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segunda-feira, 18 de março de 2024

Para os Mais Pequeninos: "O Meu Pai Tem Muita Pinta" de Bea Taborda e César Barceló


Um livro com uma história simples, com acontecimentos do dia-a-dia, que envolvem um pai e uma filha. A pequena narradora dá-nos a conhecer o seu pai: o que faz no trabalho e como gosta de desenhar; as suas conversas e todos os pequenos pormenores que transformam o seu pai num companheiro de brincadeiras mas, também, em alguém em quem confia e lhe dá apoio.

A história pode ser simples mas por detrás dela estão descritas as pequenas coisas que fazem o dia a dia, um dia cheio de significado e importância: os pequenos gestos de amor que contribuem para um crescimento saudável.

Vão gostar de ler e observar as imagens tão ricas que ilustram bem o conteúdo! Uma boa prendinha para os pequeninos darem no dia do Pai. Juntos, esta leitura tornar-se-á um verdadeiro deleite!

 





Cris

quinta-feira, 7 de março de 2024

Resultado do Passatempo "Toca a comentar!" - Mês de Fevereiro

Anunciamos o vencedor deste passatempo referente ao mês de Fevereiro.

Este é o link para o post onde se encontra anunciado o passatempo.

Assim, através do Random.Org, de todos os comentários efectuados nesse mês, foi seleccionada uma vencedora! Foi ela:

Cidália Ferreira

Parabéns! Terás que comentar este post e enviar um email para otempoentreosmeuslivros@gmail.com até ao próximo dia 22, com os teus dados e escolher um de entre estes dois livros:

Cris

segunda-feira, 4 de março de 2024

"Mulheres da China" de Xinran

Livro de não ficção que habitava nas minhas estantes há demasiado tempo. Às vezes os clubes de leitura fazem-nos pegar nos livros “esquecidos” e, neste caso, a surpresa não poderia ter sido melhor.

Na capa é referido: "Um livro que começa onde Cisnes Selvagens de Jung Chang terminou: a vida das mulheres chinesas depois de Mao".

Xinran é jornalista e, presentemente, não vive na China. Mas apresentou, durante aproximadamente oito anos, um programa na rádio, “Palavras na Brisa da Noite” que, pese embora tivesse de passar pelo crivo da censura do Partido, conseguiu ser um espaço de reflexão e partilha de muitos problemas e questões levantadas pelas mulheres chinesas, que até aí, não tinham voz. Começou a receber inúmeras cartas, muitos pedidos de ajuda e de opinião, muitas das quais não poderia ler em público. De qualquer modo, durante esse tempo conseguiu dar a conhecer um pouco a realidade da mulher chinesa, Confesso que todo este livro foi, para mim, uma descoberta constante.

A radio era a porta-voz do Partido pelo que só podiam transmitir o guião depois de devidamente escrutinado e o programa final depois de gravado e editado passava por um departamento que supervisionava tudo. Logo, as chamadas recebidas não podiam ser atendidas em tempo real. No entanto, entrevistou várias mulheres - jovens e mais velhas - e pode perceber a diferença de atitudes entre elas e a descrença das mais novas face às atitudes dos homens que consideravam machistas. O fosso entre gerações mostrava-se grande.

A história das mulheres da China e das suas lutas por igualdade de tratamento não caminha de par em par com a história das mulheres ocidentais. "Nos anos 30 do século XX, quando as mulheres ocidentais já estavam a exigir a igualdade sexual, as mulheres chinesas estavam apenas a começar a desafiar a sociedade dominada pelo homem, não querendo que os pés fossem ligados ou que os casamentos fossem arranjados pela geração mais velha" (pág 65).

Xiran conta-nos em cada capítulo histórias de vida de algumas mulheres chinesas e, ao mesmo tempo, um pouco da sua história familiar. Alguns relatos são impressionantes.

Em 1997 Xiran sai da China e vai viver para Inglaterra. O sentimento que passa ao leitor neste livro todo é que tudo o que viveu foi demais para ela. Precisava sair. Viver livre.

Recomendo muitíssimo. Tenho outro livro da autora na estante que quero ler em breve, "Mensagem de Uma Mãe Chinesa Desconhecida".

Terminado em 13 de Fevereiro de 2024

Estrelas: 6*

Sinopse

Durante oito inesquecíveis anos, a jornalista Xinran apresentou na China um programa de rádio em que muitas mulheres falavam de si próprias e da sua vida. «Palavras na Brisa Nocturna», assim se chamava, rapidamente se tornou no mais famoso programa de rádio chinês. Nele se revelava o que significa ser mulher na China de hoje. Nesta primeira obra impressionante, Xinran revela as muitas formas como foi obrigada a contornar o sistema e dá voz a todas as mulheres chinesas, independentemente do seu estrato social. Este é um livro que começa onde «Cisnes Selvagens» de Jung Chang terminou: a vida das mulheres chinesas depois de Mao.

Cris


segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

"A Estranha Sally Diamond" de Liz Nugent

Sally considera-se a ela própria uma pessoa estranha mas até vive bem com isso. Na escola sofreu algum bullying mas, acredita, ter superado bem esses factos. Já tem por volta dos 40 anos, vive sozinha desde o falecimento do seu pai, famoso psiquiatra. Alguns aspectos da sua personalidade levam o leitor a pensar que possui traços do espectro do autismo, com alguns laivos de TOC. Não suporta o toque e tem um cuidado extremo com a arrumação e limpeza. Vive afastada de uma povoação na Irlanda e gosta de estar só. Para não ter de conversar com as pessoas que encontra quando tem de ir às compras finge-se muitas vezes de surda. É estranha, sim. O leitor apercebe-se disso logo no início mas o desenrolar da acção traz muitas surpresas!

