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domingo, 31 de outubro de 2010

Procurando paz


Edição/reimpressão: 2006
Páginas: 280
Editor: Gótica
ISBN: 9789727921614
Colecção: Cavalo de Tróia


Mais uma vez Richard não me decepcionou!

Americano, naturalizado português e a viver no Porto, este escritor, professor de jornalismo, é, neste romance, simultaneamente, uma personagem. Com isso dilui as fronteiras entre a realidade e a ficção. Relata alguns factos pessoais e introduz várias situações reais do  conflito Israel/Palestina. 

E nós leitores interroga-mo-nos: onde acaba a realidade e começa a ficção? Agradou-me isso! 

Richard conta-nos como se sentiu envolvido com a morte de uma bailarina e todo o seu percurso para descobrir a ou as causas de tal tragédia, visto que ele se suicidou na sua presença.Nesta viagem que fez pelo passado de Sana, fala-nos de si, da sua vida como escritor, do conflito entre povos israelitas e palestinianos que levou a mortes e sofrimentos inimagináveis, levando-nos, também, ao 11 de Setembro de 2001.

O que levou Sana, uma árabe nascida em Israel, a praticar uma acto suicida? É através da sua melhor amiga de infância, Helena, uma judia nascida também em Haifa, Israel, que o autor se aproxima do seu passado e nos relata situações vividas por estas duas amigas, que a vida fez questão de separar.

A vida de Sana cruzou-se com Richard Zimler, num breve momento, e ele gostava de ter compreendido que ela precisava de ajuda. "Que triste não sabermos interpretar com alguma precisão a linguagem de sinais dos outros." É bem verdade isto, não?

Terminado em 30 de Outubro de 2010

Estrelas: 4*

Sinopse


A amizade pode crescer no mais árido dos solos - mas talvez não de forma durável
Em Fevereiro de 2000, Richard Zimler foi à Austrália para participar no Encontro de Escritores de Perth. No dia da sua chegada, conheceu uma talentosa bailarina brasileira que lhe contou o muito que o seu romance O Último Cabalista de Lisboa tinha significado para ela. O trágico passo que ela daria no dia seguinte mudou para sempre a vida de Zimler, lançando-o numa intensa investigação de três anos sobre o passado dela.
O escritor descobre então uma infância vivida à sombra do Monte Carmelo na década de 1950, uma época de tolerância entre comunidades vizinhas de árabes e de judeus nos velhos bairros de Haifa. À medida que esta paz se vai fragilizando, duas raparigas - uma palestiniana, outra israelita - tecem entre si laços que as ligam para sempre. A demanda de Zimler desvenda a história desta amizade extraordinária, apesar de o conduzir através de uma teia de ilusão, crueldade e enganos e, finalmente, ao 11 de Setembro de 2001, quando a tragédia que testemunhou em Perth surge à luz do mais extremado contexto político.
À Procura de Sana apaga as fronteiras convencionais entre realidade e ficção, ao analisar a natureza da verdadeira amizade, e o germinar de um crime impensável. Escrito pelo autor de alguns best-sellers sobre a cultura e a história judaicas, é ao mesmo tempo uma emocionante digressão sobre questões que nos afectam a todos.

Um pouco de História


Os conflitos entre Israel e Palestina nasceram em tempos remotos. 
Mas os embates entre estes povos, que detêm a mesma origem étnica, recrudesceram no final do século XIX, quando o povo judeu, cansado do exílio, passou a expressar o desejo de retornar para sua antiga pátria, então habitada em grande parte pelos palestinianos, embora sob o domínio dos Otomanos.

Com a queda do Império Otomano, a Inglaterra transforma a região em colônia britânica, instituindo um protetorado – apoio dado por uma nação a outra menos poderosa – na região pleiteada tanto por palestinos quanto por israelenses, o qual se estendeu de 1918 até 1939. Depois do início da Segunda Guerra Mundial, com a perseguição do Nazismo aos judeus, os problemas agravaram-se, pois mais que nunca eles desejavam retornar à Palestina, há muito tempo consagrada como um território árabe.

O principal confronto entre palestinianos e israelitas dá-se em torno da soberania e do poder sobre terras que envolvem complexas e antigas questões históricas, religiosas e culturais. Tanto árabes quanto judeus reivindicam a posse de territórios nos quais se encontram seus monumentos mais sagrados. A ONU ofereceu aos dois lados a possibilidade de dividir a região entre palestinos e israelenses; estes deteriam 55% da área, 60% composta pelo deserto do Neguev. A Palestina resistiu e recusou-se a aceitar a presença de um povo não árabe neste território.

