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domingo, 15 de janeiro de 2012

Ao Domingo com... Sónia Cravo

"Nasci em Espanha, em Maio de 1977, mas os meus pais regressaram a Portugal quarto anos depois. Em boa verdade, sou portuguesa. Segui o meu percurso escolar, como qualquer outra criança. Aos 11 anos de idade, com o falecimento do meu pai, o próprio núcleo familiar sofreu alterações e ficámos todos marcados pela perda e pelo sofrimento que um cancro provoca. Mais tarde, terminado o liceu, fui para Coimbra estudar direito, naquela que foi talvez a pior decisão da minha vida. Rapidamente percebi que me não identificava com o curso, insisti, mas acabei por desistir. Ainda assim, de Coimbra trouxe uma importante bagagem e muitas horas de leitura. Há relativamente pouco tempo, depois de tomadas as devidas opções (de ordem racional) dei voz à minha relação com a escrita, essa paixão que, quiçá semelhante a um traço de personalidade, nasceu comigo e foi ganhando força ao longo dos anos. Agora, estou certa de que “Na Senda da Memória...” será o primeiro de vários livros.

Este meu livro é sobretudo um romance psicológico, com “nuances” de policial a servir-lhe de pretexto. É um livro conscientemente arriscado pela seguinte razão: é diferente e aquilo que é diferente é arriscado, parece-me que isto é transversal a todas as coisas. O facto é que há nestas páginas uma constante transgressão estética em relação àquilo que vai sendo a actual tendência para simplificar. É um livro, atrevo-me a dizer, teimosamente diferente.

“Na Senda da Memória...” permite várias leituras. Podemos fazer uma leitura rápida, acompanhando o enredo que, ainda que simples, não deixa sossegar ou podemos mastigar este livro, viajar pelas suas entranhas.

A questão nuclear é o vertiginoso processo de autodescoberta de Mateus, trata-se de problematizar a linha de fronteira entre o bom e o mau. Aqui não há personagens boas e más, há personagens que, ainda que ficcionadas, têm qualidades e defeitos, como todos nós. Este livro fala essencialmente do universo masculino, mas fala-nos também de mulheres, mulheres muito diferentes: começamos com uma breve referência a uma mulher infiel ao marido e terminamos com Laura. A abordagem que fui fazendo da mulher evoluiu no sentido da purificação, portanto, no mesmo sentido da própria evolução psicológica de Mateus.

Há pouco falava de entranhas e falava das possíveis leituras. Deixo-vos um pequeno exemplo: “Velhas árvores, que apodreciam junto à linha de água, eram agora lindas mulheres de vestidos compridos e elegantes, num cortejo religioso. Um padre dava a cada uma delas, na eucaristia, um ovo de cuco e murmurava, em simultâneo, Corpo de Cristo!. Mais tarde, em grandes ninhos de palha, crianças enormes eram alimentadas por pequenos pais adoptivos. As mulheres adúlteras voltavam para comungar e os maridos, em casa, alegravam-se com a falsa paternidade.” (página 30) É uma das passagens em que Mateus está a delirar. Esta passagem só pode ser plenamente entendida por aqueles que conhecem esta particularidade da natureza: os cucos põem os ovos nos ninhos de outras espécies.

Aqui, as personagens mais simpáticas têm falhas e defeitos: Laura é desconfiada; o professor mentiu; o velho é grosseiro (note-se que este velho não tem nome, está aqui em representação duma sabedoria calma e atenta, feita de anos de vida). Por outro lado, este livro também nos mostra o lado menos negro do Chico Mau e a grande travessia psicológica de Mateus (que coincide com uma fuga física). As pessoas são um somatório de defeitos e virtudes, algumas mudam, outras surpreendem, assim também com estas personagens. A vida só fecha com a morte (e ainda assim não sei), enquanto tal não acontece, há sempre espaço para o amanhã. Assim também neste livro, porém, e apesar de ser um romance aberto, o enredo não tem pontas soltas, encerra todas as questões que ao longo da estória se levantam."

Sónia Cravo




A minha opinião aqui.
Cris

2 comentários:

  1. Depois de ler esta estas palavras só posso dizer: eu quero ler este livro....

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  2. Para mim este livro é uma grande revelação...

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