Sally toca magistralmente piano e isso acalma-a quando em situações de stress. Não tem memórias anteriores aos seus sete anos. Com a morte do pai, que a protegia do mundo exterior, Sally vê-se confrontada com muitos acontecimentos que a fazem interrogar-se interiormente. Quem é ela? As cartas que o pai deixa, alguns familiares, o mundo exterior que lhe entra em casa em catadupa, deixam-na atordoada. E, podem crer que o leitor fica ainda mais!

Muito bem construído, desvendando aos poucos, mistérios atrás de mistérios onde a violência física e emocional estão presentes, torna este livro perfeito. Um thriller psicológico fantástico e, o que mais impressiona, é a sua aparente “normalidade”. Podia perfeitamente corresponder a um caso real! Essa noção que o leitor tem de que, algures por aí, estes acontecimentos poderiam ter lugar é assustador. Creio que será sentimento partilhado por todos os leitores.

Um final que, embora expectável porque muito real, nos deixa a pensar como a educação pode influenciar os comportamentos humanos e como é bem difícil fugir e alterar os padrões educacionais.

Devem ler porque esta leitura vai deixar-vos agarrados a estas páginas e, creio, angustiados com o que o Homem consegue fazer ao seu semelhante. Recomendo muito!

Terminado em 9 de Fevereiro de 2024

Estrelas: 6*

Sinopse

Sally Diamond não consegue perceber porque é que aquilo que fez é assim tão estranho. Ela limitou-se a fazer o que o pai lhe pediu: pô-lo no lixo quando ele morresse. Habituada a uma vida solitária, Sally vê-se agora no centro das atenções, tanto por parte dos vizinhos, como da polícia e da comunicação social. No meio da confusão gerada em torno do incidente, Sally começa a receber mensagens anónimas de alguém que conhece o seu passado, um passado do qual ela não tem qualquer memória. Ao mesmo tempo que vai descobrindo os horrores da sua infância, Sally começa a explorar o mundo pela primeira vez, fazendo amigos, conquistando a sua independência e percebendo que as pessoas nem sempre dizem o que realmente estão a sentir. Mas quem é o homem que a observa e lhe escreve do outro lado do mundo? 

Cris


quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

"Mais Cedo Secará a Terra" de Fernando J. Múñez

E que tal um livro fantástico sobre uma saga familiar? São 400 páginas de puro deleite. Claro que tive de anotar, no princípio, quem era quem mas depressa os nomes se ligaram às personagens. O mesmo já me tinha acontecido com "A Cozinheira de Castamar", obra do mesmo autor (opinião aqui!), mas creio que este me prendeu mais. Ou é talvez porque ainda tenho muito viva a sua presença em mim.

A época em que se passa esta trama não é revelada totalmente, mas andará pelo século XIX em Espanha. Senhores da terra, do gado, de minas de carvão com pequenos impérios à sua volta, os paços familiares. As ordens dadas pelo familiar mais velho eram para serem cumpridas, os casamentos combinados para que as famílias prosperassem ainda mais. No entanto, na família dos Castronaveas as coisas não se passam realmente assim, para infelicidade de Don Dositeu, o patriarca da família, que tenta gerir com pulso férreo os homens e mulheres que o rodeiam. As mulheres desta família tendem a ser, com o decorrer da trama, cada vez mais decididas e senhoras do seu destino. Exemplo disso é Iria, que foge completamente do estereótipo da mulher de então, com o apoio incondicional de seu pai. 

Duas famílias desavindas, ódio fortes que provocam mortes, quezílias familiares, segredos descobertos, invejas, amores impossíveis. Um turbilhão de acontecimentos que nos prende verdadeiramente. 400 páginas que poderiam ser mais ainda porque teriam em mim uma leitora sôfrega!

Terminado em 4 de Fevereiro de 2024

Estrelas: 5*+

Sinopse

Galiza, 1845
André de Castronavea está radiante por regressar para junto da sua família e à casa onde nasceu, mas o seu maior desejo é rever a sua tia Iria, pouco mais velha do que ele, meia-irmã do seu pai. O reencontro dos dois liberta sentimentos até então aprisionados, e a relação proibida torna-se cada vez mais difícil de conter.
Enquanto isso, Dom Isidro Ordás, um empresário implacável de Ponferrada, abriu minas nas terras dos Castronaveas, iniciando um conflito com o patriarca Dom Dositeu, que preside a uma família marcada pelo seus próprios conflitos e segredos.
A luta pelo controlo da terra, o legado de Dom Dositeu e o inevitável confronto com os Ordás revelam como os laços familiares podem ser uma bênção ou uma condenação, levando a traições dolorosas, corações dilacerados e sacrifícios que exigem sangue, coragem e um amor inabalável.

Cris

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

"A Espera" de Keum Suk Gendry-Kim (GN)


Ofertaram-me esta graphic novel e dei uma vista de olhos na sinopse. Fiquei muito curiosa. Nem conhecia esta GN nem sabia quase nada sobre o tema tratado. A separação de muitas famílias, desde Junho 1950 até Julho de 53, na Guerra da Coreia, um conflito armado que colocou ambas as Coreias em confronto directo. Famílias separadas, a maioria das quais para sempre, aquando do êxodo de pessoas que fugiam da Coreia do Norte para o Sul. Muitas ficaram em lados opostos de uma fronteira intransponível.

A autora reuniu vários testemunhos, inclusive o da sua própria mãe, separada da irmã durante a guerra, para se basear na feitura desta história. A "Espera" traduz todos os sentimentos de anos de espera de quem se viu apartado dos seus familiares durante anos e ainda possui a esperança de reencontrar parentes vivos. Reencontros que se dão esporadicamente e que mantêm a esperança viva.

Gwijá tem 92 anos e perdeu-se do marido e do filho mais velho quando seguia numa coluna de refugiados para a Coreia do Sul. Vidas refeitas após isso mas o coração sempre preso a esse amor perdido.