Com a saída dos ingleses das terras ocupadas, a situação complicou-se, pois os judeus anunciaram a criação do Estado de Israel. Egito, Jordânia, Líbano, Síria e Iraque mobilizaram-se e deflagraram intenso ataque contra os israelenses, em busca de terras. Assim, o Egito conquista a Faixa de Gaza, enquanto a Jordânia obtém a área composta pela Cisjordânia e por Jerusalém Oriental. Como conseqüência desta disputa, os palestinos são desprovidos de qualquer espaço nesta região.

A OLP – Organização para Libertação da Palestina –, organização política e armada, voltada para a luta pela criação de um Estado Palestiniano livre, é criada em 1964. Guerras sucedem-se entre estes vários países.

Em 1982 Israel ataca o Líbano, com o suposto objetivo de cessar as investidas terroristas que seriam empreendidas pela OLP a partir de bases localizadas neste país. Cinco anos depois ocorre a primeira Intifada – sublevação popular assinalada pela utilização de armas rudimentares, como paus e pedras, atirados contra os judeus; mas ela não se resumia só a essas investidas, englobava também vários atentados sérios contra os israelenses. Finalmente, em 1988, o Conselho Palestino rejeita a Intifada e aceita a Partilha proposta pela ONU.

No ano de 1993, através do Acordo de Paz de Oslo, criou-se a Autoridade Palestina, liderada pelo célebre Yasser Arafat. Os palestinianos, porém, continuaram sem cumprir as cláusulas do tratado por eles firmado, pois a questão principal, referente a Jerusalém, mantém-se em aberto, enquanto os israelitas, mesmo dispostos a abandonar várias partes dos territórios ocupados em Gaza e na Cisjordânia, preservam neles alguns assentamentos judaicos. Por outro lado, não cessam os atentados palestinos.

Uma nova Intifada é organizada a partir de 2000. Um ano depois Ariel Sharon é elevado ao cargo de primeiro-ministro de Israel, invade novamente terras palestinas e começa a edificar uma cerca na Cisjordânia para evitar novos atentados de homens-bombas. Em 2004 morre Yasser Arafat, substituído então por Mahmud Abbas, ao mesmo tempo em que israelenses recuam e eliminam encraves judaicos nos territórios ocupados. O terror, porém, continua a agir. Em 2006 ocorre um novo retrocesso com a ascensão do Hamas, grupo de fundamentalistas que se recusa a aceitar o Estado de Israel, ao Parlamento Palestino. Qualquer tentativa de negociação da paz se torna inviável.

As chances do nascimento de um Estado Palestiniano eram crescentes, mas com a eleição do Hamas, não reconhecido pela comunidade internacional, tudo se complica e as possibilidades de paz reduzem-se. Neste momento, por conta de confrontos internos entre os palestinos, eles perdem a maior oportunidade de garantir a soberania sobre o território reivindicado, pois há uma nova escalada do terror. Em 2006 também ocorre o afastamento de Ariel Sharon, atingido por um derrame cerebral que o deixa em coma. Ele é então substituído temporariamente por Ehud Olmert, logo depois consolidado no poder pela vitória de seu partido nas eleições.

Actualmente, a maior parte dos palestinianos e israelitas concordam que a Cisjordânia e a faixa de Gaza devem constituir o Estado Palestiniano; e o Hamas e o Fatah uniram-se para a instauração de um governo de coligação, à custa de muito sangue palestino derramado, mas esse passo ainda não foi suficiente para instalar a Palestina de volta nas mesas de negociação. (Retirado de: http://www.infoescola.com/historia/conflito-entre-israel-e-palestina 

sábado, 30 de outubro de 2010

Soltas...

"O seu livro serviu-me para pôr em ordem algumas coisas... não, não é isso... ajudou-me a ver as coisas mais devagar de maneira a poder analisá-las devidamente e descobrir o que fazer. Mesmo o que não me agrada no livro, os defeitos, acabaram por ma parecer não terem grande importância. O seu romance è como uma vida bem vivida."(Referindo-se ao "Último cabalista de Lisboa")

"Num dos seus e-mails, escreveu: «As pessoas não se apercebem de que estamos presos por um fio. Basta que uma qualquer coisa corte esse fio e nós... caímos.»
Não sabia o que  - ou quem - poderia ter cortado o fio que prendia Sana à vida."

