno eminente, por outro lado, esta mesma crença exacerbada é capaz de conduzir muitas pessoas à loucura ao ponto de cometerem os crimes mais ignominiosos em nome de Deus sem que para isso tenham consciência, pelo menos nalguns casos.

Para além destas situações, há ainda aqueles que tomando partido do ambiente tendencialmente religioso que aqueles estados propiciam, tentam através da palavra disseminar o medo perante Deus devido ao facto de serem pecadores, aproveitando-se, desse modo, das pequenas comunidades com uma baixa instrução com vista a imporem a sua vontade ganhando dividendos à conta de uma falsa pregação.

Em “Sempre o Diabo” sobram dedos de uma mão ao contarmos os personagens que podemos dizer que são pessoas boas e honestas e que levam afinal de contas uma vida cristã na verdadeira aceção da palavra atendendo ao facto de praticamente não haver ninguém em quem se possa depositar confiança. Na verdade, não há praticamente ninguém neste livro que se aproveite utilizando a linguagem corrente! Os personagens são pérfidos, cruéis e vingativos expelindo ódio em praticamente todos os seus atos. O ambiente de alguma forma cruel em que os personagens deambulam promove, em certo sentido, a ausência de objetivos na vida, provocando numas situações a degradação e miséria das suas vidas conduzindo-os à prática de atos que põem em perigo a sua própria integridade física capaz de levar à destruição da sua vida como da dos outros.

Em “Sempre o Diabo” não há espaço para moralismos! Apesar de toda a realidade estar montada para que se viva em conformidade com as leis de Deus, o certo é que os muitos episódios terríveis que acontecem ao longo da narrativa afastam-se efetivamente desse caminho ao ponto de um dospersonagens afirmar, a dada altura, perante a sua perplexidade face a determinados acontecimentos “É difícil levar uma vida a fazer o bem (…). Parece que o Diabo nunca desiste” (p. 276) ou “Acho que Deus não tem nada a ver com isto.” (p. 300)

Por outro lado, temos também alguns personagens que não lidam bem com a injustiça perante os homens ou a vida em geral e, nesse sentido, perante a sua crença em Deus, o leitor entra numa linha de loucuras cometidas na tentativa de Deus possa ouvir as preces e perceber a fé dos homens quando afinal são cometidos atos inumanos na tentativa da eminente redenção. Exemplo disso é o caso de Willard Russell que perante o cancro terminal da sua esposa Charlotte decide criar na floresta, próxima de casa, um altar de orações onde sacrifica animais vertendo o seu sangue, sacrificando-se também perante o desespero que sente face à perda inevitável.

Arvin, seu filho, perde ambos os pais com uma diferença de um dia acabando por ir viver com a avó e um tio que lhe tentam incutir os preceitos cristãos da bondade e da justiça, valores com que tenta pautar a sua vida e a daqueles que o rodeiam, embora nem sempre consiga sentir-se em consciência consigo próprio se não fizer escorrer sangue em nome dessa mesma justiça divina ou chamemos-lhe simplesmente universal.

Entre falsos pregadores criminosos, xerifes corruptos, casais com taras sexuais fora do comum, todos 
têm lábia e todos matam ao ponto de o Diabo andar sempre por perto a fazer das suas. Até quem vive 
com firmes convicções, mais tarde ou mais cedo acaba por colocar tudo em causa comoEmma, a avó de Arvin.

Donald Ray Pollock arrasta por completo o leitor para um degredo através de um enredo complexo, mas bem montado em que a maldade é transversal a todo o livro ao ponto de doer a alma a dada altura. A crueldade que se confunde com a loucura atinge índices que dificilmente encontramos na literatura nos dias de hoje ao ponto de todos os personagens do livro serem verdadeiras “almas perdidas” (p. 256), no entanto, não conseguimos deixar de o ler sem, contudo, deixarmos de sentir (alguma) compaixão por alguns personagens, nomeadamente Arvin, o personagem principal que tenta somente redimir-se perante Deus tentando ser bom e justo.

“Sempre o Diabo” é definitivamente um dos grandes livros de literatura publicados este ano relativamente ao qual não ficaremos indiferentes.