Monocromática, nesta GN o traço característico mais predominante e marcante é precisamente os rostos dos personagens. Título sublime. Vidas inteiras à espera.

Terminado em 31 de Janeiro de 2024

Estrelas: 6*

Sinopse

Gwijá tem noventa e dois anos e vive na Coreia do Sul. Após sete décadas de espera, ainda mantém o desejo de reencontrar o filho mais velho, de quem se separou quando seguia numa coluna de refugiados que fugiam do norte da Coreia. Gwijá teve de parar para amamentar a filha bebé e perdeu o marido e o filho no meio da multidão. Agora, num encontro organizado pela Cruz Vermelha, a sua amiga Jeong-Sun reencontra a irmã mais nova, após sessenta e oito anos de separação. Gwijá só deseja ter a mesma sorte e voltar a encontrar o filho. Em 1950, a Guerra da Coreia separou famílias inteiras, que ficaram de lados opostos de uma fronteira intransponível. A partir das entrevistas que Keum Suk Gendry-Kim conduziu e dos vários testemunhos que reuniu (entre eles, o da própria mãe), o livro A Espera reconstrói o trauma familiar causado pela divisão da Coreia e pela guerra, e as suas dolorosas consequências. «Um retrato da trágica experiência dos refugiados coreanos que revela com pormenores comoventes os impactos da colonização e da convulsão política que reverberam por gerações.» Publishers Weekly «Um relato inesquecível do impacto duradouro da Guerra da Coreia.» Library Journal «Com pinceladas cruas e uma estrutura narrativa magistral, a autora cria uma combinação comovente, retratando como a esperança e o desgosto atravessam gerações.» The Washington Post «Uma história de partir o coração.» The Toronto Star «Os elegantes cenários de Gendry-Kim, compostos apenas por figuras escuras cercadas por espaços em branco e contornos, sugerem as formas desconcertantes como o passado nos esvazia.» Oprah Daily «Uma obra-prima impressionante. As composições a preto-e-branco de Gendry-Kim são incrivelmente comoventes e empáticas.» Booklist «Uma das novelas gráficas mais comoventes do ano.» BookPage 

Cris

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

"A Casa Entre os Pinheiros" de Ana Reyes

Às vezes sabe bem um livro assim, que te prende de imediato com os seus mistérios que não és capaz de adivinhar de todo mas que te põe a fazer suposições! Se pretendem um livro para desanuviar sem ser, de todo, lamechas com temas muito interessantes ao nível da personalidade do indivíduo, este é o livro!

Algumas vezes pensei que a trama iria por caminhos que não aprecio, suposições algo paranormais ainda me passaram pela cabeça mas não quis acreditar nisso. Tinha de existir um motivo lógico e assim foi. Se pensei nele? Não. Se gostei de como termina este thriller? Muito. Saber como irá terminar sem saber como termina. Faz sentido? Pois, talvez não, mas foi o que senti. 

Seguimos Maya em dois espaços temporais diferentes com uma diferença de sete anos entre eles. A história é contada na terceira pessoa e embora sinta que se fosse na primeira poderia ter um impacto mais forte, não há forma de não ficarmos viciados nos seus problemas. Refugiou-se, após a morte da sua melhor amiga quando adolescente, em comprimidos e álcool. Duas misturas que a fazem dependente mas que tenta não dar a perceber às pessoas que a rodeiam, sobretudo a Dan, seu namorado. Mas as coisas complicam-se ...

Leiam a sinopse. Ficam só com uma ligeira ideia. Contar mais seria spoiler. As surpresas estão lá dentro, bem guardadas! Adorei lê-lo!

Terminado em 29 de Janeiro de 2024

Estrelas: 5*

Sinopse

Aquilo de que não te consegues lembrar pode destruir-te?

Maya estava prestes a terminar o ensino secundário quando a sua melhor amiga, Aubrey, morre misteriosamente na companhia de um homem enigmático chamado Frank, com quem Maya havia iniciado um relacionamento naquele verão. Sete anos mais tarde, Maya vive em Boston com o namorado e luta contra o vício secreto que a ajudou a lidar com o que aconteceu anos antes e com as inexplicáveis lacunas na sua memória. Porém, o passado regressa em força quando descobre um vídeo recente no YouTube, onde uma jovem morre repentinamente durante um encontro com Frank. Decidida por fim a resolver o trauma que lhe marcou a vida, Maya regressa à sua cidade natal para reviver aquele verão fatídico e resolver de vez o mistério da morte de Aubrey. Em casa da mãe, desenterra fragmentos do passado e, num manuscrito que o pai nunca chegou a concluir, encontra mensagens escondidas, pistas de que ainda não se tinha apercebido. Para se salvar, Maya precisa de conhecer a lição oculta numa história escrita antes do seu nascimento; porém, o tempo continua a passar e, rapidamente, todos os caminhos voltam a conduzi-la à cabana de Frank...

Cris

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

"Invisível" de Eloy Moreno

Há livros que devem ser lidos por todos. Este é um exemplo disso. Não só pelo tema tratado mas, sobretudo, pela forma como é feito... e bem feito. Creio que é dirigido a um público mais jovem mas perfeitamente adequado a todos.

É um relato, maioritariamente feito na primeira pessoa por um rapazinho (não consigo precisar qual a sua idade, talvez por volta dos onze) sobre o ambiente familiar e escolar em que vive. O autor soube com muita perspicácia colocar-se no seu lugar e, melhor ainda, colocar o leitor no seu lugar.

A sua família não é desestruturada mas os seus pais lutam para conseguirem atingir os seus objectivos que passam, como todos nós, por uma vida melhor. Neste, como em muitos lares, a falta de tempo útil com os filhos é uma dura realidade, pais muito ocupados, portanto. Por um desentendimento com um colega mais velho e muito popular a que fez frente, o rapaz (será dito o nome dele em toda a obra?) começa a sofrer de bulling e não reage. 