"Ficávamos no nosso esconderijo horas e horas e ela recusava-se a pronunciar uma  palavra. Foi com ela que aprendi que as pessoas a quem não deixam dizer aquilo que realmente pensam, às vezes deixam de dizer o que quer que seja. Fingem... fingem não ter voz."

"Quaisquer que viessem a ser as futuras fronteiras da nação palestiniana , esse país nunca seria a sua pátria, já que nascera árabe em Haifa - em  Israel. Num certo  sentido era uma sem-Estado. (...) Havia no caso dela uma trágica simetria: se voltasse para casa, seria aí, sempre, uma estrangeira."

"Quando as circunstâncias não nos permitem fugir fisicamente, podemos fazê-lo nos nossos pensamentos.  A imaginação é a única parte de nós que ninguém nem nenhum grupo pode tocar. Podemos estar indefesos, mas na nossa imaginação podemos transformar o mundo."

"Devia ter-me dito, a mim ou a outra pessoa, que estava em perigo, pensei. Devia ter gritado por socorro, tão alto quanto pudesse. Mas lembrei-me então que levantar a voz era precisamente aquilo que Sana fora proibida de fazer desde pequena."

"Se acenderes as luzes nessa cave onde vives em Portugal, vais ver que vivemos todos num baile de máscaras. Ninguém sabe quem são os outros."

"Ariel Sharon e o resto do governo israelita acreditam que uma espingarda automática nas mãos de alguém faz dele um herói de guerra e Yasser Arafat e os militantes palestinianos pensam que uma bomba atada à cintura de alguém faz dele um santo. Deus nos livre de heróis e de santos!"

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O tigre branco de Aravind Adiga


Edição/reimpressão: 2009
Páginas: 248
Editor: Editorial Presença
ISBN: 9789722341004
Colecção: Grandes Narrativas

Que dizer deste livro?

Vivenciamos através dele uma existência que não é a nossa , tão diferente que, muitas vezes, se torna difícil imaginar que pertença (ou que pertenceu)  verdadeiramente a uma realidade.

Índia. Castas, submissão levada ao extremo de seres humanos a outros, poluição, sujidade, revolta, vingança, poder, corrupção, tudo se encontra neste livro...

O livro é uma longa carta que Balram, "o Tigre Branco" escreve ao Primeiro Ministro Chinês onde conta como conseguiu passar de uma casta muito baixa a um empresário rico, como ultrapassou os seus valores e as suas obrigações familiares, como se corrompeu e como corrompeu outros para conseguir subir na escala social, em suma, como passou da "escuridão" à "luz", como ele próprio diz.

Retrata bem uma Índia que para nós é desconhecida pois parece-me que contém muita informação verídica. Gostei mas, ao mesmo tempo, fiquei um pouco aturdida com tanta corrupção e falta de valores em todas as castas, numa sociedade injusta e violenta. Mas sim, vale a pena!

Terminado em 26 de Outubro de 2010

Estrelas: 4*

Sinopse

O Tigre Branco arrebatou por unanimidade o Man Prémio Booker Prize de 2008, um dos mais prestigiados galardões literários a nível mundial. Ainda antes da sua nomeação para o prémio, O Tigre Branco era já apontado como um dos melhores romances do ano e Aravinda Adiga como uma grande revelação e um extraordinário romancista. A shortlist para o Booker era composta por candidatos muito fortes, muito embora O Tigre Branco tenha conquistado o júri a uma só voz. Romance de estreia, entrou de imediato nas preferências dos críticos, que o classificaram como "uma estreia brilhante e extraordinária". O livro revela uma Índia ainda muito pouco explorada pela ficção, a Índia negra, violenta e exuberante das desigualdades socioculturais. Toda a obra é uma longa carta dirigida ao Primeiro-Ministro chinês, escrita ao longo de sete noites. O autor da carta apresenta-se como o tigre branco do título, e auto-denomina-se um "empreendedor social". Descrevendo a sua notável ascensão de pobre aldeão a empresário e empreendedor social, o autor da carta, Balram, acaba por fazer uma denúncia mordaz das injustiças e peculiaridades da sociedade indiana. Fica assim feito o retrato de uma sociedade brutal, impiedosa, em que as injustiças se perpetuam geração após geração, como uma ladainha que se entoa incessantemente ao ritmo de uma roda de orações. São muito poucos os animais que conseguem abrir um buraco na vedação e escapar ao destino do cárcere eterno. O Tigre Branco é um deles.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Soltas...