Excertos:

"Só quando não tinha as veias cheias de uísque é que Willard não ia de manhã e à noite à clareira para falar com Deus. Arvin não sabia o que era pior, se a bebida, se as rezas. Até onde a sua memória conseguia recuar, tinha a sensação que o pai andara sempre a lutar como Diabo." (p. 9)

“O jovem pregador começou a andar para cima e para baixo pela nave da igreja a perguntar em voz alta às pessoas:
- Qual é a coisa que mais temem? – Agitava os braços e descrevia os tormentos do Inferno – a imundície, o horror e o desespero – e a eternidade que se estendia para sempre perante cada um dos presentes. – Se a coisa que mais temem são as ratazanas, Satanás há de arranjar maneira de vos rodear delas. Irmãos e irmãs, elas hão de roer-vos a cara, sem que vocês possam levantar um dedo que seja contra elas, e será assim para sempre.Um milhão de anos na eternidade não se compara nem com uma tarde aqui em Coal Creek. Nem temem imaginar. Não há ninguém com uma cabeça capaz de conceber tamanho sofrimento. Lembram-se daquela família deMillersburg que no ano passado foi assassinada quando estava a dormir? A família a quem aquele louco arrancou os olhos? Imaginem que durante um bilião de anos – é um milhão de milhões, meus caros, estive a ver – são torturados assim, mas sem nunca morrerem. Que ficam para todo o sempre a arrancar-vos os olhos da cabeça 
com uma faca velha. Só espero que aqueles pobres estivessem de bem com o Senhor quando aquele louco lhes entrou pela janela. A verdade, irmãos e irmãs, é que nem conseguimos imaginar as maneiras que o Diabo tem de nos torturar, porque nunca houve nenhum homem tão mau, nem sequer esse tal Hitler, ao ponto de fazer o mesmo que Satanás fará aos pecadores no dia do Juízo Final.” (p. 36)

“Já havia dormido com algumas prostitutas – aquela zona estava cheia delas – mas tinha vinte e poucos anos quando a mãe tivera o AVC que a deixara paralisada e praticamente sem falar. Nessa altura, não tinham aparecido amigos nenhuns a bater à porta, e Carl fora obrigado a tratar dela. Nos primeiros meses, tinha pensado pôr-lhe uma almofada sobre a cara contorcida e libertá-los a ambos mas, pensando bem, era a mãe dele. Em vez disso, resolvera então registar a longa decadência do seu corpo enrugado em fotografias, uma de quinze em quinze dias durante os treze anos que se seguiram. Por fim, ela habituou-se. Até que, uma manhã, foidar com ela morta. Sentou-se à beira da cama e tentou comer os ovos mexidos que tinha feito para o pequeno-almoço dela, mas não conseguiu. Passados três dias, foi ele a atirar a primeira pazada de terra para cima do caixão dela.” (p. 116)

Texto da autoria de Jorge Navarro

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Resultado do Passatempo: "Longbourn, Amor e Coragem"


Chegados ao fim de mais um passatempo, anunciamos o vencedor que vai receber o livro "Longbourn, Amor e Coragem", de Jo Baker, gentilmente cedido pela Editorial Presença.

Dos 372 participantes foi seleccionado o n* 118 pertencente a:



- Daniela Patrícia Augusto de Comeira/Marinha Grande


Parabéns! Espero que disfrutes de bons momentos de leitura...

terça-feira, 15 de abril de 2014

A Convidada Escolhe: A Ínclita Geração

Gosto muito de romances históricos e já são vários os livros que li da autoria de Isabel Stilwell. Tem sido sempre um prazer.

Como o nome indica o livro é sobre a história dos filhos de D. João I, Mestre de Avis e de D. Filipa de Lencastre, sendo a história narrada pela sua única filha a Infanta D. Isabel, que viria a ser Duquesa da Borgonha pelo seu casamento com Philippe III.

Uma Infanta culta que, por insistência de sua mãe, recebeu a mesma educação académica que os seus irmãos homens, o que lhe vira a ser extremamente útil ao longo da sua vida.