Escrito com intenso realismo que coloca o leitor dentro das situações que se vão sucedendo umas após outras, este livro torna-se, passadas as suas primeiras páginas, num "page turner". Confesso que foi difícil de perceber o sentido das páginas iniciais dado os nomes tão fora do comum que o rapaz atribui aos seus amigos e outros pormenores que não irei revelar mas, depois, tudo faz sentido no decorrer desta belíssima leitura.

O facto de chegar ao fim do livro sem me aperceber se foi referido o nome do protagonista nem a sua idade, fez-me pensar que talvez tenha sido intencional. É que alguém nas mesmas condições pode estar ao nosso lado... Será que reparamos nele?

Recomendo vivamente. Gostei muito!

"- Hoje também não trabalhas, pai?
- Não, hoje não, deram-me licença para estar contigo aqui, a cuidar de ti.
- Não podem dar-te essas licenças quando estou bem, quando não estou doente, para podermos passar mais tempo juntos?"

Terminado em 21 de Janeiro de 2024

Estrelas: 5*

Sinopse

Quem nunca sonhou ser invisível? E quem nunca desejou deixar de o ser, para que os outros nos vejam tal como somos?

Emotiva, surpr­eendente e diferente, esta história podia ser a de qualquer um de nós.

Um rapaz acorda no hospital após um acidente grave. Quando os pais lhe pedem para falar com uma psicóloga, ele explica-lhe que tudo aconteceu porque se tornou invisível e desenvolveu uma série de superpoderes. É então que começa a contar como tudo se passou…

Ele pega na sua mochila, desce as escadas e caminha para a escola. Poderia ter sido uma sexta-feira como qualquer outra, não fosse o teste de Matemática na última hora. E se, daquela vez, o rapaz tivesse dado outra resposta, talvez as coisas tivessem sido diferentes. Mas aquela resposta muda a sua vida.

De um dia para o outro, o seu mundo fica cheio de monstros: que vão e voltam, que magoam e humilham. E outros monstros que assistem a tudo e viram a cara. O rapaz sente a raiva crescer dentro dele, mas não sabe o que fazer com ela. Gostaria de se tornar um super-herói, de ter um superpoder capaz de impedir que se magoe novamente.

E, de repente, ele encontra esse poder, o poder da invisibilidade. 

Cris

 

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

"Um Dia na Vida de Abel Salama" de Nathan Thrall

Uma pérola este livro! Não é só pela tão actual temática, baseada em factos verídicos, mas pela forma como o autor escolheu para contar esta história, fazendo um ponto de situação na História dos povos palestiniano e israelita. Sendo jornalista e analista judeu norte-americano a viver em Jerusalém, escrevendo para vários jornais e revistas, dirigiu mais de uma década o Projecto Árabe-Israelita do International Crisis Group, uma organização independente dedicada à prevenção de conflitos, Nathan soube como manter o leitor agarrado porque o ritmo da acção é intenso e constante. 

Para além disso desejaríamos que esta história não fizesse parte da História. A crueldade deste conflito está bem expressa aqui nestas páginas. Em linhas gerais, pode-se traduzir esta obra na busca de um pai pelo seu filho de cinco anos, quando sabe que o autocarro onde ele ia, sofreu um acidente. 

Mas depois é todo um percorrer por terras cujos nomes conhecemos mas que um mapa ajuda a localizar visualmente: Jerusalém, Cisjordânia, Gaza. Nomes como FDLP, OLP, Fatah, começam aos poucos a fazer sentido. Mas, confesso, foi-me difícil perceber todo o contexto histórico descrito e fixei-me nas personagens e suas histórias de vida. A segregação existente entre palestinianos e israelitas, com cartões de identidade diferenciados por cores consoante as zonas a que podem aceder, esta distinção entre homens de primeira e de segunda, levou a situações de injustiça às quais é impossível ficar indiferente. Muros cada vez mais extensos separam famílias e amigos, colonatos crescentes, estradas para palestinianos e outras para israelitas. É impressionante como conseguimos viver a nossa vida sem termos consciência destas realidades que deveriam chegar-nos a casa através dos meios de comunicação social e que desconhecemos...

O acidente de um autocarro transportando crianças de infantário, a pouca assistência dada e a ajuda tardia, resultou na morte de oito crianças e dois adultos. Poderiam ter sido salvos se a ajuda tivesse chegado mais cedo? Porque demorou tanto tempo a chegar?

Este livro foi publicado em 3 de Outubro de 2023, tendo a guerra rebentado depois.

É bem mais fácil lermos este livro e pensar que é uma obra de ficção. Antes fosse. Obrigatório ler!

Terminado em 20 de Janeiro de 2024

Estrelas: 6*

Sinopse

Uma tragédia pessoal sobre o pano de fundo do trágico conflito israelo-palestiniano. Milad Salama tem cinco anos. Está entusiasmado com a viagem escolar a um parque temático nos arredores de Jerusalém. O autocarro, porém, não chega ao destino. Ao saber do acidente, Abed, pai de Milad, inicia uma via-sacra em busca do filho desaparecido. As crianças acidentadas foram levadas para diferentes hospitais de Jerusalém e da Cisjordânia. Abed, em desespero, vê-se confrontado com um labirinto de obstáculos físicos, emocionais e burocráticos. É palestiniano e está do lado errado do muro que separa dois povos vizinhos e inimigos. O relato detalhado de Nathan Thrall — a partir de uma história particular — ilustra de forma comovente e perturbante a profunda crueldade do conflito israelo-palestiniano. Um pai em busca de um filho, depois de um terrível acidente, confronta-se com as consequências cruéis de um conflito sem fim à vista. Uma trágica histórica particular que é afinal uma tragédia colectiva.