"O corpo de um homem rico é como uma almofada de algodão da melhor qualidade, branca, macia e sem marcas. Os "nossos" são diferentes. (...) A história dum homem pobre está-lhe escrita no corpo, com uma caneta de ponta aguçada."

"Tu, jovem, és um fulano inteligente, honesto e vivaz entre este magote de rufias e imbecis. Em qualquer selva, qual é o animal mais raro...a criatura que só aparece uma única vez em cada geração?
- O tigre branco.
- E é isso mesmo que tu és, nesta selva."

"Porque é que o meu pai nunca me ensinara a lavar os dentes com espuma leitosa? Porque é que ele me educara com um autêntico animal? Porque é todos os pobres têm de viver no meio de tanta imundície, de tanta fealdade?"

"Escova. Escova. Cospe.
Escova. Escova. Cospe.
Oxalá um homem pudesse cuspir o seu passado com a mesmo facilidade."

"Nunca na história da humanidade tão poucos deveram tanto a tantos. Neste país,  um punhado de indivíduos treinou os restantes 99.9 por centro - tão fortes , talentosos e inteligentes como eles em todos os aspectos - para uma existência condenada à servidão perpétua: uma servidão tão forte que podemos entregar a chave da emancipação nas mãos deste homem que ele no-la devolverá com uma imprecação."

"Porque motivo é que o Galinheiro funciona? Como é que consegue aprisionar tantos milhões de homens  e de mulheres com tanta facilidade? Em segundo lugar, será possível um homem escapar do Galinheiro?"

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O décimo terceiro conto de Diane Setterfield


Edição/reimpressão: 2007
Páginas: 368
Editor: Editorial Presença
ISBN: 9789722337328
Colecção: Grandes Narrativas

Não é tão bom quando um livro nos fala de livros?

E este fala-nos de alguns livros, colocando-os na história, ao mesmo tempo que nos conta um conto (o décimo terceiro) que mais não é que a vida de uma escritora célebre. Vida repleta de mistérios e suspense que vai sendo contada por essa mesma escritora e, simultaneamente, descoberta pela entrevistadora.

Margaret, de seu nome, é a biógrafa escolhida por Miss Winter, para reproduzir com veracidade a história da sua vida, vivida no meio de mistérios e horrores que nos obrigam a passar estas páginas cheias de suspense, "mortas" por descobrir o que se esconde nesses mistérios.

Bem escrito, "O décimo terceiro conto" é um livro que recomendo para quem gosta de enredos que cativam pelos segredos que contêm. Para mim falta qualquer coisinha, um clique que me levaria a dar cinco estrelas, mas que é estritamente pessoal, reconheço.

Terminado em 25 de Outubro de 2010

Estrelas: 4*

Sinopse

Arquitectado ao melhor estilo dos grandes romances anglo-saxónicos, O Décimo Terceiro Conto foi eleito "um clássico moderno" pela revista inglesa The Bookseller. Traduzido em 32 países, alcançou o primeiro lugar no top de bestseller do jornal The New York Times, ocupando a mesma posição na revista americana Publishers Weekly, ambos relativos ao mês de Outubro de 2006. O Décimo Terceiro Conto, de Diane Setterfield, tem início quando a filha de um livreiro, Margaret Lea, descobre uma carta da sua escritora inglesa preferida que se imortalizou tornando-se uma verdadeira lenda: Vida Winter. Nessa carta Winter expressa a sua vontade para finalmente contar em livro aspectos nunca antes revelados da sua vida que sempre intrigaram jornalistas e fãs. Depois de ter escrito treze histórias, que apenas continham doze, a sua primeira obra, parece ter chegado agora o momento de desvendar o décimo terceiro conto, a sua própria história. Num compulsivo e emocional mistério, Diane Setterfield cria um enredo considerado "talentoso" pelo Washington Post.

domingo, 24 de outubro de 2010

Soltas...

"Nunca leio sem ter a certeza de que me encontro numa posição segura. sou assim desde os sete anos quando, sentada num muro alto a ler The Water Babies, fiquei tão seduzida pelas descrições da vida submarina que inconscientemente relaxei os músculos. E em vez de acabar a boiar na água que mentalmente me rodeava com tal nitidez , caí no chão e magoei-me. Ler pode ser perigoso."