A Infanta partiu de Portugal mas nunca se desligou do seu país e da sua família tendo contribuído monetariamente e incentivado o seu irmão, o infante D. Henrique para que procurasse novas terras nomeadamente o reino de Preste João, que se acreditava ser fabulosamente rico, e assim trazer benefícios aos dois países.

Perseguiu até ao fim da sua vida o objectivo de trazer para Portugal os restos mortais do seu irmão, o infante D. Fernando, Infante Santo, cativo e morto no Norte de Africa, na sequência da infeliz campanha para tomar Tânger aos Mouros.

D. Isabel viria a ter também um papel importante em várias negociações diplomáticas entre Borgonha, França, Inglaterra. Essas negociações tinham sempre como objectivo final aumentar o poder da Borgonha.

Destroçada pelas infidelidades constantes do seu marido e pela morte dos seus dois primeiros filhos, centra a sua vida no único herdeiro, Carlos, e arquitecta alianças que faz e desfaz para lhe aumentar o poder e as terras no futuro. Isabel chega mesmo trair a sua linhagem materna Plantageneta, negociando e unindo o filho com uma princesa York, numa reviravolta estratégica desfavorecendo assim a sua família Lancaster.

Este livro fez-me recordar, com gosto, o tempo das descobertas Portuguesas, a guerra entre França e Inglaterra com o envolvimento de Joana d’Arc e o período da Guerra das Rosas em Inglaterra, período da Idade Média de que gosto muitíssimo.

Valeu a pena ler!

Marília Gonçalves

segunda-feira, 14 de abril de 2014

"Longbourn, Amor e Coragem" de Jo Baker

Mal acabei este livro desejei voltar a ler "Orgulho e Preconceito" de Jane Austen. Um livro que já li há muitos anos e que, por essa razão, possuo somente uma ligeira memória dos seus contornos mais amplos.

Há livros que nos apaixonam de imediato. Outros há que se insinuam muito devagar, onde os pormenores têm um lugar de destaque e onde o nosso interesse sofre um crescendo ao virar de cada página. Pareceu-me que este livro se enquadrava mais nesta segunda hipótese... Se leram já a sinopse sabem que esta obra se situa na realidade temporal e espacial criada por Jane Austen, mas vista, vivida e sentida do ponto de vista de quem, no seu livro, tem um papel insignificante e mais não faz do que trabalhar duramente o dia inteiro: os criados. Quem são estes seres de quem os senhores da casa pouco mais sabem que os seus nomes? Que segredos escondem eles sobre si mesmos? Que segredos conhecem dos senhores? Quais as suas vontades, os seus sonhos e amores?

A autora tentou recriar, e bem, o ambiente daquela época através, sobretudo, da história de Sarah e do seu romance com James, ambos criados em Longbourn. Gostei desta leitura e as últimas páginas foram o culminar de uma história de amor numa época em que poucos teriam direito a um amor verdadeiro, principalmente quem estava no fundo da escala social. É certo que a escravatura já tinha sido abolida mas poucos senhores consideravam a hipótese de um criado seu pudesse ter vontade própria nem qualquer desejo de felicidade. Contrariar isso era, a maior parte das vezes, um acto de coragem, visto pelos outros como de total insanidade.

Terminado em 13 de Abril de 2014

Estrelas: 4*+

Sinopse

Para todos os que admiram a obra de Jane Austen, esta é uma oportunidade única de revisitar o seu universo, mais concretamente o de Orgulho e Preconceito, mas numa perspetiva completamente nova. Jo Baker conseguiu a proeza de pegar num clássico e reimaginá-lo, com brilhantismo, a partir do ponto de vista dos criados. Enquanto no andar de cima tudo gira em torno das perspetivas de casamento das meninas Bennet, no andar de baixo os criados vivem os seus próprios dramas pessoais, as suas paixões e angústias. À semelhança da obra que a inspirou, também "Longbourn" é uma história de amor apaixonante e uma comédia social inteligente, que nos dá a conhecer o quotidiano daqueles que serviam nas mansões rurais inglesas do século XIX. Uma obra admirável, que capta na perfeição a atmosfera da Inglaterra de Jane Austen.