Cris

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

A Convidada Escolhe: “Acreditar nas feras”

“Acreditar nas feras”, Nastassja Martin, 2019

Se quisesse caracterizar este livro, diria que se trata de um relato autobiográfico de uma antropóloga que, após ter vivido uma situação limite que certamente a vai marcar para o resto dos seus dias, faz uma reflexão sobre a vida, sobre o universo e sobre as relações de poder.

Creio que a experiência limite que Nastassja Martin retrata neste “Acreditar nas Feras” não pode estar desligada do facto de, como antropóloga, integrar na sua investigação a etnografia e uma visão animista das coisas que lhe permitem ter em relação ao mundo e à natureza uma atitude particular e diferenciadora. “Há anos que recolho relatos sobre as presenças múltiplas que podem habitar um mesmo corpo para subverter esse conceito de identidade unívoca, uniforme e unidimensional.” (pág. 49). A sua vida tem sido uma constante fuga do conforto da cidade e a busca do conhecimento de povos que estejam mais próximos da natureza, tentando subverter ideias feitas. E face à estranheza por ter sido atacada por um urso e ter sobrevivido – ela é a mulher que sobreviveu - “convertemo-nos num ponto focal de que toda a gente fala, mas que ninguém compreende” (…) “Daí a pressa com que uns e outros querem colar etiquetas, para definir, delimitar, dar uma forma ao acontecimento”. (pág. 95) “Pela minha parte, vou permanecer nesta terra-de-ninguém.” (pág. 96)

Para além de ser tratada como uma cobaia, um objecto de estudo dos estudantes de medicina, fotografada sem que lhe peçam autorização, “desnudada, amarrada, empanturrada, estou na fronteira da humanidade, creio mesmo que no limite do suportável”. (pág. 17), só é desamarrada quando se mostra obediente e bem-comportada, há o mal-estar por se sentir numa sociedade que tem pena dela “Está desfigurada, a pobrezinha” (pág. 48). É clara a denúncia do sistema hospitalar, da competição entre os sistemas russo e francês e dentro do francês, os resquícios da guerra fria e da época soviética. Afinal de contas, ela não só é sobrevivente, mas também estrangeira e, quem sabe, espia.

O livro tem a presença muito forte da mãe/das mães – a de Nastassja que vive em Grenoble e Daria a mãe de Ivan que vive na floresta de Tvaian – que nos surgem como seres fortes, sábios e protectores. Mesmo que as saídas de Nastassja para lugares longínquos e inóspitos a angustiem e preferisse que ela não fosse, a mãe dá-lhe sempre a possibilidade de escolher o caminho que deseja para a sua vida. “A minha mãe viveu outras guerras…”(pág. 24) “A minha mãe chora, mas sabe que, no fundo, essa é a minha única saída.”(…) “A minha mãe mantém-se firme, não fraqueja: a minha mãe dá-se conta de que a sua filha está ligada a uma floresta e tem de mergulhar de novo nela para acabar de se curar no interior”. (Págs. 76 e 77)

Termino com a ideia de um livro belo, mas angustiante e perturbador. Reflectindo sobre a alienação produzida pela nossa civilização, num “mundo que se desmorona ao mesmo tempo em todo o lado, malgrado as aparências.” (Págs. 105 e 106)

13 de Fevereiro de 2024

Almerinda Bento




segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

"Olá Linda" de Ann Napolitano

Ouvi falar bem deste livro a muitas pessoas conhecidas e achei que seria uma leitura corrida sem muitos sobressaltos. Foi escolhido por isso. Cumpriu os objectivos? Sim.

William e Julia. Passados bem distintos, da parte do primeiro, marcas familiares profundas que influenciaram toda a sua infância; por parte do segundo, irmãs fortemente unidas por laços de amor e camaradagem. Onde um teve indiferença o outro teve amor. 

William cresceu solitário. Uma tragédia familiar levou ao afastamento e à indiferença dos pais em relação à sua vida toda. A perda pode levar a dores tais que, às vezes, os que ainda vivem são esquecidos. William tenta sobreviver, afastando da sua vida o carinho e dedica a sua total atenção ao desporto na esperança de se tornar especialmente bom. Julia é quem lidera as suas irmãs. O seu feitio decidido e expansivo faz com que todos a sigam. Segundo ela a pessoa indicada para William é... ela mesma!

Personagens muito humanas com características facilmente reconhecíveis em quem nos rodeia, que nos prende pela escrita corrida, simples mas profundamente tocante. Temas como a perda, a superação da morte de um ente querido, o abandono, a saúde mental, os laços familiares que se estreitam e que se afastam consoante os reveses da vida, o lutar pelo que se acredita e sente, o ser-se leal a si próprio mesmo quando isso significa perder "amigos", o aceitar-se e reclamar o que nos pertence.

Gostei muito!

Terminado em 12 de Janeiro de 2024

Estrelas: 5*

Sinopse

Poderá o amor curar uma pessoa ferida?

Uma história comovente sobre como é possível amar alguém, não apesar de quem a pessoa é, mas por causa disso mesmo.

William Waters cresceu numa casa silenciada pela tragédia, na qual os seus pais mal conseguiam olhar para ele, muito menos amá-lo; mas quando conhece a vivaz e ambiciosa Julia Padavano, é como se o seu mundo se iluminasse. E com Julia vem a sua família, pois ela e as três irmãs são inseparáveis: Sylvie, a sonhadora, é feliz com o nariz enfiado nos livros; Cecelia é um espírito livre, apaixonado pelas artes; Emeline cuida pacientemente de todos eles. Com os Padavanos, William experimenta um novo sentimento: ter um lar, pois cada momento naquela casa é repleto de caos amoroso.

É então que a escuridão do passado de William vem à tona, colocando em risco não apenas os planos cuidadosamente pensados por Julia para o futuro de ambos, mas também a inexorável devoção das irmãs umas pelas outras. O resultado é uma desavença familiar catastrófica que muda irremediavelmente as suas vidas.