"Quanto tempo permaneci sentada na escada depois de ler a carta? Não sei. Estava debaixo de um encantamento. Há qualquer coisa nas palavras. Em mãos habilidosas, manipuladas com perícia, elas aprisionam-nos. Enrolam-se em volta dos nossos membros como teias de aranha, e quando estamos tão enfeitiçados que não conseguimos mover-nos, perfuram-nos a pele, entram-nos no sangue, entorpeçam-nos o pensamento. E uma vez dentro de nós, põem a sua magia a funcionar."

"Uma hora depois, o chá intocado está frio. Faço um novo bule e coloco outra chávena a ferver na secretária a seu lado. Ele não dá por qualquer dos meus movimentos. Suavemente, inclino o volume entre as suas mãos para poder ver a capa. (...)observo o rosto do meu pai.Ele não me ouve. Não me vê. Está noutro mundo e eu não passo de um fantasma."

"Numa coisa concordamos: há demasiados livros no mundo para poderem ser lidos durante uma vida, portanto tem de se traçar uma linha algures."

"A separação de gémeos não é uma separação vulgar. Imagine sobreviver a um terramoto. Quando volta a si encontra o mundo irreconhecível. O horizonte está num sítio diferente. O sol mudou de cor. Não resta nada do terreno que conhece. Quanto a si. está viva. Mas isso não é o mesmo que viver. Não admira que os sobreviventes de tais catástrofes desejem tão frequentemente ter perecido com os outros."

"Tem toda a liberdade de ficar calada se é isso que quer. Mas o silêncio não é um ambiente natural para histórias. Elas precisam de palavras. Sem estas empalidecem, adoecem e morrem. E depois perseguem-nos."

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Ai !!!!

Impaciência... Impaciente. É o estado que me caracteriza quando começo a ler e...
começo a pensar noutros livros que tenho para ler. Quando essa leitura não me basta, quando começo a querer saltar de página.

E salto, não de página mas de livro! Ou melhor, neste caso, de livros... E foi assim que saltei o de Adriana Lisboa, "Sinfonia em Branco", possuidor de uma capa belíssima e de uma sinopse que prometia; e o de F. Scott Fitzgerald, "O grande Gatsby".

E pronto!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Um beijo de colombina de Adriana Lisboa


Edição/reimpressão: 2005
Páginas: 174
Editor: Temas e Debates
ISBN: 9789727597505

Foi através de um blog que aprecio muito, o Horas Extraordinárias, de Maria do Rosário Pedreira, editora, que tomei conhecimento desta escritora brasileira, Adriana Lisboa, que por cá tinha passado despercebida.

O livro encontra-se escrito em português do Brasil (não fora a autora brasileira!) o que me soou, nas primeiras páginas estranho e confuso. Parecia que estava a ler um livro de outra língua e não a do nosso "país irmão".

É um romance pequeno, que se lê num ápice, bem escrito, com uma história singular, porque baseada em poemas de Manuel Bandeira; mas não inédita: um livro dentro de um livro. Deste último aspecto só nos apercebemos no final, claro está!

Contudo não me cativou extraordinariamente, por isso a minha pontuação.

Terminado em: 17 de Outubro de 2010

Estrelas: 3*

Sinopse

Teresa foi nadar no mar azul de Mangaratiba e já não voltou. Para trás, deixou um pequeno apartamento, um romance por terminar, alguns livros na estante e um vazio absurdo no peito do homem com quem vivia há oito meses. O seu corpo não foi encontrado, mas, preso por uma íman ao frigorífico da casa da praia, ficou um poema de Manuel Bandeira: “Nas ondas da praia, nas do mar, quero ser feliz, quero me afogar.” Que fazer agora, sem Teresa? Como matar o tédio e dar sentido às horas que demoram a passar? Numa tentativa desesperada de compreender a fatalidade o namorado resolve mergulhar no universo da escritora – nas suas coisas e nas suas palavras – e dele se alimenta para escrever, intercalando as memórias com o sofrimento causado pela perda. À medida que o seu relato avança, comovente e lírico, as certezas sobre as circunstâncias da morte de Teresa vão-se, afinal, desfazendo.

Soltas...