domingo, 13 de abril de 2014

Ao Domingo com... Sónia Alcaso

Gosto de livros, de paisagens, de pensamentos, de viagens, de bichos, de corpos, de revoluções. Gosto da sensação de acordar todas as manhãs. Não gosto de dormir. Não gosto de gritos, de coca-cola, de azares, de religiões, de estereótipos.
Encantei-me por Edgar Allan Poe, ainda miúda. Mais tarde, por Henry Miller e, por fim, Julio Cortázar. São paixões-amores, eternos. Como eterna há-de ser a vontade de criar outras cabeças. Vidas. Muito novinha quis estudar teatro, depois desejei ser escritora. Ainda o desejo. Acabei por esbarrar em histórias no jornalismo. Vivo a vida como imagino os livros: misturando ficção e realidade. Gostava de ser andarilha, mas acabei por criar raízes. Amo a minha família. Optei pela árvore em vez do pássaro. Mantenho as asas, apesar de continuar prisioneira da inquietação; atormentada pelo terror psicológico de Poe, fascinada pelo lado vagabundo de Miller, enterrada na magia de Cortázar.


"Esta noite não aconteceu", lançado pela Oficina do Livro, é o meu primeiro romance a sério. Outras tentativas houve e haverão. Escrever é estar comprometido, envolve disponibilidade, entrega. Há diferentes motivos para se querer escrever. Para mim, é um lugar de respiração. Interessa-me na literatura a luta entre o bem e o mal, a abnegação e o desejo, a ordem e a desordem. Dr Jekyll and Mr Hyde.
Respeito o passado, do futuro tenho receio. Sei que não há nada que resista ao tempo e isso dá-me alento. Não deixo de namorar todos os dias o céu, mesmo sem ele saber sequer que eu existo.