Será a inabalável lealdade que outrora os ligava forte o suficiente para voltar a reuni-los quando é mais importante?

Cris

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

"O Japão é um Lugar Estranho" de Peter Carey

Primeiro livro lido este ano. Peguei nele para o grupo de leitura da Livraria Buchholz, orientado pela Tânia Ganho. Foi uma das sugestões e dado que o tinha na estante foi, por essa razão, o escolhido. Ainda comecei a ler outro ("A Casa das Belas Adormecidas" de Yasunari Kawabata) mas não consegui avançar. Achei o tema tratado muito estranho (literatura sobre/do Japão) e fiquei sem vontade de continuar.

Há um livro que vai ficar para sempre na minha memória:"Tóquio Vive Longe da Terra" de Ricardo Adolfo. Pelo seu humor tão especial e a sua visão do mundo que o rodeava, dos costumes japoneses e das "figuras" que o autor fazia no seu dia a dia em Tóquio, este é um livro para reler, com toda a certeza.

Deste livro não posso dizer que tenha adorado. Partes houve que não me disseram nada mas creio que contribuiu também para isso o facto de concordar com o título: o Japão é um lugar estranho, sem dúvida. Sobretudo pelas diferenças culturais existentes e que, sinceramente, gosto de conhecer mas não as entendo muito bem. 

É um livro de viagens e retrata a que o autor fez com o seu filho de 12 anos ao Japão porque este era um forte admirador desse país e dos seus costumes. O seu desejo era visitar o "verdadeiro Japão". Se tiverem interesse no assunto, espreitem. O Japão é um lugar estranho, sem dúvida, mas gostava muito de lá ir!

Terminado em 11 de Janeiro de 2024

Estrelas: 4*

Sinopse

«Peter Carey percorre a Tóquio moderna e entrevista os protagonistas da cultura da manga, procura respostas impossíveis, naquele estilo levemente ébrio que nos faz nunca perder a sua prosa.»
— Guardian

«Escrito com a destreza narrativa de um romancista de créditos firmados (vencedor do Booker Prize por duas vezes), este livro traz em si, também, a urgência da reportagem e a capacidade de observação do melhor jornalismo. Revela‑nos aquilo a que muita gente ainda não terá dado a atenção necessária: que há uma nova geração de adolescentes ocidentais a crescer, nesta primeira década do século XXI, sob a influência da cultura popular japonesa. Peter Carey conduz o filho e é conduzido (levando‑nos a nós também nessa viagem) pelos labirintos de uma cultura cheia de códigos mais ou menos impenetráveis para um estrangeiro. Uma cultura bem mais transparente para um adolescente familiarizado com os universos da manga e do anime do que para um adulto à procura de uma chave que se revela quase sempre lost in translation.»
— Carlos Vaz Marques

Cris

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

"As Primas" de Aurora Venturini

Último livro lido em 2023. Não sabia bem ao que ia ao pegar neste livro mas tinha já ouvido opiniões tão díspares que fiquei curiosa. Para além de ter ouvido também que foi este livro que deu a fama à autora aos 86 anos! Depois de muito escrever teve finalmente o reconhecimento que pretendia.

Da escrita e da trama em si ouvi críticas tanto positivas como negativas, como referi. O seu discurso corrido requereu atenção da minha parte e, como de costume, fiz um croqui das personagens para que elas mais facilmente mergulhem em mim.

Esta história leva-nos à Argentina dos anos 40 a uma família disfuncional, num meio desfavorecido, onde existem quatro primas que dão origem ao título. Primas que possuem todas algumas deficiências físicas maiores ou menores e, também psicológicas, algumas referidas, outras que o leitor supõe. Sabemo-lo através de Yuna, a protagonista e narradora, que descreve a família sem pejo em utilizar adjectivos fortes e algo pejorativos. Até a si própria descreve como sendo um pouco idiota, sem capacidade em pronunciar um discurso claro... Sair desse ambiente torna-se a sua prioridade.

Fiquei presa a este discurso "impróprio", tão cru, verdadeiro, sem filtro, muito gráfico e também à trama, toda ela cheia de surpresas. Gostei muito deste livro com poucas páginas mas cheio de vida! Um ambiente muito próprio, único.

Terminado em 31 de Dezembro de 2023

Estrelas: 5*

Sinopse 

A obra-prima de uma escritora catapultada para a fama literária mundial aos 85 anos. A história de uma família em que as mulheres procuram fugir à norma, com ecos de Lucia Berlin, Shirley Jackson e Carson McCullers.. . Na cidade argentina de La Plata, nos anos de 1940, conhecemos Yuna e Petra, duas primas que pertencem à mesma família disfuncional, precária e destinada à desgraça. Pela voz de Yuna, vemos um universo tortuoso de mulheres abandonadas à sua sorte, a braços com a pobreza, a deficiência, o delírio fantasmagórico e a pressão social. Para se evadir do cerco das histórias de ameaças, violações e homicídios, Yuna recorre à sua imaginação artística: a cada episódio de violência, pinta uma nova tela. Vendo na arte uma fuga ao estropiamento familiar, Yuna lança sobre o seu mundo um olhar selvático — ora cândido e perspicaz, ora violento e ensimesmado — e protagoniza uma história que desafia todas as convenções literárias. Aurora Venturini poderia ser uma das peculiares personagens dos seus romances, já que o seu percurso ficou marcado pelo fait-divers de ter vencido um concurso literário para novos talentos quando já tinha escrito dezenas de livros e se aproximava do fim da vida. Entre o romance de formação, a delirante autobiografia, o divertimento literário e a radiografia de uma época, As primas é uma obra que celebra, ao mesmo tempo, as dimensões universal e privada da literatura, revelando a desconcertante originalidade de uma autora que ousa colocar perguntas quase sempre cuidadosamente mantidas em silêncio. «Um romance perversamente genial.» Enrique Vila-Matas 

Cris

Para os mais pequeninos: "Adoro-te tal como és" de Pedro Vieira com Mikaela Ovén


Este livro, a meu ver, é para um leque variado de idades dos nossos pequenitos. Mesmo que ainda não saibam ler os pais podem ler estas histórias e falar sobre os temas que elas abordam.