"Depois vi Teresa de novo, mais tarde, na mesma festa, e achei que havia alguma coisa de estranho nela, talvez nos olhos, os olhos pareciam mais velhos do que o resto, como se tivessem nascido primeiro e ficado anos esperando que o resto do corpo nascesse."

"De vez em quando eu pensava na morte, assim, sem mais nem menos, livre associação de ideias, e sentia medo. Hoje acho que o medo se foi."

"A varandinha de outrora ainda existe, foi apenas o outrora que se acabou."

"Compreendi, então. Graças a ela, Teresa, eu aprendi a mudar o foco e encontrar a beleza que está nas frestas deste mundo, e que a tudo invade, quase secreta, tão silenciosa. A beleza gloriosa  de um quase nada."

"(...) e sentou-se no chão da varanda me chamou e ficou em silêncio,ficámos em silêncio enquanto o azul do céu morria dentro da noite. Teresa tinha aquela capacidade de com sua simples presença quieta, calada, me fazer acordar. Para o azul do céu que morria dentro da noite. E nada mais tinha importância. E nada transbordava."

domingo, 17 de outubro de 2010

Mil sóis resplandescentes de Khaled Hosseini


Edição/reimpressão: 2008
Páginas: 324
Editor: Editorial Presença
ISBN: 9789722339087
Colecção: Grandes Narrativas

já sabia... Que ia gostar, claro! Li em Janeiro deste ano, deste mesmo autor, "O menino de Cabul" e gostei muito. É o género de livros que eu prefiro porque, embora sejam romances, há situações verídicas que nos despertam para factos que, por vezes, desconhecemos ou simplesmente "decidimos" ignorar.

Afeganistão. Duas vidas. Duas histórias. Duas histórias de vida que se entrelaçam e se unem, que partilham dores e sofrimentos num país onde o ser mulher é sinónimo de ser inferior.
Regras rigorosas baseadas nas leis islamicas, onde as mulheres têm de andar nas ruas cobertas por burcas e acompanhadas por um homem, que pune o adultério com apedrejamento...


Mariam e Laila. Vidas cruzadas, vividas com dor mas também com uma amizade forte nascida dos infortúnios que partilham. Onde a morte está presente ao lado do amor.

Terminado em 17 de Outubro de 2010

Estrelas: 5*

Sinopse

Há livros que se enquadram na categoria de verdadeiros fenómenos literários, livros que caem na preferência do público e que são votados ao sucesso ainda antes da sua publicação. Há já algum tempo que se ouvia falar de Mil Sóis Resplandecentes, do afegão Khaled Hosseini, depois da sua fulgurante estreia com O Menino de Cabul, traduzido em trinta países e agora com adaptação cinematográfica em Portugal. A verdade é que assim que as primeiras cópias de Mil Sóis Resplandecentes foram colocadas à venda, o romance liderou o primeiro lugar nos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Alemanha, Holanda, Itália, Noruega, Nova-Zelândia e África do Sul, estando igualmente muito bem classificado no Brasil e em França. A própria Amazon americana afirmou que há muito tempo não tinha visto um entusiasmo tão grande a propósito de um livro. Devido ao elevado número de encomendas, nos Estados Unidos, foram realizadas cinco reedições ainda antes do livro chegar às livrarias e na primeira semana após a publicação, já tinham sido registadas um milhão de cópias em circulação. É pois um caso verdadeiramente arrebatador que combina preferências populares potenciadas pelo efeito de passa-palavra às melhores críticas internacionais. Confirmando o talento de um grande narrador, Mil Sóis Resplandecentes passa em revista os últimos trinta anos no Afeganistão através da comovente história de duas mulheres afegãs casadas com o mesmo homem, unidas pela amizade e pela dor proveniente dos abusos que lhes são infligidos, dentro e fora de casa, em nome do machismo e da violência política vigente durante o regime taliban, mas separadas pela idade e pelas aspirações de vida. Um livro revelador, que aborda as relações humanas e as reforça perante reacções de poder excessivo e impunidade.

Um pouco de História

O Afeganistão, oficialmente, República Islâmica do Afeganistão, é um país sem saída para o mar no centro da Ásia. É comumente designado como um país da Ásia central, da Ásia meridional e do Oriente Médio. Possui vínculos religiosos, etno-lingüísticos e geográficos com a maioria dos países vizinhos. Limita com o Paquistão ao sul e ao leste, com o Irão a oeste, com o Turcomenistão, o Uzbequistão e o Tadjiquistão ao norte, e com a China a nordeste. O nome do país significa "terra dos afegãos.