Sónia Alcaso

A Escolha Do Jorge: Tampa

“Tampa” é o livro de estreia da jovem norte-americana Alissa Nutting que traz para a escrita um tema tabu da jovem professora Celeste Price,invulgarmente atraente e com um apetite sexual voraz por adolescentes do tipo ninfomaníaca, acabando mesmo por se envolver com estes.
“O matraquear do desejo tinha-se tornado aliás tão ruidoso dentro de mim (a sua corrente elétrica a percorrer um circuito constante entre as minhas têmporas, os meus seios e as minhas coxas) que parecia inevitável o momento em que a luxúria seria capaz de manobrar os meus lábios vaginais como se fossem um boneco de ventríloquo e falar em voz alta. Não conseguia parar de pensar nos rapazes aos quais em breve iria dar aulas.” (p. 6)
A escrita é simples e ousada, provocadora, mas também honesta, abordando a temática de modo claro deixando espaço para o leitor questionar um conjunto de aspetos em que se entrecruzam os desejos com a legalidade dos atos em si mesmos.
Se “Tampa” se inscreve no território daquilo que se passou gradualmente a apelidar de literatura erótica, devo dizer que não sei, tratando-se, pois, do primeiro livro com este tipo de abordagem que leio. Que existem muitos desejos por concretizar por parte desta jovem professora, é um facto.Celeste assume aquilo que sente e tenta na medida do possível concretizar os seus desejos mais recônditos de natureza sexual com adolescentes que já não são meninos, mas que tão-pouco são já homens. O seu desejo, a sua predileção por estes jovens é claramente explicitado devendo também os mesmos ter a maturidade psicológica suficiente para manter o caso em segredo como se tratasse de um amante que se deve omitir perante terceiros.
No caso de Celeste, estes encontros com Jack Patrick, de 14 anos, o aluno escolhido, tornaram-se cada vez mais frequentes, constituindo a única forma de satisfação sexual da professora em contraponto com o casamento forçado, falhado e de circunstância, com Ford, um agente de polícia, filho de pais ricos, cuja vida luxuosa leva Celeste a tirar o máximo proveito da situação.
Até sensivelmente à página 100, Celeste Price vai explicando os esquemas que decide implementar com vista a atingir o seu objetivo. As cenas de foro íntimo são descritas com bastante rigor e exatidão, cenas que, a bem da verdade, também o leitor (creio que) no fundo deseja que tenham lugar. Ainda que sejam levantadas questões de ordem moral até mesmo por parte dos personagens envolvidos que tentam a todo o custo manter o caso em segredo, há a plena consciência de que não é comum ou até mesmo correto um relacionamento entre um adulto e um jovem, neste caso em concreto, de uma professora de 26 anos com um adolescente de 14 anos.
Se a situação é em si mesma complexa para Celeste dado o constante receio da descoberta das suas preferências e atos, também para um jovem que se sente completamente envolvido emocional e sexualmente com uma mulher verdadeiramente bela (e sua professora) também lhe trará alguma perturbação num futuro próximo dado não ter ainda a maturidade necessária para lidar com algo tão sério, uma vez que já não sendo propriamente uma criança, também ainda não é um homem, nem física nem psicologicamente.
Aqui levanta-se precisamente a questão se num caso complexo como este em que existe consentimento de ambas as partes independentemente da diferença de idades e do estatuto/papel de cada um em relação ao outro, se se considerará efetivamente um caso de pedofilia. E se Jack Patrick em vez de se ter envolvido com a sua professora se se tivesse envolvido sexualmente com uma colega da mesma idade, aconteceria alguma coisa? Condenaria a sociedade tal ato quando nos dias que correm os adolescentes iniciam as experiências sexuais cada vez mais cedo?
“Eu estava de biquíni, recostada no capô de um carro desportivo, com o cabelo louro soprado para trás pelo vento. – Se fosse um adolescente – atirou o comentador, apontando um dedo lúbrico à fotografia -, chamaria sevícias a uma experiência sexual com ela?” (p. 266)
O relacionamento entre Celeste e Jack torna-se de tal forma intenso ao ponto de a professora começar a sentir que chegou o momento de pôr termoao relacionamento com o jovem, não só por este se ter(compreensivelmente) apaixonado por ela, mas também porque Jack naturalmente continua a crescer, adquirindo aos poucos as características de homem, deixando, por essa razão, de ser interessante para Celeste.
Celeste entra num ciclo vicioso, viciante e alucinante acabando por enfrentar inevitavelmente um processo judicial sendo acusada de violação de menores com forte impacto nos media a nível nacional.
“- E ela obrigou-te a fazer amor?
- Protesto – disse o procurador. - «Fazer amor» não é um eufemismo aceitável para violação nos termos da lei.
- Vou reformular – propôs o meu advogado. – Fizeste sexo com a Sra. Price. Foi consensual? Quiseste fazer?
- Sim – respondeu o Jack. – Quis. – A voz começava a falhar-lhe; parecia a confissão de algo muito maior.” (p. 282)
“Tampa” não iliba os personagens, mas também não os acusa, ficando essa tarefa para o leitor. O livro surpreende mais do que imaginamos querendo o leitor saber como termina a história, havendo certamente muitas questões com as quais se identifica.
Do mesmo modo que Celeste lida mal com a ideia de envelhecimento tentando a todo o custo graças às novas terapias, spas e cosméticos travar o avançar da idade mantendo sempre visivelmente a ideia de uma reduzida diferença de idade face ao objeto sexual desejado, também nós, tantas vezes, desejávamos ser mais novos quando se nos atravessa alguém jovem e fisicamente atraente que nos desperta os sentidos e consequentemente o desejo sexual. Ainda assim, há uma clara diferença entre o desejo e a concretização do mesmo
“Por enquanto, a minha juventude e o meu aspeto facilitam a questão. Tento não pensar nos anos frios que aí vêm, em que o tempo irá saquear lentamente a minha juventude e o meu corpo irá iniciar as fatídicas mudanças.” (p. 285)

Texto da autoria de Jorge Navarro

sábado, 12 de abril de 2014

Na minha caixa de correio

  

 




O meu obrigada às Editoras Clube do Autor, Bizâncio e Marcador pelos livros O Livreiro, O Cerco de Leninegrado e A Casa Negra, livros que despertaram muito a minha curiosidade.
Os três primeiros livros ganhei-os nos passatempos do JN.