São doze pequenas histórias sobre acontecimentos do dia-a-dia de alguns meninos e meninas que pretendem inspirar os pais e educadores a tocar em certos assuntos e a colocar situações que podem levar as crianças a experienciar sentimentos que, se não trabalhados, podem ser negativos e potencializar vivências e sentires negativos.

O medo que se pode sentir de algo aparentemente inofensivo. o lidar com a morte de algum ente querido, a falta de confiança e de segurança em tomar decisões que alterem as rotinas, a mudança e os transtornos que ela pode originar, o trabalhar a empatia, as ameaças, os castigos, as emoções que precisam de ser aceites e entendidas como a raiva, os afectos, o saber lidar com a frustração quando não conseguimos o que pretendemos, sem nos sentirmos menores por isso... São tantos os temas! E o melhor é que no final de cada histórias são colocadas algumas questões que devem ser conversadas com os miúdos por quem lhes conta a história, ou quem partilha com eles esses momentos.

As últimas páginas são dedicadas aos pais e educadores. algumas notas importantes para lerem antes de contarem a história.

Um livro que aconselho muito! Um espaço para uma boa conversa com os pequenitos.

Terminado em 4 de Fevereiro de 2024

Sinopse

O mundo é um lugar incrível e tu contribuis para isso ao fazeres parte dele!
Às vezes deparas-te com desafios difíceis e pensas que não serás capaz de os ultrapassar. Mas com a atitude certa e o apoio da família e dos amigos, vais conseguir lidar com essas situações.
As histórias deste livro contam como outros meninos e meninas duvidaram deles próprios, mas acabaram por resolver os seus problemas. Elas vão inspirar-te a encontrar a tua força interior, aquilo que faz de ti alguém muito especial. Mesmo quando estás triste e com medo, podes acreditar em ti e avançar!

Cris

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Resultado do Passatempo "Toca a comentar!" - Mês de Janeiro

Anunciamos o vencedor deste passatempo referente ao mês de Janeiro.

Este é o link para o post onde se encontra anunciado o passatempo.

Assim, através do Random.Org, de todos os comentários efectuados nesse mês, foi seleccionada uma vencedora! Foi ela:

Carla Sousa

Parabéns! Terás que comentar este post e enviar um email para otempoentreosmeuslivros@gmail.com até ao próximo dia 22, com os teus dados e escolher um de entre estes dois livros:

Cris

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

"O Grito de Guerra da Mãe Tigre" de Amy Chua

Se me ponho a pensar nos livros que tenho na estante por ler e que me poderiam trazer uma boa aprendizagem, entro em stress :)  Este já cá morava há muito, muito tempo! Peguei nele ao calhas quando arrumava um pouco as minhas estantes desorganizadas e o título, e as frases que constam na capa chamaram-me a atenção. Bastou abrir e ler umas páginas para querer ler o resto de enfiada!

"Até onde irá uma mãe para educar os seus filhos? Conheça a história de Amy Chua que tem provocado polémica em todos os países onde foi publicado".

O marido da autora é americano, judeu, e, antes de casarem, estipularam que a educação dos filhos seria feita por Amy, segundo os princípios em que ela tinha crescido. Não vos consigo falar neles sem que uma crítica a esses métodos esteja implícita nas minhas palavras. Situações houve que achei de uma crueldade imensa e sem sentido. A busca da melhor nota para todas as disciplinas, o pouco relacionamento fora da escola que as filhas do casal tinham com as colegas, as horas e horas passadas junto ao piano e ao violino...

A única razão pela qual tive esperança que algo mudasse foram as próprias palavras da autora no início desta obra: (...) "Pretendia ser a história de como os pais chineses são melhores a educar os filhos do que os pais americanos. Porém, em vez disso, é sobre um amargo choque de culturas, uma fugaz amostra de glória e sobre como uma menina de treze anos me fez sentir humilde."

Ainda agora não tenho palavras para explicar o que senti ao ler este livro. O choque de culturas é tão, mas tão marcante que dei por mim com o coração apertado por todas as meninas que são obrigadas a passar pelo exagero que a idealização do "filho perfeito" pode trazer. 

Gostei muito, mesmo muito desta leitura recheada de momentos em que a educação de uma mãe pela busca da educação perfeita pode chegar a extremos e a momentos a que não posso de deixar de chamar cruéis. Bárbaros, até. Fiquei muito impressionada.

A polémica referida na capa tem razão de existir.

Terminado em 26 de Dezembro de 2023

Estrelas: 6*

Sinopse

O Grito de Guerra da Mãe Tigre é a confissão de Amy Chua, filha de pais chineses, é uma brilhante professora de direito na Universidade de Yale,. A autora decidiu educar as filhas tal como tinha sido educada: com um grau de exigência absolutamente maníaco. Obrigou a mais velha a estudar piano, a mais nova a estudar violino. Quatro horas por dia e o dobro aos fins de semana. Proibiu a TV, os jogos de computador, as dormidas fora de casa, as peças da escola. E impôs que tivessem nota máxima em todas as disciplinas. Sophie cumpriu. Lulu revoltou-se. E a vida em família transformou-se num campo de batalha. O Grito de Guerra da Mãe Tigre é a história de um sucesso e a história de um fracasso. Narrado com uma honestidade arrepiante, com uma crueldade que choca, é pontuado por um humor que surpreende a cada página. Best-seller em todos os países onde foi traduzido, o livro obriga o leitor a repensar o papel que os pais desempenham na vida dos filhos.