Desde a Antiguidade, a guerra é uma constante na região onde hoje fica o Afeganistão, local já ocupado no século VI a.C. pela civilização bactriana, formada por um povo que incorporava elementos das culturas hindu, grega e persa. Depois disso, o território foi atacado por sucessivos invasores.
O Afeganistão foi invadido e ocupado pela União Soviética em 1979. Mas, apesar da destruição maciça provocada na sustentação logística, lutas subseqüentes entre as várias facções dos Mujahidin permitiram que os fundamentalistas do Talibã se apropriassem da maior parte do país. Em 1997, as forças talibãs mudaram o nome do país de Estado Islâmico do Afeganistão para Emirado Islâmico do Afeganistão.
Nos últimos dois anos o país sofre com a seca. Estas circunstâncias conduziram três a quatro milhões de afegãos a sofrerem de inanição.
Em resposta aos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001 nas Torres Gêmeas (World Trade Center) em Nova Iorque, e no Pentágono, cuja autoria foi reivindicada por Osama bin Laden, líder da Al Qaeda, reconhecido como herói pelos Talibãs, no dia 7 de Outubro de 2001, os Estados Unidos e forças aliadas lançaram uma campanha militar, como parte de sua política antiterrorismo, caçando e prendendo suspeitos de atividades terroristas no Afeganistão e mandando-os para a base de Guantánamo, em Cuba.

A cultura do Afeganistão é milenar. É bastante influenciada pelo Islão, porém recebeu, ao longo dos séculos, influências do hinduísmo e do budismo. Os monumentos históricos do país foram muito danificados por anos de guerra, e um exemplo disso foram as duas gigantescas estátuas de Buda existentes na província de Bamiyan, que foram destruídas pelos taliban por serem consideradas idólatras.

A partir de 2006 mais de quatro milhões de estudantes do sexo masculino e feminino estavam matriculados em escolas por todo o país. No entanto, ainda existem obstáculos significativos à educação no Afeganistão, decorrentes da falta de financiamento, edifícios escolares inseguros e normas culturais. A falta de professoras é uma questão que diz respeito a alguns pais afegãos, especialmente em áreas mais conservadoras. Alguns pais não vão permitir que as suas filhas passem a ser ensinadas por homens.
Alfabetização de toda a população está estimada (em 1999) em 36%, a taxa de alfabetização do sexo masculino é de 51% e do feminino 21%. (retirado de www.wikipedia.org)


sábado, 16 de outubro de 2010

Soltas...

"Mariam nunca tinha usado uma burca e Rashid teve de a ajudar a vesti-la.Sentia o capuz acolchoado pesar-lhe na cabeça r apertá-la e era estranho ver o mundo através de uma rede. Exercitou-se no quarto a andar com ela, mas tropeçava constantemente na bainha. A perda de visão periférica era enervante, e desagradava-lhe a forma como o tecido enrugado se lhe colava à boca sufocando-a."

"Sabem, há coisas que eu posso ensinar-vos. Outras vocês aprendem em livros. Mas há coisas que, bem, têm de ser vistas e sentidas."

"Nesse instante, toda aquela conversa da Mamã acerca de reputações lhe pareceu irrelevante. Absurda até. No meio de toda aquela matança e saque, de todo aquele horror era uma coisa inofensiva estar ali sentada debaixo de uma árvore e beijar Tariq."

"Era a primeira vez que morria alguém seu conhecido, de quem ela fora íntima, de quem amara. Não conseguia assimilar a inescrutável realidade de que Giti já não estava viva. Giti estava morta. Morta. Feita em pedaços. Laila começou finalmente a chorar pela amiga."

"Permaneceu ali até ele se cansar, até ele desistir, e depois escutou-lhe os passos incertos até se extinguirem, até tudo ficar silencioso, exceptuando o crepitar das armas nas montanhas e o seu próprio coração a martelar-lhe no ventre, nos olhos , nos ossos."

As liberdades e oportunidades que as mulheres haviam gozado entre 1978 e 1992 pertenciam ao passado; Laila ainda se recordava do comentário do Babi a propósito desses anos de domínio comunista, são bons tempos para se ser mulher no Afeganistão, Laila."

"Como todas essas coisas deixaram de ter importância para mim após todas as perdas, todas as coisas terríveis a que assisti nesta maldita guerra. Mas agora, evidentemente, é demasiado tarde. Talvez compreender apenas quando as coisas já não têm remédio seja o castigo justo para os que não tiveram coração."

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Soltas...

"Precisava de luz, precisava de ar e, por isso, levantou-se e foi ajudar o Galopim. Pensou que lhe bastava chegar e abrir a porta, mas a fechadura recusou o seu jeito. Depois recusou a sua força."

"No céu os pássaros faziam sentido. O Ilídio acreditava num futuro que imaginava imperfeitamente. Avançava dentro dele. Talvez por isso, aquele caminho pareceu-lhe longo, como se atravessasse uma idade."

"O Ilídio avançou pela rua até desaparecer, até ficar só a rua vazia, até parecer que também a rua desapareceu. O Josué fechou a porta e a casa tornou-se definitiva, nenhum lume seria capaz de aquecê-la."

"Arrastavam uma vontade que era cada vez mais difícil de explicar, náufragos de todas as palavras que não diziam, manchas cinzentas a atravessarem campos, a esconderem-se. Entre eles, seguia a Adelaide, pensamentos misturados com mágoa e pó."

"E continuaram. Sem relógio, não eram capazes de prever que a manhã iria nascer daí a uma hora. O negro do céu era tão opaco quanto o mundo que não existia a metros, quilómetros, do lugar onde estavam."

"O Cosme ia ferrado a dormir de boca aberta, o corpo oblíquo à poltrona. O Ilídio tinha ideias que não o deixavam adormecer, eram como pedras bicudas dentro dos olhos. Às vezes, talvez por sugestão, chorava-lhe a vista."

"Essas tardes eram uma muda de ar. Tirando isso, o pó acumulava-se em camadas sobre os livros da mesmo maneira que os dias se acumulavam uns sobre os outros. A Adelaide acumulava tempo e pó, enleava-se nesses materiais."

"O Ilídio e a Adelaide respondiam a perguntas, tinham mãos que se interessavam pelos objectos, mas dentro deles, chegou um silêncio que cobriu e preencheu tudo, como a preparação de uma tempestade."

"A Adelaide desapareceu atrás do chafariz. O Ilídio não temeu o arrulhar das águas e desapareceu no mesmo ponto, atrás do mesmo muro. Quando a Adelaide saiu atrás do muro do chafariz, já uma vírgula iniciara o percurso em direcção ao seu útero."

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Livro


Edição/reimpressão: 2010
Páginas: 264
Editor: Livros Quetzal
ISBN: 9789725648995
Colecção: Língua Comum

Este livro tem um registo muito diferente do que li anteriormente e, talvez por isso, custou-me um pouco a entrar na história. Mas fiquei rendida ao fim de algumas páginas!

É um livro de uma escrita apaixonante, para ler devagar, para saborear lentamente... Voltei atrás variadíssimas vezes para reler frases lindíssimas que careciam de uma nova leitura, mais atenta.

A história tem como pano de fundo uma situação verificada anteriormente em Portugal: a emigração de muitos portugueses para França, clandestinos, à procura de uma vida que lhes trouxesse mais fartura e menos miséria. Viagem cheia de perigos e dificuldades...

Os livros estão presentes nesta leitura, sobretudo um, que acompanha alguns personagens pela vida fora, mas Livro é o nome de um desses personagens.

Imaginativo, muito bem escrito, com uma poesia toda própria, com um humor que nos faz sorrir interiormente, "Livro" é um livro a ler. Seguramente!


Terminado em 13 de Outubro 2010

Estrelas: 5*

Sinopse

Este livro elege como cenário a extraordinária saga da emigração portuguesa para França, contada através de uma galeria de personagens inesquecíveis e da escrita luminosa de José Luís Peixoto. Entre uma vila do interior de Portugal e Paris, entre a cultura popular e as mais altas referências da literatura universal, revelam-se os sinais de um passado que levou milhares de portugueses à procura de melhores condições e de um futuro com dupla nacionalidade. Avassalador e marcante, Livro expõe a poderosa magnitude do sonho e a crueza, irónica, terna ou grotesca, da realidade. Através de histórias de vida, encontros e despedidas, os leitores de Livro são conduzidos a um final desconcertante onde se ultrapassam fronteiras da literatura. Livro confirma José Luís Peixoto como um dos principais romancistas portugueses contemporâneos e, também, como um autor de crescente importância no panorama literário internacional.