Cris

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

A Convidada escolhe: Capitães da Areia

Capitães da Areia”, Jorge Amado, 1937

Este é o livro de Jorge Amado mais vendido em todo o mundo. A sua primeira edição foi apreendida e queimada em praça pública pelas autoridades do Estado Novo, tendo levado Jorge Amado a exilar-se posteriormente na Argentina e no Uruguai. Só em 1944, “Capitães da Areia” voltou a ter uma 2ª edição, a que se seguiram muitas outras quer no Brasil quer no estrangeiro.

Capitães da Areia” foi a obra escolhida pelo Círculo de Leitura da UNISSEIXAL para o arranque deste ano de 2024. Certamente porque se trata de pessoas que leram Jorge Amado quando eram jovens e que quiseram recordar uma leitura talvez já apagada na memória, ou relembrar uma leitura que dificilmente se esquece. Os Capitães da Areia são crianças abandonadas, rapazes órfãos entre os 8 e os 16 anos, que vivem do furto, do truque, da manigância para sobreviver. Sem casa, sem escola, sem progenitores nem familiares, o seu mundo é a rua, já que a sociedade os abandonou. Logo no início do livro, nas cartas à redacção do Jornal da Tarde, estas crianças e as suas actividades são pintadas com cores carregadas – “aventuras sinistras”, “actividade criminosa”, “tenebrosa carreira do crime”, “jovens bandidos”, “terrível chefe dos Capitães da Areia” – em contraponto com a adjectivação usada para referir os alvos dos jovens delinquentes – “linda criança”, “distintas famílias”, “trabalho honesto”, “ honrado comerciante”, ilustre chefe da Polícia”. Para “resolver” este problema da delinquência infantil lá estão os juízes, os polícias e os psicólogos que, ora se elogiam ora entram no jogo de passa culpas. No topo desta arquitectura, os reformatórios que apenas são denunciados por uma costureira de seu nome Maria Ricardina que, numa carta chama ao reformatório “inferno em vida” (pág. 28) ou o padre José Pedro que confirma as palavras de Maria Ricardina, dizendo que lá as crianças são tratadas como feras, o que, aliás, será confirmado mais tarde no inesquecível capítulo “Reformatório” (págs. 194 a 212).

Capitães da Areia” divide-se em três partes. A primeira em que nos são apresentados alguns dos jovens como Sem-Pernas, João Grande, o Professor, o Gato, Querido-de-Deus, Pirulito, Boa-Vida, Volta Seca, Barandão ou Almiro, com destaque para o chefe Pedro Bala. Viviam num velho trapiche abandonado, eram solidários na trapaça e no infortúnio, as suas gargalhadas eram ruidosas e livres e “a liberdade era o sentimento mais arraigado nos seus corações” (pág. 82). Sem regras, os seus planos eram fruto da oportunidade, da imaginação e da luta pela sobrevivência, mas eram leais e respeitavam o seu chefe natural.

A segunda parte do romance tem a ver com a chegada de Dora ao abrigo dos Capitães da Areia. Habituados a ver as meninas como meros objectos das suas pulsões sexuais e para quem o sexo significava “derrubar a negrinha no areal”, Dora, órfã de pais mortos pela epidemia de varíola, é poupada porque Pedro Bala assume o seu papel de chefe respeitado por todos. Dora, integrada no grupo dos Capitães da Areia, irá desempenhar um papel maternal naquele meio de crianças carentes que descobrem nela, pela primeira vez a mãe e a irmã que nunca tinham conhecido, e também uma brava companheira na luta pela sobrevivência. E o amor que ela desperta é descrito por Jorge Amado de forma muito bela e poética, inesquecível.

A última parte – Vocações – é o desenlace naquelas vidas de crianças, iguais no infortúnio, mas todas diferentes nos destinos que vão seguir. É inevitável, elas deixarão de ser crianças, vão crescer e irão seguir o seu caminho. Se uns seguem a via da malandragem, há quem concretize o seu talento para desenhar, quem siga o chamamento de Deus e venha a ser padre, quem se junte a Lampião “seu padrim”, quem ouça a voz do pai que morreu a lutar. Pedro Bala, filho de estivador morto com uma bala numa greve, tinha todas as características de liderança e a compreensão de que a mudança na sua vida e na vida dos que como ele só conheciam miséria, violência e exclusão passava não pela bondade, nem pelo ódio, mas pela luta. E é o caminho da luta organizada que Pedro vai seguir.

Queria, para terminar, destacar aqui um dos momentos do livro que mais me sensibilizou. O capítulo “As Luzes do Carrossel” quando aos meninos é dada a oportunidade de experimentar um velho carrossel: “Todos estavam silenciosos. Um operário que vinha pela rua, vendo a aglomeração de meninos na praça, veio para o lado deles. E ficou também parado, escutando a velha música. Então a luz da lua se estendeu sobre todos, as estrelas brilharam ainda mais no céu, o mar ficou de todo manso (talvez que Yemanjá tivesse vindo também ouvir a música) e a cidade era como que um grande carrossel onde giravam em invisíveis cavalos os Capitães da Areia. Neste momento de música eles sentiram-se donos da cidade. E amaram-se uns aos outros, se sentiram irmãos porque eram todos eles sem carinho e sem conforto e agora tinham o carinho e conforto da música. Volta Seca não pensava com certeza em Lampião neste momento. Pedro Bala não pensava em ser um dia o chefe de todos os malandros da cidade. O Sem-Pernas em se jogar no mar, onde os sonhos são todos belos. Porque a música saía do bojo do velho carrossel só para eles e para o operário que parara. E era uma valsa velha e triste, já esquecida por todos os homens da cidade” (pág. 73)

21 de Janeiro de 2024

Almerinda Bento